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8 de dezembro de 2013

Aventura Perigosa




Onde há desejo, há perigo...

Helena Hartford não sabe nada sobre Nicholas Ramsay, além de que ele é um dos homens mais ricos da Inglaterra.
Então, ele surge das sombras, exigindo que Helena confie nele. Recentemente viúva, Helena é o alvo de forças poderosas, determinadas a tomar posse de sua fortuna internando-a num sanatório de doentes mentais.
Perder sua riqueza material não significa nada em comparação à tortura sem fim de perder sua liberdade, trancafiada num lugar de horror e desespero como Bedlam. Nicholas tem seus motivos para perseguir lady Hartford.
Familiarizado com a reputação escandalosa inspirada pelas obras de arte que ela cria, ele quer vingança, porém não estava preparado para a atração imediata e intensa que ela lhe provoca.
Enquanto a instável aliança entre ambos dá lugar a uma paixão alucinante, os inimigos poderosos fecham o cerco, dispostos a executar um plano tétrico.
E Helena não tem escolha a não ser confiar naquele homem misterioso e imprevisível, que poderá ser seu herói, ou seu pior pesadelo...

 Capítulo Um

Junho 1860
Esquecimento era o que ela desejava.
Nuvens de fumaça azulada subiam junto ao teto baixo. O ambiente estava silencioso, as tapeçarias de veludo vermelho absorvendo sons tanto de prazer quanto de dor. Era um lugar aonde as pessoas iam para esquecer, para exorcizar seus demônios dando vazão aos seus desejos.
Helena Hartford reclinou-se mais na chaise, incapaz de resistir às imagens diante de seus olhos. Era sempre assim. Seu trabalho podia fazê-la se esquecer de qualquer coisa, até mesmo do aperto em seu peito e do medo que tomava conta de seu corpo.
Sua mente já estava em outro lugar, e os dedos ansiosos pela paleta e pincel, o carmim, azul e tons de bege do ambiente se misturando numa cacofonia de cores. Havia um homem no canto da sala. Uma jovem seminua e de dedos ágeis soltava a gravata dele. Ele tinha os olhos fechados e tragava com vontade o cachimbo de ópio entre os lábios. A cena era uma tela de Bosch trazida à vida.
Duzentos anos antes, o pintor holandês tinha capturado com maestria os símbolos e ícones do pecado e das fraquezas humanas.
Helena notou dois homens, parados diante da larga escadaria, ansiosos por subir até os quartos privativos do segundo andar. Helena analisou os convidados, todos os figurões das famílias mais ricas e poderosas da Inglaterra, que, na escuridão, buscavam passatempos que não seriam bem vistos à luz do dia. 
O mundo podia ser um lugar muito tolerante, mas apenas para os homens e amigos do nobre duque de Hartford, que agora descansava em seu túmulo.
Helena mantinha um sorriso cínico nos lábios ao observar o pequeno cachimbo azul equilibrado com cuidado, para que seu conteúdo não caísse sobre a mesa lateral. 
Quando chegara ali, alguns minutos após a meia-noite, muitos a encararam com as sobrancelhas erguidas, uma reação incomum naquele refúgio conhecido pela discrição. Helena Hartford, a viúva do duque de Hartford, era conhecida por desprezar as regras da sociedade. Mas isso...
Apanhou o cachimbo com mãos firmes. A fumaça quente preencheu seus pulmões, a doçura do fumo era algo até então desconhecido. Tragou novamente e então mais uma vez, com o intuito de esquecer, afastar o medo e cair no conforto da falta de consciência.
Eles jamais ousariam procurá-la aqui. Sabia que estava a salvo por enquanto, pois qualquer um que divulgasse seu paradeiro revelaria segredos tão tenebrosos que a sociedade não ignoraria.
Helena afundou-se em meio às almofadas assim que seu corpo começou a relaxar, o ambiente a seu redor se transformando num grande redemoinho de borrões numa tela. O tempo ficou suspenso, numa rede de puro prazer sensorial.
As vozes ao redor corriam como um pesadelo. Com a visão ao mesmo tempo apurada e embaçada, ela examinou o cachimbo com muita concentração. 
Os contornos eram suaves sob seus dedos, uma superfície perfeita. Colocou-o sobre a mesa lateral com cuidado antes de deixar que as almofadas vermelhas a envolvessem.
 Estava sozinha em seu casulo particular. Imagens inconstantes como borboletas dançavam diante de seus olhos, os amarelos ricos e os azuis intensos a conduziam para um lugar onde finalmente estaria livre. Sem pai, marido ou temor.
Helena fechou as pálpebras lentamente e voltou a erguê-las.
A mão em seu pulso era bela, grande, forte, e masculina; a manga da camisa deixava ver o braço forte que se estendia até os ombros largos, bloqueando a visão do salão. 
Uma camisa fina de linho cobria o tronco de músculos definidos, sem gravata e com um colete com os botões de cima abertos. Um corpo que ela tinha vontade de desenhar.
Não conseguia ver seu rosto sob a luz bruxuleante do candelabro. Ele também estava sentado na chaise, inclinado sobre Helena, dizendo algo. A voz profunda soava como veludo.
— Vi o seu trabalho.
Ela afastou a névoa que cobria seus pensamentos, incapaz de se concentrar enquanto uma onda de medo voltava a engolfá-la.
— É mesmo? — Os olhos de artista de Helena analisaram o corpo à sua frente, uma escultura de membros longos e muito elegantes. Nada similar com o que já tinha visto na vida real. Era como uma alucinação de bronze, saída de um museu.
— É extraordinário.
Ele estava tão próximo que ela podia sentir seu cheiro inebriante. Suas palavras vieram sem nenhuma pressa.
— Devo ter compreendido mal. — Ela sorriu. — A maior parte dos críticos, assim como os amigos do meu falecido e adorado marido, não são tão generosos em seus comentários.
— A senhora está amarga.
A fumaça azulada serpenteou por entre os dois.
— É muita consideração de sua parte, senhor...