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17 de fevereiro de 2012

Morando Com O Inimigo



Dormindo com um espião... 


Desde o fatídico dia em que seu irmão foi acusado de traição, Patience Mandeley não reconhece mais o próprio comportamento. 


Em circunstâncias normais, ela jamais se disfarçaria de criada, se esgueirando pelas dependências da residência de um nobre, vasculhando e procurando segredos que não são da sua conta. 


Mas a situação é de desespero, e Patience fará o que for preciso para salvar o irmão da forca, nem que para isso tenha de encontrar sozinha o verdadeiro culpado... 
Patience precisa ganhar acesso à propriedade de lorde Londringham, o solteiro mais disputado da Inglaterra, sem que ele saiba quem ela é. 
Mas mesmo usando o uniforme de empregada, Patience percebe os olhares interessados do patrão, e descobre, para seu desalento, que a atração é recíproca. 
Embora saiba que deve ignorar seu sentimento por aquele homem e concentrar-se em sua missão, a proximidade do lorde afetava sua capacidade de ser racional, e Patience pode vir a descobrir que o verdadeiro traidor é o seu coração... 


Capítulo Um 


Winchelsea, sudeste da Inglaterra Primavera de 1803 


Patience Mandeley suspirou com o olhar perdido no movimento da rua central de Winchelsea. Nos últimos quinze minutos, estivera debruçada à janela sem registrar o que via. 
Ainda não decidira se era a mulher mais corajosa do mundo, ou se havia perdido de vez o juízo. Optou pela segunda opção. Agir sob o disfarce de serviçal era loucura. 
No entanto, não via outra forma de salvar o irmão mais novo da sentença por traição à Coroa.
— Patience?... A voz modulada a despertou dos devaneios, e ela se voltou para a exuberante jovem que conhecera na viagem para Winchelsea. 
— O que você disse Colette? 
— Aposto que não ouviu uma palavra! — O sotaque francês emprestava charme especial ao timbre suave. — Não se preocupe você terá tempo de sobra para se preocupar com sua nova posição quando estivermos em Paddock Green. Agora, vamos nos divertir. Como estou? 
A jovem rodopiou no centro do quarto, provocando um sorriso em Patience. 
O vistoso modelo azul turquesa acentuava as curvas bem feitas de Colette.
Xale e chapéu, ambos da mesma cor, completavam o vestuário. 
— Você está ótima — elogiou com sinceridade. — E quanto a mim? 
A francesa avaliou-a com olhar crítico.
Patience usava traje modesto e óculos de lentes falsas como parte do disfarce de serviçal. 
— Chêrie, qualquer um será capaz de jurar que está diante de uma camponesa sem instrução alguma. Isso se você não abrir a boca, é claro! 
Satisfeita, Patience ajeitou o chapéu e seguiu a amiga para fora da hospedaria. 
As duas rumaram para o parque, se confundindo com inúmeras damas a caminho do Festival da Primavera de Winchelsea. 
O entardecer coloria a paisagem com uma névoa rosada pairando sobre o aglomerado de moradores, viajantes, mercadores e fazendeiros. 
O burburinho se tornava maior perto das docas, com uma fogueira monumental. 
Perto dali, a gigantesca tenda amarela e vermelha do circo atraía um grupo excitado de crianças acompanhadas dos pais. 
Colette a levou para as tendas de mercadorias, onde os vendedores gritavam acima do alarido para ofertar perfumes importados da Europa, tecidos finos e frutas exóticas. 
Porém, Patience estava alheia à alegre agitação ao seu redor. 
Fingindo examinar as peças à venda, ela se mantinha atenta ao movimento, com esperança de avistar Rupert nas sombras ou misturado à multidão. 
Tinha de falar com ele sobre o plano que havia elaborado para salvá-lo. 
Seu único interesse era o irmão mais novo e seus problemas. 
Com o final do espetáculo do circo, Patience se viu rodeada por uma multidão. Colette desapareceu em meio aos alegres espectadores saídos da sessão, deixando-a sozinha. 
Ela tentou seguir a amiga, mas parou abruptamente quando foi puxada pela barra da blusa. 
— Senhora, poderia me ajudar a encontrar minha tia Bella? 
Patience olhou para baixo e viu uma criança com o rosto banhado de lágrimas, segurando uma boneca de madeira. 
A pobrezinha não devia ter mais do que quatro anos, e os cachos dourados escapavam do gorro azul. 
— Olá, pequenina. Qual é seu nome? — perguntou, retirando um lenço da bolsa para secar o rosto da criança. 
— Meu nome é Sally e tenho de encontrar minha tia Bella. Ela também deve estar perdida. — A garotinha fungou, deixando escapar mais uma lágrima. 
— Sua tia não está perdida. Ela deve estar muito preocupada com você. — Confiante de que poderia encontrar a responsável por aquela criança, ela guardou o lenço na bolsa e estendeu a mão.
— Venha. Vamos procurá-la. 
— Qual é seu nome? Preciso saber, porque minha tia disse para eu não falar com estranhos. Patience hesitou antes de revelar o nome que havia escolhido para seu disfarce. 
Decidiu que ninguém deveria saber de sua verdadeira identidade, nem mesmo uma inocente criança. 
— Patience Grundy — disse, por fim, notando que a menina carregava um objeto apertado ao peito. — É sua boneca?
Os olhos de Sally se iluminaram e o sorriso inocente mostrou uma falha na dentição. 
— O nome do meu bebê é Jane. Veja, Srta. Grundy. — Ela estendeu com orgulho a boneca nua com quatro palitos como membros e uma bola lustrosa no lugar da cabeça. 
— Sua boneca não tem nenhuma roupa? 
— Não. — Sally ergueu os ombros estreitos. — Algum dia, terei um bebê com muitas roupas e cabelos. Tia Bella disse que me dará uma boneca nova se eu for uma boa menina. Sempre fui uma boa menina!
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