Annaliese não passava de uma simples donzela...
A curiosidade inocente de Annaliese em conhecer o corpo masculino despertou no guerreiro Kendran Ainsworth um desejo desconhecido de carinho e proteção.
Mas, caso ele revelasse sua verdadeira identidade Annaliese não o aceitaria,
uma vez que ela demonstrava grande cautela para com os nobres.
Como Kendran conseguiria, sendo um membro da nobreza, convencer a jovem donzela da sinceridade de seu amor?
Ao socorrer um estranho e salvá-lo da morte, em um gesto de mera caridade, Annaliese não podia supor que esse gesto uniria para sempre seu condenando-a a amar um homem que, por sua estirpe, não podia ser confiável!
Capítulo Um
Inglaterra, 1472
Annaliese Stanhope relanceou um olhar ao Credor, desconfiada.
Apressou Hinge, a égua não muito animada de seu pai.
Para não desagradar a solitária viúva Swift, acabara por estender a leitura até aquela hora tardia.
A floresta, sempre bonita à luz do sol, mostrava-se escura e agourenta.
A aflição de Annaliese não era causada pelos aspectos da natureza, mas por quem poderia encontrar à espreita.
Max, seu grande cão de caça, pressentiu a inquietação da dona e grunhiu, como se a lembrasse de sua presença protetora.
Annaliese sabia muito bem que o cachorro de nada valeria contra a gentalha armada que vagueava pelas matas.
Mesmo assim, o perigo em potencial não era o que mais a perturbava.
Pensava na preocupação do pai que a aguardava de volta.
Depois de perder a esposa pela ação brutal e ainda impune de um homem, ou homens, ele ficava ansioso demais com o paradeiro e a segurança da filha.
Tentou não pensar na dor pela morte da mãe.
Precisava concentrar-se em voltar para casa o mais rápido possível.
Por compartilhar da idéia geral de que os crimes na região eram cometidos pelas mesmas pessoas, o pai deveria estar desesperado com seu atraso.
Para Annaliese era difícil aceitar a restrição da liberdade.
Mas os habitantes da aldeia e arredores, inclusive seu pai, estavam apavorados com os homens que faziam um lar das florestas e estradas solitárias.
Lembrou-se do velho John, que vivia no outro lado do povoado.
Há poucos dias e um pouco antes do amanhecer, ele rumava para o mercado com a carroça lotada de frutas de sua colheita.
Fora cercado por um grupo de homens mascarados a cavalo e que levaram a carreta, as mercadorias e o burro.
Max tornou a grunhir um aviso.
Annaliese, com o coração batendo forte, incitou o cavalo a um galope ainda mais veloz.
Embora ela não percebesse nenhum som ou movimento estranhos, o cachorro, sentado na parte de trás da carroça, olhava à frente e à direita.
Annaliese acariciou a cabeça grande do animal com a mão trêmula e estreitou os olhos para ver melhor na escuridão.
Os galhos das árvores, àquela hora verde-escuros, podiam esconder uma ameaça.
― O que foi, garoto? ― ela murmurou, com voz ansiosa e rouca.
O cão rosnou, pulou para fora da carroça e Annaliese puxou as rédeas.
― Max, volte!
O animal, em geral obediente, não lhe deu atenção.
Farejou a moita cerrada que margeava a estrada, olhou para trás e uivou alto.
― Volte! ― ela insistiu.
Max emitiu mais um uivo lamentoso.
Parecia estar dividido entre a obediência e o motivo que o fizera correr até ali.
Annaliese perscrutou a noite com mais apuro e viu o que atraíra a atenção do cachorro.
Era o corpo inerte de um ser humano.
Por um momento, não conseguiu mexer-se, apavorada.
Em seguida, desceu do assento, aproximou-se devagar do animal que parecia mais uma sombra na noite.
O cão veio a seu encontro, arfando.
Lambeu-lhe o rosto, quando ela se curvou para acariciá-lo.
― O que foi, meu rapaz? Encontrou alguém?
Max latiu, virou o focinho para corpo imóvel meio escondido e olhou para Annaliese, talvez para apressá-la.
― Quer que eu vá até lá? ― ela perguntou ao amigo fiel e inseparável.
A jovem seguiu o cão até a margem da estrada.
O animal tornou a farejar quem havia encontrado.
Annaliese ajoelhou-se e passou a mão na nuca da pessoa desfalecida.
"Oh, não! Sangue!", reconheceu de imediato.
Engasgou e tirou as mãos.
Aquela pobre alma devia ser mais uma vítima dos homens que já haviam trazido tanta dor a Lundy. Era como agiam.
Golpeavam e fugiam.
Annaliese tornou a passar as mãos sobre a cabeça e os ombros largos do homem deitado de bruços. O frio da noite só iria piorar o estado dele, se é que ainda estivesse vivo.
Rapidamente, ela o empurrou para deitá-lo de costas.
Um gemido quase imperceptível deu-lhe a certeza de que a vida ainda não se esvaíra totalmente e que o homem precisava de socorro urgente.
Voltar para casa e pedir auxílio ao pai seria uma tarefa muito demorada.
Com esse pensamento, foi buscar a carroça e aproximou-a do homem desacordado.
Desceu da boleia e arrastou o corpo até a parte traseira e aberta.
Depois subiu no estrado, abaixou-se e tentou puxar o homem para dentro.
Max percebeu a dificuldade da operação, abocanhou as ceroulas do desfalecido e, com todo o poder dos maxilares, ajudou a movê-lo para cima.
O pavor de que o estranho morresse na estrada deram a Annaliese uma força que ela não imaginava possuir.
Puxava e erguia o corpo, centímetro por centímetro.
Tinha de ajudar aquele homem que talvez
fosse mais uma vítima dos que haviam destruído a paz de sua família.
Assim que a missão que parecia impossível foi concluída, Annaliese voltou depressa para o assento.
― Vamos, vamos, Hinge! ― ela gritou e agitou as rédeas.
Talvez pela gravidade da situação, o animal arrancou com uma velocidade anormal para os seus padrões.
Assim mesmo, pareceu transcorreu uma eternidade até Annaliese deter a égua em frente da pequena casa de pedra de dois andares.
A jovem pulou da carroça e antes de chegar à porta estreita, a mesma foi aberta.
A silhueta vigorosa de seu pai destacou-se sob a luz das velas do interior.
― Annaliese! ― A ansiedade da voz era inegável. ― Estava quase louco com...
O remorso e as desculpas mais do que necessárias foram abafados pela urgência do que teria de ser feito.
― Papai, por favor, ajude-me! Max e eu encontramos um homem ferido na floresta.
― Homem ferido? ― o pai repetiu, chocado e confuso.
Annaliese levou-o pela mão até a parte traseira do veículo tosco.
― Sim, e precisamos fazer alguma coisa!
― Mas como é que ele...
― Acho que o senhor sabe a resposta, tanto quanto eu. O silêncio pesado que se seguiu deu à filha a noção de que o pai pensava no sofrimento dos aldeãos e na morte da esposa.
― Mas o que está acontecendo? ― Tia Jane viera atrás deles.
Annaliese explicou, com a maior calma possível, o que acontecera.
― No escuro, não deu para avaliar a extensão do ferimento ― a jovem continuou. ― Só pensei em trazê-lo para que a senhora o visse.
― Precisamos levá-lo para dentro ― tia Jane afirmou, resoluta
― Está bem.
― Por favor, filha ― o pai pediu, com o cenho franzido ―, traga uma lamparina para cá.
Série Irmãos Ainsworth
1 - Um Amor Esquecido
2 - A Dama da Floresta
3 - Noiva de Verão
4 - Noiva de Outono
Série Concluído
1 - Um Amor Esquecido
2 - A Dama da Floresta
3 - Noiva de Verão
4 - Noiva de Outono
Série Concluído