31 de março de 2013
Véu Da Inocência
Ele é um homem de segredos.
Ela, uma mulher de mentiras.
Quando um comerciante misterioso e sedutor chega à casa da nobre Katrine de Gravere, ela reluta em lhe dar abrigo, mas finalmente cede.
Afinal, receberia como pagamento lã suficiente para manter seus preciosos teares cheios.
Dormindo debaixo do mesmo teto e a cada minuto tentado a acariciar os cabelos vermelho-fogo da inocente e reservada mulher, Renard se pergunta se ela suspeita de suas verdadeiras razões para estar ali.
Em uma cidade onde ninguém está a salvo, Katrine desperta nele desejos proibidos.
Renard poderia estar, seguro de que ela não iria traí-lo ?
Capítulo Um
Flandres, Países Baixos, primavera de 1337
O coração de Katrine batia acelerado, e ela percebeu um tom de ameaça na voz do homem cujo rosto não via por causa das sombras.
— Você é que sabe — disse ele. — Posso lhe arranjar a lã de que precisa, mas se deixar passar esta oportunidade... — Ele deu de ombros e, com o corpo, tapou a entrada do sol da manhã na sala de tecelagem.
— Existem outros compradores por aí.
— Todo tecelão em Ghent estará disposto a comprar lã — tentou falar Katrine sem tremer.
Isso não era segredo para ninguém. Privados da lã, a cidade de tecelões estava morrendo de fome.
Assim, quando um estranho afirmou que podia encontrar pele de carneiro para seus teares, ela resolveu ouvi-lo.
Ele não precisava de Katrine, mas ela queria a lã dele. Queria desesperadamente.
Com os braços cruzados, o contrabandista encostou- se na parede tão à vontade que parecia o proprietário do lugar.
— Decida, moça. Ou aceita negociar comigo ou vai morrer de fome. Apoiando-se no tear, ela sentiu o corpo encostar-se a uma peça vertical, como se fosse uma mártir.
Ela passou a dedilhar os fios para se distrair. Os fios tremiam sob os dedos.
Não deveria ceder facilmente, caso contrário, não poderia negociar o preço.
— Você não tem sotaque do povo de Ghent. — Ela não sabia nada sobre o homem nem o nome dele. — Onde é sua casa? A luz do sol bateu no seu cabelo castanho.
De início, ele nada disse, e ela chegou a se perguntar se a tinha ouvido. Mas depois ele falou.
— Nasci em Brabante. Sua resposta parecia satisfazê-la. O ducado vizinho era um dos seis feudos localizados perto do canal entre a Inglaterra e a França.
Deveria, ao menos, saber que tipo de bens ele oferecia. Katrine passou a mão pelo tecido e sentiu sua maciez.
— Costumo usar apenas tecidos finos. Sou exigente para comprar. Sua lã é inglesa ou espanhola?
— Inglesa.
— Ótimo. Katrine começou a caminhar de um lado para o outro, como se considerasse as opções.
Era melhor não perguntar como ele a conseguiu. O rei da Inglaterra havia embargado todos os carregamentos nos últimos nove meses.
— Onde foram criadas as ovelhas? Eu prefiro a lã das ovelhas criadas por monges cistercienses, da Abadia de Tintern, mas também aceito lã de Yorkshire.
— Aceita? — Ele achou graça. — Você vai aceitar o que eu lhe oferecer, pois não tem escolha.
Minha Santa Catarina, o que devo fazer? Já tinha negociado com as maiores tecelagens de lã.
Havia batalhado por lã de animais criados nas costas, e até orientado seus tecelões a fabricar um tecido de trama mais frouxa, na esperança de melhorar o produto final.
Não havia mais nenhum truque. Já tinha até pedido ajuda ao seu insensível tio.
Agora ela temia ficar sem trabalhar, até seu pai voltar, caso não confiasse nesse estranho misterioso.
Ao menos, as mãos grandes de dedos longos desse estranho pareciam confiáveis e até familiares.
— Quanto pode me conseguir?
— Talvez um saco.
— Isso é material que um tecelão usa em uma semana — comentou Katrine desapontada.
—É mais do que você tem agora.
— E se eu concordar, qual é o seu preço?
— Vinte e cinco libras de ouro por saco. Adiantadas.
— Quinze. — Se soubesse negociar, o ouro que seu pai havia deixado daria para comprar três sacos de lã. — E na entrega.
— Vinte e oito.
— Mas você tinha dito 25 antes.
— E amanhã, se eu quiser, direi que o preço é 30. Não tente barganhar comigo, moça. Você não tem nada para barganhar.
Pela primeira vez, ela conseguiu ver os olhos dele, azuis. E ele piscou para ela.
— Ou talvez tenha — disse ele. Alguma coisa a mais do que simplesmente medo mexeu com ela. Algo que tinha a ver com ele.
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