9 de fevereiro de 2014

Coração Selvagem



Um encontro mágico... Um homem para não se esquecer!

Serena Rogan tinha saído da Irlanda em busca de um novo sonho na América. Mas como lavadeira num campo de mineração, ela só encontrou escravidão e sofrimento. 
Até que, arriscando a vida para salvar um grupo de mulheres sioux, ela entrou em um mundo cheio de amor, respeito e de... Lobo Negro.
Curandeiro lakota, Lobo Negro sonhava com o dia em que Serena, a mulher de cabelos vermelhos, deixasse de temê-lo. Estava determinado a provar-lhe que um homem podia ser tanto amigo quanto amante!

Capítulo Um

Território de Dakota, 1825

Fui largada aqui para morrer... Serena refletiu e mal ergueu a cabeça da vegetação áspera que cobria a margem do rio. Doía respirar, mas mesmo assim, ela tentou encher os pulmões de ar. Com esforço, soergueu-se nos braços. Começava a amanhecer, a luz empurrando para longe a escuridão do céu de setembro. Um arrepio percorreu-lhe o corpo. Jamais esqueceria essa noite. O rosto fino, com bigode, de Blackjack a espionava através da nebulosidade da dor.
A fim de afastar a imagem do rico minerador de ouro, Serena sacudiu a cabeça e forçou-se a não pensar nos ferimentos dos seios. Semicerrando os olhos verdes, observou o rio calmo que corria entre as colinas Negras de South Dakota. Como dedos trêmulos, o vapor subia da superfície e formava neblina sobre as margens. Wexford, sua terra natal na Irlanda, ficava tão longe. Ela encontrava-se na outra metade do mundo, violentada por um homem depravado e, depois, largada para morrer.
- Não! - murmurou.
Olhou para o vestido de algodãozinho azul claro e ralo. A blusa estava manchada de sangue dos ferimentos feitos por Blackjack e o tecido grudava-se na carne.
As últimas palavras dele ressoavam-lhe na mente: "Quero ter certeza de que nenhum outro homem há de querer pôr as mãos em você, sua bruxa ruiva".
Serena fechou os olhos. A dor emocional sobrepujava a física e ela revivia a cena na qual Blackjack cruzava o aposento trazendo o espeto de ferro em brasa da lareira. Sem querer, soluçou. Não tinha como abafar o terror. Por não se submeter às exigências do minerador, ele a tinha violentado vezes seguidas, tirando-lhe a virgindade e a dignidade.
Curvou a cabeça e apalpou os seios doloridos. Vinha de uma pobre família católica da Irlanda. Talvez seus cabelos vermelhos e flamejantes, tão sujos e embaraçados agora, anunciassem o espírito indomável que Blackjack tentara dobrar. O espírito era tudo que lhe restava, refletiu, atordoada com as ocorrências da véspera à noite. Sem haver ingerido a comida com narcótico, ela havia tentado fugir. Quase conseguira ultrapassar a porta e ganhar a liberdade, mas ele a tinha apanhado em flagrante. Enrolando a mão em seus cabelos compridos, a levantara do chão.
Serena mergulhou a mão na água límpida, o oposto de como se sentia por dentro. Suja. Imunda. Ansiava tirar o gosto de sangue da boca. Com dificuldade, ajoelhou-se.
Com as mãos em concha, lavou o rosto. Blackjack sempre exaltava sua beleza, ressaltando os imensos olhos verdes, os lábios polpudos e a exuberância dos cabelos vermelhos. Em vez de usar o espeto para marcar-lhe o rosto, ele tinha queimado seus seios.
Observou a faixa avermelhada no horizonte. A sua volta, o mundo acordava e os pássaros anunciavam um novo dia. Estou viva. De alguma forma, hei de vencer. Serena apanhou mais água e bebeu-a, sentindo-se melhor. Depois, rasgou um pedaço da barra do vestido e esfregou o pescoço, os braços e as mãos na esperança de tirar o cheiro de Blackjack que a lembrava dos terríveis meses de cativeiro.
Durante os meses em que fora prisioneira dele, Serena jamais tinha mostrado medo ou chorado. Ele havia encarado sua coragem como um desafio para dobrar-lhe o espírito, para fazê-la gritar de dor ou, pelos menos, chorar. Fracassando, ele a tinha acusado de bruxa e de não ter sentimentos. Serena baixou a cabeça e observou os brotos de capim. Um dia, ela também tinha sido como eles, pura e vulnerável.
- Nunca mais... 

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