29 de julho de 2018

Uma Paixão Francesa

Um emocionante romance de amor durante os tempos da Revolução Francesa. 

Uma heroína seduzida e ultrajada por um elegante cavalheiro a quem não pode esquecer. Uma luta desenfreada para recuperar uma paixão que só nos braços daquele desconhecido pode encontrar.
Uma mulher disposta a arriscar, inclusive, sua própria vida para alcançar um sonho de amor…
Manon d'Epinay está a caminho de Paris para se casar com um dos mais poderosos nobres da França, um conselheiro do rei Louis. Mas a caminho, sua carruagem é atacada por revolucionários assaltantes. Para salvar sua família, Manon luta por um acordo com um demônio sedutor que selará seu destino. Pois a revolução está prestes a atingir a França e transformar sua vida para sempre.
Uma Paixão Francesa é a história vibrante de três pessoas ardentes em um momento decisivo na história: Manon, uma aristocrata atrevida e empobrecida entre dois homens carismáticos, que faz o que precisa para sobreviver; André, cujo passado está coberto de mistério e que arrisca sua vida para proteger a mulher que ama enquanto luta para trazer justiça e igualdade a seus compatriotas; e o Comte de Crequi, vinculado pelas antigas leis de nobreza e classe, cujas paixões por seu país e por Manon são mais profundas do que qualquer um poderia ter imaginado.

Capítulo Um

― Não deveríamos estar viajando com esta escuridão. ― gemeu tia Thérése, retorcendo seus gordinhos e enluvados dedos. ― Deveríamos ter chegado ao hotel de Poste faz duas horas.
― Duas horas ― disse. ― Que coincidência, é o tempo que precisámos esperar para que ferrassem o cavalo!
Meu esforço por acalmá-la com uma brincadeira não deu resultado. Tia Thérése continuou, com voz tremente:
― Nestes dias há muitos bandidos! Assaltantes de caminhos.
Era verdade. Corriam rumores de que havia bandoleiros, especialmente na rota Paris-Reims. Tia Thérése, como se quizesse jogar uma olhada aos supostos assaltantes, espiou pelo guichê da nossa velha carruagem, eu e Jean Pierre nos voltamos involuntariamente. Vários quilômetros atrás, ao deixar a ferraria, os lampiões da carruagem tinham sido acesos. Sua luz fumegante, velada pela espessa chuva, foi tudo o que pudemos ver.
Os cavalos patinaram em um pântano. Saltamos todos de uma vez, tia Thérése contra mim: Jean Pierre, que ia sentado em frente, esticou o braço para segurá-la.
― O que foi isso? ― Disse ela, sem fôlego pelo terror.
― Nada, tia ― disse ― os camponeses não cumprem com suas tarefas nos caminhos, isso é tudo.
― Às vezes, os ladrões cavam uma fossa para atrasar os viajantes… Ao menos é o que dizem.
Tia Thérése, nossa tia avó, era muito bondosa. E muito antiquada. Sempre estava citando ditos e frases.
― Diga-me, tia ― perguntei, ― que ladrão em seu são juízo desafiaria esta tempestade para roubar uma carruagem deteriorada?
― Manon, ― repreendeu-me ela ― não deve brincar com as coisas sérias. Logo vai se casar.
Ao ouvir a palavra casar tive um estremecimento involuntário. E meu irmão, que sabia tranquilizar muito melhor que eu, disse com sua musical voz de tenor:
― Por este caminho passaram soldados.
― Jean Pierre, isso é exatamente o que quero dizer ― exclamou ela. ― Patrulham por causa dos bandidos. Na última parada falavam de um caso terrível acontecido faz uns dias. Os viajantes, um barão, sua mulher e sua irmã, foram despojados de tudo. Mataram o barão. As senhoras foram ― se interrompeu, e me lançou um olhar antes de prosseguir em voz baixa. ― Foram maltratadas.
― O triste ― disse ― é o fato do barão estar morto, mais do que das damas maltratadas!
― É muito jovem para entender o que estou dizendo, Manon ― e a adorável e gorda solteirona, com o espartilho tão ajustado que logo não poderia respirar, levou a mão ao coração, sobre sua capa de viagem. Tia Thérése acreditava firmemente que eu, que tinha vivido dezesseis anos entre os animais de minha granja, ignorava o que fazem um macho e uma fêmea.
Na penumbra encontrei o olhar de Jean Pierre. Piscou-me um olho. Fiz todo o possível por não soltar uma gargalhada.
Querido, querido Jean Pierre. Irmão, amigo, minha única família. Faria quaquer coisa por ele. Quando eu tinha três anos e ele quatro, nossos pais morreram de cólera no mesmo dia, e ser órfãos nos uniu mais do que à maioria dos irmãos e irmãs. 
Jean Pierre era o mais velho, mas eu sempre o tinha protegido. Sua saúde era delicada. Com frequência tinha febre, sofria ataques de tosse e enxaquecas e, durante estas enfermidades, eu permanecia em seu quarto escuro, cuidando-o. 
Devido as dores de cabeça, muitas vezes não estudava as lições, e eu o escondia entre as cortinas de minha cama, protegendo-o da régua do nosso tutor quase cego. Para ser sincera, a enfermidade não era o único motivo pelo qual Jean Pierre desatendia suas lições. 
Ambos tínhamos herdado o amor à diversão dos D’Epinay. Juntos, vadiávamos nos córregos, deslizávamos pelos montões, galopávamos nos gordos cavalos da granja, corríamos com os cães pelo bosque. Jean Pierre estava acostumado a cantar. Tinha uma voz maravilhosa e eu podia escutá-lo durante horas.
Na incerta luz pude ver o delicado arco de sua fronte, o orgulhoso ângulo de sua cabeça. Tinha o aspecto de um aristocrata e o era. 
Em tempos passados, os D’Epinay, tínhamos sido ricos e poderosos, mas várias gerações tinham ido vendendo as granjas e as propriedades de campo para pagar formosos vestidos ou uma noite de jogo ― os D’Epinay, dizia a gente, nunca renunciavam a um gosto. E agora, em 1785, a herança do Jean Pierre era uma desmantelada casa hipotecada, com um telhado de ardósia, que caía. 
E eu possuía as opalas dos D’Epinay, um colar normalmente escondido na gaveta secreta de um banco, que agora se encontrava sob as volumosas saias de tia Thérése.
Nossa pobreza nunca me tinha incomodado.
Jean Pierre, em troca, estava acostumado a falar com veemência de um milagre futuro, quando de algum jeito a fortuna dos D’Epinay voltaria e ele poderia acotovelar-se novamente com a grande nobreza da França. Nossa casa, nossas roupas pobres, faziam-no infeliz. Estranho.
 Em geral, era Jean Pierre quem recusava abertura às coisas desagradáveis. Via o lado bom de tudo. Inclusive quando caia de dor durante um ataque de febre, dizia: Por sorte não terei que estudar essas condenadas lições. Estas duas coisas foram a causa de que Jean Pierre aprovasse meu matrimônio com o conde do Créqui.
Era tia Thérése quem nos tinha recolhido, quando nos tornamos um par de órfãos chorosos e assustados, tinha-nos abraçado contra seu brando peito perfumado de baunilha e nos tinha criado. Mas nosso futuro era o conde de Créqui.
O conde de Créqui era um dos grandes nobres que rodeavam o rei. Caçava com o rei, viajava na carruagem do rei, aconselhava o rei. O conde nos tinha visitado uma vez, quando nossos pais morreram, e eu o recordava como uma figura alta, negra e resplandecente, com uma peruca branca como a neve.
Aquele mês de maio, quando se celebrou meu aniversário, havia tornado a nos visitar. A sensação de estatura que pode ter uma criatura de três anos não é de confiar. 
O imponente vulto dos ombros e o peito do conde de Créqui se seguravam fracamente sobre umas pernas curtas e magras. Uns olhos vivazes iluminavam sua cara de macaco inteligente. Em que, pese a sua fealdade, irradiava linhagem e presença. Sua casaca de cetim negro brilhava com botões incrustados de diamantes. Seu pescoço se movia facilmente dentro de sua camisa com séries de encaixe. Tinha a cortesia quase brutal de um homem que sabe que pode obter tudo o que deseja: mansões, formosos cavalos, mulheres fáceis. Era viúvo.
Tinham arrumado para mim o vestido de seda verde que tinha sido de minha mãe. Meu cabelo, tão loiro que parecia empoado, caía em cachos sedosos. Tia Thérése, ao me examinar antes da refeição, tinha lançado exclamações, comentando minha delicada figura, meu cabelo de um loiro prateado, minha fronte alta, minha pele branca, minhas faces rosadas, o verde de meus olhos, acrescentando que devia cobrir o decote com um lenço.
― OH, tia ― exclamei, ― não seja tão antiquada!



Um comentário:

Oiii você não vai sair sem comentar nada vai? Ou que tal indicar o que leu. Ou então uma resenha heheheheh...Todo mundo agradece, super beijo!