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30 de outubro de 2017

Até que a Morte nos Separe

Calista Langley é dona de uma agência que apresenta senhoras e senhores respeitáveis que buscam relacionamentos sérios em Londres na época vitoriana. 

Por algum tempo, ela está recebendo presentes: um espelho preto sinistro, uma coroa de flores para funeral, um sino… um ataúde, tudo gravado com suas iniciais.
Convencida de que não obterá ajuda da polícia, Calista recorre a Trent Hastings, um escritor solitário, de mistério, que tem pouca afeição às relações sociais. Enquanto Trent e Calista revisam os arquivos dos clientes rejeitados, eles tem esperança de identificar o perseguidor, mas começa a ser óbvio que a chave pode ser o passado secreto de Calista… e sua vida corre perigo.

Capitulo Um

― Devo desfazer-me dela, Birch. ― Nestor Kettering pegou a garrafa de brandy e serviu-se de outra taça. ― Já não suporto a minha mulher. Você não tem nem ideia do que significa viver com ela na mesma casa.
Doam Birch remexeu-se na cadeira e esticou as pernas, aproximando-as das chamas da lareira.
― Não é o primeiro homem que se casa por dinheiro e descobre que o trato não o satisfaz. A maioria das pessoas que se encontraram em sua situação acharam uma maneira de coabitar. É bastante comum que os casais da boa sociedade tenham vidas separadas.
Nestor contemplou as chamas. Doam convidara-o a tomar um último brandy depois de outra noitada jogando cartas no clube do qual ambos eram membros e, como resultado, os dois estavam sentados na pequena, mas elegante, biblioteca da casa de Doam.
Faria qualquer coisa para não ter que retornar ao número cinco do Lark Street, ― pensou Nestor. Haviam considerado a ideia de visitar um bordel, mas isso não despertou o entusiasmo de Nestor. Na realidade, os bordéis desgostavam-lhe, preocupava-se que as mulheres pudessem transmitir uma enfermidade e, além disso, não era nenhum segredo que as prostitutas frequentemente roubavam relógios, alfinetes de gravata e dinheiro dos clientes.
Preferia que as mulheres fossem respeitáveis, virginais e, sobretudo, carentes de familiares próximos: a última coisa que queria era enfrentar a um pai ou um irmão furioso. Escolhia suas amantes entre as solteironas de Londres: mulheres inocentes, educadas, corteses, e agradecidas pelos cuidados de um cavalheiro.
Durante o ano passado e graças a Doam Birch, tivera acesso a uma série de instrutoras jovens e atraentes que possuíam seus requisitos. 
Uma vez feita a conquista, perdia o interesse, mas isso não supunha um problema: resultava simples desfazer-se dessas mulheres. Ninguém se preocupava com seus destinos.
A residência urbana de Doam não é tão grande quanto a minha ― pensou Nestor, ― mas, é muito mais confortável porque não há nenhuma esposa dando voltas por ali. Doam herdara a casa, depois da morte de sua mulher, uma viúva rica. Esta, falecera enquanto dormia, pouco depois das bodas… e, depois de pouco tempo de ter modificado seu testamento e deixado a casa e sua considerável fortuna para seu novo marido.
Alguns homens são muito afortunados, ― pensou Nestor.
― Não sei quanto tempo mais serei capaz de suportar a presença de Anna ― disse, bebendo um gole de brandy e deixando a taça na mesa. ― Juro que perambula pela casa como um pálido fantasma. Acredita nos espíritos, sabe? Assiste a uma sessão espírita ao menos uma vez por semana com a pontualidade de um relógio. Quase todos os meses procura uma nova médium.
― Com quem tenta entrar em contato?
― Com seu pai ― respondeu Nestor, fazendo uma careta. ― O bastardo que me armou uma armadilha, com as condições de seu testamento.
― Por que quer entrar em contato com ele?
― Não tenho nem ideia e não me importa um mínimo, o maldito. ― Nestor deixou a taça de brandy na mesa. ― No princípio acreditei que tudo seria tão simples… uma noiva formosa e, além disso, uma fortuna.
Doam contemplava as chamas.
― Sempre há algo mais.
― Tal como acabei por descobrir.
― Sua mulher é muito formosa, quase todos os homens diriam que é muito afortunado por compartilhar a cama com semelhante beleza.
― Ora!


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