17 de janeiro de 2021

Pelo Amor de uma Sassenach


Nunca se sabe de onde pode nascer o amor.

Olaird Ian nunca quis se casar, embora não tenham faltado pretendentes escocesas. Acabou aceitando um acordo que envolvia laços de matrimônios com inglesas, pensando em garantir tempos de paz a seu povo. Sua súbita concordância ouriçou seus compatriotas. A beleza da noiva era o ponto chave do acordo. Ele nunca imaginaria que seu coração se renderia à lady Alannah, linda por fora e fascinante de personalidade. E as paixões formaram uma areia movediça, nenhum dos dois conseguiu escapar... quanto mais se debateram mais fundo foram tragados...

Capítulo Um

Escócia, Castelo Kilchurn, Condado de Argyll, 14 de março de 1374
— Ela está aqui, Ian. Ian deu um longo suspiro. Cotovelos sobre a mesa de carvalho maciço, queixo em seus punhos fechados a sua frente, ele ficou por um momento olhando para o vazio. Suas feições regulares, quadradas e poderosamente viris se endureceram imperceptivelmente. Seu olhar de cobalto escureceu. Então, com uma respiração profunda, ele colocou as duas mãos sobre a mesa, levantou-se e foi até a janela, a palma da sua mão esquerda casualmente descansando no punho da espada. Sessenta pés abaixo, ele distinguiu no meio da multidão amarfanhada de seu povo - mordido pela curiosidade - vinte cavalos montados por soldados em armadura, bem como outros dois cavalos menores na cabeça do comboio, duas éguas ao que parecia.
Uma branca, a outra baia. Montadas, visivelmente, por duas mulheres.
Impulsionado por uma espécie de instinto, ele não podia deixar de dar uma olhada mais atenta ao longo cabelo loiro empoleirado na égua da frente - a branca - e tentar distinguir os traços de seu rosto, seu corpo, sua silhueta. Ele sabia que era ela. Mas, além de uma impressão global de magreza e juventude, do alto da
masmorra ele não podia deduzir nada de preciso.
O Rei Eduardo III a prometeu linda. Muito bonita mesmo. "A mais bela do Reino", assim dissera. Enfim, uma das três mais bonitas; as outras duas tinham sido oferecidas em casamento a Duncan MacDougall, Senhor de Moray, e a outra a Baltair Callahan, senhor de Galloway. Duncan recusou a dele sem sequer conhecê-la. Claro... Pensou Ian. Não seria ele quem se encontraria na linha de frente em caso de um novo conflito com a Inglaterra. Quanto a Baltair Callahan, ele ainda não sabia de sua noiva, que deverá retornar de um convento francês onde terminará sua educação no verão.
Por enquanto, caberia a Ian encontrar seu destino. Imóvel, perdido em pensamentos, viu-se mais uma vez confrontado com o dilema que o dominara desde janeiro. Depois que um mensageiro do Rei Robert II o fez conhecer as propostas "diplomáticas" do Rei da Inglaterra - propostas tendo valor de injunções, para quem sabe ler nas entrelinhas. E aprovado por Robert, embora o Rei da Escócia já não fosse oficialmente detido por qualquer vínculo de vassalagem ao seu homólogo inglês.
O próprio Ian estava convencido da necessidade de aliviar as tensões entre os dois Reinos - ou melhor, não criar novas. Não que ele estivesse ansioso para tomar uma esposa - ele já tinha o suficiente que fazer com a gestão, defesa e administração da propriedade e suas ilhas, a atividade de seus portos, o comércio de sal e salmão, a exploração de suas florestas, as produções de cerveja e hidromel, as represálias contra as invasões dos clãs vizinhos, os... Resumindo. E uma amante de vez em quando bastava para ele. Mas recusá-la arriscaria arranhar a suscetibilidade do velho monarca inglês, de desacreditar a nova dinastia escocesa mal subida ao trono para suceder a Bruce, de pôr em risco a independência da Alba recém conquistada repelindo desajeitadamente às hostilidades, por questões vagas de ressentimento, ódios seculares e de orgulho pessoal. Finalmente, restava provar o que Edward III apresentava como um "testemunho" de sua "afeição pelo senhor de Argyll" em sua missiva ao Rei da Escócia, se estava à altura dos elogios, uma vez que ele não os poupou a seu respeito. Duncan recusou completamente sua oferta, não sabíamos nada da jovem inglesa que lhe havia sido proposta. Um mistério quanto ao valor da palavra do Rei da Inglaterra permaneceu, portanto, completo para Ian. E a estima que o monarca lhe tinha assim como ao seu Rei, Robert II, seria medida em termos da verdadeira beleza desta "oferenda". Quinlan limpou a garganta.
— Devemos fazê-la esperar no grande salão? Eu posso dizer a ela que você não foi encontrado por enquanto...
— Estou descendo. Saindo de seu devaneio, Ian gira abruptamente em si mesmo e, em três passos, sai do quarto na frente de seu segundo. Ele desce as escadas com um passo determinado. Tochas presas na parede em intervalos regulares projetavam como de costume sombras disformes nas paredes de granito. Essas sombras tremulantes, banhadas de um brilho cálido, acompanhavam os pensamentos de Ian ao longo dos dois lances de escada, que ele desce com passo igual. Tudo ia ser jogado neste primeiro encontro; se ele a recusasse no local, assumiria o risco de ofender Edward e reviver as ambições deste velho governante pretensioso e os caprichos de seu pai e de seu avô antes dele; de induzi-lo a violar pela segunda vez o Tratado de Northampton, que ele mesmo havia ratificado; de arruinar a oportunidade que a Escócia tinha, agora que Edward tinha voltado seus olhos para a França e se desinteressava pelo norte, de trabalhar pela reconstrução e unificação depois de quase um século de guerras por sua independência.
Mas se a aceitasse, teria que se justificar aos seus pares, enfrentar a ira dos outros Highlanders, responder por suas escolhas e, provavelmente, sofrer vários ataques de retaliação - na melhor das hipóteses.
A maioria dos chefes das Terras Altas era abertamente hostil a esses arranjos matrimoniais oferecidos em banquetes aos grandes senhores da Escócia, e eles não deixariam de tributar a traição àqueles que honrassem a oferta do monarca inglês. Teria de convencê-los dos méritos de sua decisão e, num olhar mais de perto, conseguir vencer um Highlander na diplomacia em detrimento da via militar parecia-lhe muito mais improvável do que conseguir repelir uma ofensiva de todo o exército inglês sozinho. Mas... e ele?


 

 

Um comentário:

Oiii você não vai sair sem comentar nada vai? Ou que tal indicar o que leu. Ou então uma resenha heheheheh...Todo mundo agradece, super beijo!