27 de novembro de 2018

Uma Imperfeita Flor Inglesa

Elena, a antiga herdeira da casa MacGowan, é uma mulher forte apesar das queimaduras sofridas durante a infância que a mantêm afastada da sociedade vitoriana.

Quando seu tio lhe comunica que abandone seu lar compreenderá que sua vida se encaminha ao desastre. 
Mas sem dote nem um título jamais conseguirá um marido. Desesperada, reclamará seus direitos de nascimento, embora o resultado seja tão desalentador que ao cruzar uma rua não verá uma carruagem que se aproxima a toda velocidade. O chofer é um homem grosseiro e detestável. Um antigo conde francês, chamado Laramie Devereux, cuja tragédia pessoal marcou sua existência e da qual se diz que, graças ao contrabando de ópio, obteve uma enorme fortuna. Em um ataque de fúria o conde a julgará como mulher, e a achará imperfeita por causa das queimaduras.
Entretanto, o destino e uma partida de cartas os unirá de novo. Graças à insensatez de sua prima, Elena aproveitará o acusado desconhecimento das normas sociais de Laramie e idealizará um plano para lhe enganar.

Capítulo Um

Primavera de 1855, Londres.
Elena deixou de cantar uma canção irlandesa quando escutou como seu tio entrava no salão de música. A voz da moça era embriagadora. Cada vez que Troy contemplava o cabelo dourado e os belos olhos verdes de sua sobrinha via Vitória, a mãe da Elena e a mulher que sempre amaria. Fugir dela foi a maior estupidez que cometeu em sua juventude. Por causa da falta de atenção de uma criança, uma vela prendeu as cortinas da mansão MacGowan e no incêndio seu irmão Robert e Vitória perderam a vida. 
Graças a um dos criados Elena se salvou, não sem pagar um grande preço. Observou a beleza murcha de sua sobrinha. As queimaduras de seu queixo caiam até o ombro. Durante as mudanças de estação a via dolorida e sempre utilizava vestidos abotoados até o pescoço. Lamentou que fora ele quem tivesse que lhe comunicar a decisão que Rosalyn lhe tinha obrigado tomar. 
Casou-se com ela por despeito, em um arrebatamento de insensatez do que se arrependia cada dia de sua existência. Elena se levantou do tamborete do piano e confrontou seu tio que raramente lhe emprestava atenção.
― Bom dia. ― A jovem alisou as rugas da saia do vestido cinza que lhe deu um aspecto muito mais triste e desgracioso.
― Elena... ― durante um instante, olhou-a além da realidade, como se visse um fantasma. Sua sobrinha retirou o olhar, incômoda. ― Tenho algo que te comunicar, embora se estiver ocupada... ― a voz estridente do Rosalyn anunciou sua chegada.
―... é lorde MacGowan, por que pede permissão para falar? ― Troy apertou os punhos para controlar a ira, mas Rosalyn suavizou o discurso. ― Meu amor deve se acostumar a seu título. Os músculos faciais de seu marido se relaxaram.
― O que querem me dizer?
A moça fechou a tampa do piano com lentidão, com a única intenção de recuperar um pouco de integridade. O olhar vitorioso no rosto de sua tia não pressentia boas notícias.
― Deve partir desta casa ― lhe anunciou Troy. Elena se agarrou ao piano para evitar sentar-se de novo pela notícia. ―Já cumpriste a maioridade e pensamos que seria melhor que fosse viver com a senhora Turquins; era prima de sua mãe, é viúva e necessita de companhia. Suas... ― disse, e assinalou seu rosto ― queimaduras não lhe ajudarão a encontrar um marido e espantarão os futuros pretendentes de sua prima.
Troy havia proposto com clareza a expulsar de sua própria casa. As feridas a obrigavam a manter uma postura rígida. Em troca, seu tio estava caminhando pela sala com inquietação ante o olhar atento do Rosalyn.
― Por quê? ― perguntou consciente de que nada do que argumentasse se teria em conta. Não entendia no que prejudicariam suas queimaduras a Virginia. ― Nem sequer assistirei aos atos sociais aonde venha minha prima ― propôs esperançada.
― Por Deus! Não o faça mais difícil ― os olhos de seu tio se mostravam envergonhados pela decisão. Naquele momento, sua semelhança com Robert era evidente e muito mais doloroso para Elena. A jovem conhecia muito bem as vontades de Rosalyn por desprender-se dela. Para essa mulher era um lembrete perpétuo de lady Vitória. Toda a sociedade londrina a comparava com sua mãe e na comparação, sempre saía perdedora. Com os anos se converteu em uma ferida entrincheirada que agora curaria jogando na rua a filha de sua eterna competidora. Nada do que Troy dissesse a convenceria de que tomasse outra decisão.
― O que vou fazer? ― sussurrou em voz baixa ante a incerteza pelo futuro.
― É uma jovem preparada, seu tio te conseguiu um lugar onde viver. Se não for de seu agrado pode procurar um emprego como dama de companhia ou governanta ― adicionou Rosalyn com um sorriso de triunfo insalubre. Olhou a sua sobrinha e agarrou seus cabelos com uma mão ossuda repleta de anéis.
― Com certeza que sim ― respondeu, e apertou os dentes.
No fundo ambas as mulheres sabiam que ninguém em Londres a contrataria. Quem quereria um monstro como ela para ser uma dama de companhia ou governanta de seus filhos? 
― Nenhuma MacGowan trabalhará para ganhar o sustento ― sentenciou Troy, ao menos, isso o devia a Vitória.
Rosalyn acatou a decisão, mas em seus olhos se observou o ódio que ela sentia. Troy teria uma dura briga que não ganharia, embora nenhuma das consequências que derivassem dessa ordem lhe impediria de cumprir a promessa de manter a sua sobrinha.
Elena assentiu com uma inclinação de cabeça. Conhecia muito bem Rosalyn, ele não gastaria um centavo se ela insistisse nisso. Tinha vontade de gritar, de dizer a esses dois que ela era a autêntica lady MacGowan, a única herdeira dessa casa.
Ninguém a baniria como se fosse uma praga a um lugar perdido na metade do um nada. Conteve a vontade de chorar ao recordar aqueles espantosos dias depois do incêndio. Era a responsável pela morte de seus pais. Durante muito tempo os pesadelos lhe impediram de dormir. Ainda revivia aquela noite. 
No instante em que a vela prendeu as cortinas seu mundo se desfez como uma fina capa de gelo na primavera. O sorriso cínico de Rosalyn e suas bochechas maquiadas lhe davam um aspecto vulgar. Dizia-se que um verdadeiro MacGowan não rogaria, não deixaria que a vissem humilhada e afundada.
― Dispõe de um mês para organizar sua nova vida ― anunciou com satisfação. Sua tia ficou em pé, o encaixe das mangas lhe caiu como uma cascata de algodão sobre o colo. A forma colorida e carregada de vestir contrastava com o aspecto sombrio e discreto da Elena. A mulher observou com malícia a garota cuja beleza tanto prometia. Alegrou-se de que o destino tivesse concedido o posto que correspondesse a sua filha Virginia. Pigarreou duas vezes antes de anunciar que a reunião tinha concluído.
Eu...



2 comentários:

  1. Livro, o que acho estranho era que ninguém a queria por causa das cicatrizes, depois virou uma gata disputada. ...mas é romance tá valendo

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  2. Sinceramente o romance foi tenso...que crueldade sem fim. Não curti muito..eu até estava curtindo a mocinha,mostrou-se forte e destemida e no meio do conflito afroxou a corda...e o "mocinho" um completo idiota, preconceituoso.

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Oiii você não vai sair sem comentar nada vai? Ou que tal indicar o que leu. Ou então uma resenha heheheheh...Todo mundo agradece, super beijo!