18 de julho de 2010
O Rapto
Ao regressar de um baile, a carruagem de Lilith é assaltada por um bandoleiro.
Na verdade, trata-se de Lorde Perth, o noivo que ela abandonou no altar há 10 anos.
Na época, ele não possuía fortuna e a família dela encontrava-se à beira da ruína. Para salvá-los da miséria, Lilith abriu mão do grande amor da sua vida e desposou o abominável Lorde de Lisle. Agora, ela é viúva e Perth, movido pela vingança, a seqüestra com o objetivo de seduzi-la.
Capítulo Um
— Levante e renda-se!
Lillith, Lady de Lisle, reconheceu a voz imediatamente.
Jason Beaumair, Conde de Perth.
Ela não precisou olhar através da janela da carruagem para visualizá-lo. Taciturno, com frisas prateadas nas têmporas e cabelo da cor do ébano, ele assombrava os seus sonhos. Uma cicatriz, adquirida em um duelo pela esposa de outro homem, recobria a face esquerda. Ela foi — ou era — tal esposa.
Um calafrio de premonição deslizou espinha abaixo.
O que pretendia ele, ao deter a sua carruagem aqui em Hounslow Heath?
Decerto não precisava das jóias dela. Era tão abastado quanto um sultão.
Que jogo arriscado jogava o conde?
— Ei, cocheiro — ordenou a imperiosa voz de barítono de Perth
— Desça com as mãos ao alto e vazias. E você… isto mesmo, você — acrescentou enfático para o único pajem.
— Largue a pistola ou o cocheiro pagará por seus atos.
Lillith entreabriu a cortina de veludo a tempo de ver o pajem largar a pistola. Perth assentava-se tranqüilo sobre um cavalo magnífico, um revólver em cada mão apontado para o cocheiro. Só mesmo o conde para reconhecer bons cavalos e não se importar com quem mais soubesse que o animal que montava era demasiado elegante para um salteador.
Ao menos, o sujeito usava uma máscara para cobrir o rosto. Acaso a sociedade ouvisse rumores da sua mais recente peripécia envolvendo-a, todos os escândalos de outrora seriam reavivados. Ela não tinha certeza se a própria reputação lograria resistir a outro assalto do conde. A única coisa que preservou seu bom nome da última vez foi a posição social do marido.
Ninguém ofendeu De Lisle deliberadamente: o homem conhecia gente demais na corte.
Entretanto, como viúva, ela não mais contava com a proteção do marido falecido.
E Deus sabe que, se o irmão dela tentasse preservar seu bom nome, ambos seriam escorraçados de Londres sob gargalhadas.
— Você, dentro do veículo — ordenou a voz lânguida de Perth.
— Saia e fique onde eu possa ver melhor o resultado da minha ação.
Ele permanecia arrogante como sempre. Era seu maior defeito e seu maior charme.
Ela frustrou-o apenas uma única vez na vida e passou um longo tempo arrependida.
Com um suspiro e um sorriso sutil curvando-lhe os lábios, ela apertou a capa para proteger-se da friagem noturna e desceu. O verão há muito se fora.
Uma brisa gélida fustigou os cabelos louros platinados, desfazendo os cachos intrincados nos quais a ama passou tantas horas caprichando.
Os pés calçados em babuchas afundaram na grama úmida.O couro fino ficaria manchado. Não importava. Um par de babuchas arruinadas não significava nada.
Uma grande fortuna foi o único benefício que ela recebeu por desposar De Lisle.
Ela fez uma mesura brejeira, sem jamais desviar o olhar da fisionomia arrogante de Perth. Ele lançou-lhe um sorriso sinistro, os majestosos dentes brancos reluzentes sob a luz pálida da lua cheia. Houve uma época em que aquela expressão no rosto dele a assustava. Agora a excitava. Ela era uma criança na primeira vez em que o enfrentou, ignorante e facilmente manipulada pela família. Era uma mulher agora, pronta para ele.
Os olhos dele cintilaram.
— Venha cá.
Ela retribuiu o olhar sem titubear.
— Acho melhor não.
Usando os joelhos, ele incitou a montaria a avançar, estacando apenas ao chegar perto o suficiente para que ela conseguisse sentir o odor almiscarado do animal.
— Venha cá — repetiu ele, um toque de afeto enfatizando as palavras.
Ela balançou a cabeça.
— Estou a caminho de casa e sem nenhuma disposição para frivolidades.
Os olhos dele aguçaram.
— Não se trata de nenhum assunto frívolo, madame. E falo sério.
Sem uma palavra, ele deu um tiro nos pés do cocheiro que saltou do assento e postou-se diante dos dois cavalos que puxavam a carruagem. O velho servo pulou para trás quando a lama se espalhou pelas botas.
A indignação fez Lillith dar um passo à frente.
— Você foi longe demais.
— Não longe o bastante — declarou Perth. — Venha cá ou a próxima bala penetrará a carne dele.
Lillith encarou aquele olhar implacável com outro.
— Você é um canalha, senhor, sem quaisquer escrúpulos.
Ele curvou-se numa breve cortesia.
— Você sempre foi observadora, assim como ambiciosa.
A frieza no tom dele fê-la recuar.
— Acabe logo com isso e siga o seu caminho. Estou farta dessa pantomima inconveniente.
— Isto não é uma pantomima, Lady de Lisle. Pretendo tomá-la como prisioneira.
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