16 de março de 2015
A Dama de Companhia
Sozinha, com fome e frio, Jacoba sentia-se triste e cada vez mais infeliz no trem que a levava para a Escócia, rumo a um destino desconhecido.
Filha de uma antiga família inglesa, estava órfã e falida, precisando se empregar como governanta de um velho senhor, o conde de Kilmurdock, chefe de um poderoso clã nas Terras Altas.
Quase chorando, Jacoba lembrava-se dos tempos em que era feliz ao lado dos pais, em sua bela mansão no interior da Inglaterra. Agora, sem parentes e amigos, tinha medo, muito medo, de nunca mais poder encontrar carinho sincero, paz e felicidade!
Capítulo Um
1879
Jacoba correu mais uma vez os olhos pela sala vazia de móveis e quadros. O sol que brilhava forte no jardim e atravessava as vidraças em forma de losango tornava mais desolador ainda aquele cenário.
Impossível acreditar que depois de toda uma vida desfrutando do luxo daquela mansão estilo Tudor, onde fora tão feliz ao lado de seus pais, agora nem sequer tivesse para onde ir.
A casa ficava no fim da vila, circundada por um muro grande de pedras. Toda a propriedade pertencia a seu tio, lorde Bresford.
Jacoba conhecia cada árvore do imenso jardim, cada declive do terreno onde a água da chuva se acumulava formando poças que eram a delícia das crianças. Aprendera a amar as baias dos cavalos e o riacho que cortava o jardim.
Tudo aquilo fora parte de uma infância alegre e feliz, cenário das mais belas recordações que trazia na memória.
Até que acontecera a catástrofe — não havia outra forma de dizê-lo. Todo o seu mundo viera abaixo ao receber a notícia de que seu pai e seu tio estavam mortos, vítimas de um acidente com o trem que voltava de Londres.
Quando sua esposa ainda vivia, o pai de Jacoba era um homem feliz, às voltas com seus cavalos, sua caça e ocasionalmente pescando salmão no rio Avon. Quando ela se foi, porém, deixou-o sozinho exceto por Jacoba, na época com quinze anos de idade apenas.
Desde então ele passara a ir regularmente a Londres na companhia do irmão, lorde Bresford, um solteirão inveterado.
Dezoito anos mais velho que o pai de Jacoba, sempre fora alvo das maiores críticas. Na vila comentavam seu comportamento libertino com belas mulheres da sociedade, porém, de moral duvidosa, bem como com as moças de um mundo um pouco mais "subterrâneo".
Jacoba sempre ouvira tais comentários, porém eles nunca a preocuparam, exceto quando seu pai passou a ser companhia constante do tio nas viagens a Londres.
Tanto um quanto o outro viviam prometendo levá-la na próxima viagem que fizessem, porém isso nunca aconteceu, e à medida que os anos foram passando esse compromisso foi ficando cada vez mais esquecido.
Porém o que mais a incomodava era ver seu pai procurando por toda a casa objetos de valor que pudessem ser vendidos sempre que voltava de Londres. E foi com grande surpresa que ela descobriu que seu tio fazia exatamente o mesmo.
— O senhor vai ter coragem de vender essa salva de prata, papai? — Jacoba protestou um dia. — Ela foi presente de um padrinho a mamãe, e originalmente pertenceu a George III.
— Posso conseguir um bom preço por ela — fora a resposta que ele lhe dera. — E estou precisando do dinheiro.
— Mas por quê? O que o senhor comprou que seja assim tão caro?
— O problema não é o que comprei, mas sim o quanto gastei! — ele respondeu. — Em Londres tudo é pelo menos cinco vezes mais caro do que no interior. Talvez seja difícil para você compreender, mas existem mulheres que têm o poder de arrancar como que por encanto até o último centavo do bolso de um homem.
Ele tinha razão, era mesmo difícil compreender tal coisa.
Mesmo assim Jacoba preferiu não tocar mais no assunto, nem mesmo quando os espelhos Queen Anne foram retirados das paredes. Por fim até as jóias de sua mãe desapareceram de dentro do cofre.
Quando fez dezoito anos Jacoba viu renascer dentro do peito a esperança de que seu pai a levasse para conhecer a tão falada Londres.
Claro que ele não estava em condições de oferecer-lhe um baile, mas talvez pudesse apresentá-la às belas damas que apareciam nos jornais, patrocinando festas enormes, recepções e bailes todas as noites. Mas eram vãs suas esperanças; o pai continuava ausentando-se na companhia do irmão apenas.
Livro muito romântico, lindo adorei a historia.
ResponderExcluirMuito bom o livro , romântico e bem leve .adorei!
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