Série Índias Brancas
Eu não sou huinca, capitão, faz tempo que fui.
Deixe que volte para o Sul, deixe-me ir para lá.
Meu nome quase o esqueci: Dorotea Bazán. Eu não sou huinca, índia sou, por amor, capitão.
Falta-me o ar do pampa e o aroma dos acampamentos ranqueles
O cobre escuro da pele de meu senhor, Nesse império de ervas daninhas, couro e sol.
Você se assombra, capitão, que eu queira voltar, Um grito de malón reclama a minha pele. Tornei-me Índia e agora estou mais cativa que ontem. Quero ficar na dor do meu povo ranquel. Eu não sou huinca, capitão, faz tempo que fui. Deixe que volte para o Sul, deixe-me ir para lá.
Capítulo Um
Uma vontade poderosa
Na tarde em que Laura Escalante recebeu o telegrama do padre Donatti não pôde evitar que sua mãe, suas tias e sua avó se inteirassem. Inclusive teve que lê-la em voz alta. O sacerdote o despachou na vila de Rio Cuarto, onde se localizava o convento franciscano no qual ele e Agustin viviam há quase cinco anos.
As quatro mulheres permaneceram caladas, enquanto Laura repassava as linhas em silêncio. Ao levantar o olhar, descobriu o semblante sombrio de sua mãe, esse cenho tão bem conhecido e que lhe deu a entender que esquecesse o que acabava de ocorrer.
—O carbúnculo é muito contagioso —informou tia Soledad.
—E em certos casos, mortal —adicionou tia Dolores, com ar de pitonisa do oráculo.
—Não irá vê-lo —expressou Madalena, a mãe de Laura.
—Essa ideia passou pela sua cabeça? —perguntou a avó Ignacia, com esse acento madrilenho que, depois de quase cinquenta anos em Buenos Aires, não perdia por orgulho.
—Agustin é meu irmão —tentou a moça.
—Meio irmão —atacou Soledad.
—E filho de uma qualquer —completou Dolores.
—Bom, bom —interviu Madalena, que preferia não se lembrar da primeira mulher de seu marido, nem sequer para insultá-la; ela já tinha o suficiente com seus ciúmes e rancores. — O certo é que não irá, eu não posso acompanhá-la e você sozinha não coloca um pé fora desta casa.
Em outra ocasião Laura teria começado uma discussão, poucas coisas a estimulavam tanto como polemizar com “o quarteto de bruxas”, apelido que Maria Pancha, a criada, usava para referir-se às patroas mais velhas. Desta vez, o desânimo pela notícia da doença de Agustin a guiou ao interior do casarão, submissa e calada, com os olhos quentes e a boca trêmula. As mulheres a contemplaram partir e logo retomaram seus bordados.
—Quem avisará Escalante? —falou Soledad, que se animou em expressar o que as outras não faziam.
Os olhares se voltaram a Madalena, que continuou debruçada em seu trabalho de renda5 em bastões.
—Faz anos que Escalante não fala com seu filho —expressou a modo de desculpa e sem levantar o olhar—. Desde que Agustin fez seus votos —acrescentou, como se suas irmãs e sua mãe não soubessem.
—Que homem tão ímpio! —soltou Ignacia, expressão que sempre usava para manifestar a aversão por seu genro. Em outros tempos não tinha sido assim, mas isso foi há muitos anos.
—Se tia Carolita estivesse aqui, ela poderia escrever para ele.
Série Índias Brancas
1 - Índias Brancas I
2 - Índias Brancas II
Série Concluída
Amo os livros da Florencia, fiquei super feliz quando vi que traduziram Indias Brancas. Vou aguardar o segundo para ler os dois de uma vez.
ResponderExcluirAinda em choque!!!
ResponderExcluirEsse é o meu romance favorito.
ResponderExcluir