Mostrando postagens com marcador Barbara Leigh. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Barbara Leigh. Mostrar todas as postagens

16 de fevereiro de 2010

Lenda da Paixão



Ele queria salvar seu povo.

Ela, sua própria honra!

Irlanda, século XIII.
Em busca do segredo que salvaria seu povo de uma terrível maldição, o valoroso guerreiro Robert McLir velejou pelo tempestuoso mar da Irlanda, rumo à inimiga Inglaterra.
Ferido, Robert foi aprisionado no castelo de lady Serine, belíssima e corajosa senhora feudal. Ela, porém, não se lembrou de aprisionar também o próprio e traiçoeiro coração...

Capítulo Um

Eles vieram do mar.
Um pequeno grupo de bárbaros celtas. Homens rudes, vestindo roupas de pele e calçando polainas de couro. Protegidos pelas sombras marchavam na direção da aldeia inglesa.
Levavam armas de ferro e no rosto de cada um deles estava a desesperada determinação de quem só tinha duas opções: sair-se bem na empreitada ou ser aniquilado.
O último canto dos pássaros juntou-se em dueto aos primeiros gritos das criaturas da noite.
Alheia àqueles sons, a ordenhadora de vacas da aldeia, Gerta, sentou-se perto do fogo em sua choupana para alimentar o filho no seio.
A canção de ninar que ela entoava foi interrompida pelo rosnar do cachorro.
Antes que o animal saísse do lugar, porém, a porta foi arrombada.
Um homem entrou correndo e arrancou o bebê dos braços da mãe enquanto outro tentava amordaçá-la.
Mas Gerta resistia e gritava tanto que chamou a atenção do líder dos celtas, que passava por ali naquele momento e resolveu ver o que estava acontecendo naquela casa.
— Levem também a mulher — ele decidiu antes de sair. — Pelo menos ela servirá para amamentar o filho.
O mesmo acontecia em outras casas da aldeia.
Enquanto isso, um grupo maior investia contra o castelo.
Lá dentro, sob o comando do líder, os celtas reuniram as crianças e as levaram para a cozinha, onde as criadas comiam a refeição vespertina.
Terrinas de carne e papa de aveia foram jogadas ao chão, espatifando-se, enquanto as mulheres juntavam seus gritos aos dos pequenos.
A gritaria alcançou o terraço onde lady Serine fazia contas.
Com o marido participando da Cruzada, ela devia cuidar para que o patrimônio da família estivesse intacto quando fosse legado ao filho pequeno, Hendrick, agora com dez anos de idade.
Serine levantou-se para ir ver o que estava acontecendo.
Soavam também vozes masculinas, um som que não se ouvia em Sheffield desde que o marido dela havia reunido todos os homens do feudo para ir lutar na Terra Santa em nome do rei. Teriam os homens retornado de surpresa?
Ou o castelo fora invadido por inimigos?
Tão logo viu a cena lá embaixo Serine teve a resposta.
Concentrados demais no que faziam os invasores não viram a mulher que descia rapidamente a escada.
Toda a atenção de Serine estava no homem moreno que agarrava o filho dela.
O celta tinha os longos cabelos pretos soltos sobre os ombros, emoldurando o rosto barbado. Superando o medo ela retirou uma lança do suporte que havia ao pé da escada e investiu contra o celta.
— Cuidado, Robert! — gritou uma voz.
O homem com o menino no colo usou apenas a mão livre para deixá-la sem a lança.
Por alguns instantes os olhos deles se encontraram, em mudo desafio.
Serine voltou os dela para o filho, mas no instante seguinte sentiu na face o golpe desferido pelo celta e caiu de costas nos degraus da escada.
Ao ver a mãe sem sentidos, o menino redobrou seus esforços para escapar, com uma coragem que não estava de acordo com a idade ou o tamanho dele.
— Ela não está morta — resmungou o celta, enquanto o garoto batia com os pés no estômago dele. — Na certa não está sofrendo tanto quanto eu. Agora pare com isso.
Mas Hendrick não parou.
O líder dos celtas enrolou-o no manto e o carregou para fora do castelo, com um sorriso de satisfação no rosto.
Aquele menino tinha tempera, merecia o orgulho do pai.
Eles arriscariam tudo para se apoderar de uma criança como aquela.
Era a única esperança de sobrevivência, a última chance de imortalidade.