16 de outubro de 2011

Pecado De Mulher




Bela e altiva, Marissa Ayres cresceu em meio à pobreza de uma humilde cidade mineira, determinada a escapar dessa vida de indigência.

Um dia, sonhava, conseguiria livrar-se da nuvem cinzenta que impregnava sua pele.
A oportunidade surgiu e Marissa não avaliou consequências ao fazer-se passar por uma amiga num casamento de conveniência.
Era sua chance de obter riqueza, nome, de trocar a negra fuligem que cobria seus sonhos por uma realidade dourada em San Francisco.
Bastava mentir, manter bem secreto seu passado.
Ian Tremayne nada queria de sua jovem esposa inglesa; o casamento resultara de uma infeliz promessa a um grande amigo.
Mas Marissa, com seus silêncios e seus mistérios, começou a instigá-lo a descobrir a verdade!

Capítulo Um

Yorkshire, Inglaterra Março de 1895
Quando o viu pela primeira vez, Marissa ainda não tinha dez anos.
Mas soube, de imediato, que nunca mais o esqueceria.
Fazia frio naquele dia, como sempre; naquela cidadezinha de mineiros a lenha era escassa e nunca provia o calor necessário às pequenas casinhas que abrigavam as famílias dos mineiros.
Talvez fosse por causa da falta de vidraça nas janelas.
No inverno elas eram vedadas com jornais ou trapos velhos.
Naquele ano a primavera viera acompanhada de pesadas chuvas, que de nada serviram para diminuir a negra e viscosa camada de fuligem que parecia ter-se instalado sobre toda a cidade.
O pó de carvão pairava sobre tudo, formando uma nuvem envolvente, penetrante e sufocante.
Nas raras vezes em que conseguia ver o céu azul, Marissa achava que estava em dia de festa.
Para ela, a vida só teria significado quando conseguisse escapar dessa nuvem escura.
Mas as chuvas simplesmente transformavam o pó em lama, igualmente negra e pegajosa.
No dia em que viu o estranho pela primeira vez, Marissa havia lavado e passado um vestido, determinada a deixá-lo tão branco quanto possível.
Havia também escovado e penteado os cabelos, uma massa ruiva e selvagem que lhe chegava quase até a cintura.
Tio Theo costumava dizer que seus cabelos pareciam o pôr-do-sol, mas, quando ela fora pela primeira vez à escola da aldeia, as outras crianças haviam rido, chamando-a de cenoura arrepiada.
Com o tempo, aprenderam a respeitá-la, mas não gostavam muito dela, devido a seu ar de princesa, como diziam.
Marissa achava que possuía seus direitos.
Afinal, era filha do pastor anglicano, e seus primeiros anos haviam sido passados de forma bastante diferente.
Havia tido um bom padrão de vida e era assim que pretendia viver quando crescesse. Marissa agarrava-se a esses sonhos como um náufrago se agarra a uma tábua perdida no meio do oceano.

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