24 de fevereiro de 2018

Recomeçar

Espanha e Inglaterra encontram-se confrontadas pela cobiça e pelo poder provocados pela religião, pelo Caribe e pelas riquezas do Novo Mundo. 

Na terra e no mar a destruição e a morte são moeda corrente em um mundo caótico.
Uma tormenta e um naufrágio vão unir a vida de dois inimigos: Sara e Salvador, uma inglesa e um espanhol.
O ódio, o medo, a desconfiança e os prejuízos não impedirão que o amor cresça em seus corações, mas será suficiente para superar tantas barreiras e desafiar o mundo? Poderá esse amor ser tão forte que lhes permita ficarem juntos e ao mesmo tempo ter a liberdade?

Capítulo Um

Estado de York, Inglaterra

1586
Sara Redford caminhou com passos rápidos pelos corredores de pedra, do convento de Sant Mary, com o olhar ausente, sem prestar atenção ao restante das pupilas, noviças e monjas que passeavam pelos jardins ou conversavam sob o teto côncavo das galerias. Fazia mais de um ano que não recebia notícias de seu pai e a abadessa Leonor chamou-a até sua sala porque recebera uma carta dele. A situação não a preocuparia tanto se somente tivessem entregue a carta para ela, como em ocasiões anteriores, mas desta vez resultou diferente e isso a inquietou. Apertou os lábios e apressou o passo, desejando que fossem boas notícias, rogando poder voltar para seu lar, rezando para sair dali.
Chegou ao convento aos oito anos, logo depois de uma longa e aborrecida viagem até o estado de York, ao norte da Inglaterra. 
Seu pai, Jonathan Redford, nunca explicou a decisão de mandá-la, sozinha, para este lugar, mas ela sempre suspeitou que a morte prematura de sua mãe foi um dos principais motivos, talvez o único. Sara possuía algumas lembranças imprecisas da casa da cidade onde nascera, mas o que jamais pôde esquecer foram os anos maravilhosos que viveu no campo, rodeada por seus pais e de ladeiras verdes com altas árvores. Quando completou sete anos seu pai decidiu mudar do campo à cidade, para que sua filha aprendesse maneiras e fosse instruída nos hábitos e costumes da corte inglesa. 
Entretanto, Sara recordava-se que em pouco tempo retornaram novamente para o campo e que a partir dali tudo aconteceu de maneira precipitada: a morte de sua mãe, a viagem interminável e a chegada ao convento.
Um ano em sua vida que sempre quis esquecer, mas que a lembrança de seu pai, dos dias felizes no campo e do rosto querido de sua mãe dificultavam. Não podia apagar de sua memória quem era e como chegara até ali.
Jonathan Redford nunca pertenceu à nobreza, nem gozou de títulos. Fez sua fortuna ajudando seu pai no comércio de diversos produtos entre as cidades próximas a Londres e relacionando-se com mercados franceses. Mas o jovem e ambicioso Jonathan viu uma grande oportunidade de negócio no Caribe, e foi com essa acertada decisão que sua fortuna aumentou, a cada dia, e sua fama de bom comerciante cresceu até o ponto de despertar o interesse da rainha da Inglaterra. Por ela e por sua filha, mudaram-se à cidade. 
A rainha queria conhecer tão importante contribuinte da coroa, cuja esposa, comentava-se, que além de tudo era espanhola.
Sendo menina, Sara jamais suspeitou que o casamento de seus pais fosse polêmico, tanto para a coroa quanto para os habitantes de Londres, mas ao crescer e escutar as notícias que traziam as criadas, do mundo externo para o convento, compreendeu que não era habitual nem aceito o matrimônio de um inglês com uma espanhola.
Blanca Mendoza, sua mãe, vivia em uma das ilhas caribenhas, descobertas pelos espanhóis, quando conheceu Jonathan. Os espanhóis, após a proibição do comércio com outras ilhas que não pertencessem à sua coroa, se viram obrigados a recorrer ao contrabando para aumentar suas riquezas e manter o negócio. Além disso, desse modo, evitavam perder a totalidade de seus produtos para as mãos de piratas ingleses. O
 pai de Blanca fez o acordo de comercializar com Jonathan, pelas ilhas caribenhas, objetos e sedas trazidos da Inglaterra em troca de ouro e prata extraídos das vísceras do Novo Mundo, quando os jovens cruzaram olhares, fugazes e ardentes, no escritório do espanhol. 
O inglês prolongou sua estadia na residência de Mendoza o quanto pode, mas outros negócios requeriam sua presença e, muito ao seu pesar, organizou sua fragata para a iminente partida.
A jovem espanhola, cativada pelos olhos claros e os modos encantadores e corteses do inglês e, além disso, cansada de viver naquela ilha rebelde, rodeada de selva e seres selvagens, empacotou dois ou três objetos, suas joias e fugiu, à noite, para o navio inglês. 
No amanhecer seguinte, Jonathan zarparia para a Inglaterra. Quando Dom Mendoza descobriu que sua filha não estava na casa nem em nenhum lugar da cidade, os jovens encontravam-se a um dia de distância, navegando felizes sobre o mar.

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