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9 de fevereiro de 2010

O Segredo de um homem




Fugindo de cruéis perseguidores, Evanna e seu irmãozinho David são socorridos pelo belo Berawald.

Ele os acolhe na caverna em que vive e logo se vê cativado pelos dois, dispondo-se a arriscar a vida para mantê-los em segurança.
Porém, muitos segredos os cercam, e eles precisarão enfrentar as diferenças que podem afastá-los se quiserem se entregar à intensa atração e aos perturbadores sentimentos que experimentam...
Capítulo Um

Escócia, verão de 1512
Berawald MacNachton ignorou o pequeno espíri¬to que se aproximava lentamente e continuou a observar o pôr-do-sol.
Estava seguro, na boca da caverna, admirando as cores do céu e não queria ter de lidar com espíritos no momento.
Inalou profundamente para apreciar os perfumes das flores de verão que cresciam nas proximidades de seu novo lar.
Franziu o cenho e respirou fundo mais uma vez.
O frescor das flores estava maculado por outro cheiro menos agradável.
Parecia o odor de um menino sujo.
Olhando atentamente para o espectro que tentara ignorar, começou a suspeitar que ele fosse, de fato, um menino e não um espírito.
Por estar pálido e sujo de lama, pensara se tratar do fantasma de algum pobrezinho afogado. A maioria das áreas próximas a lagos e rios, como a de sua casa, era tomada pelos espectros dos afogados.
Naquele dia, porém, ao que tudo indicava, estava sendo abordado por um garoto molhado que quase havia se afogado.
Os espíritos não tinham cheiro.
Agora que o menino estava perto o suficiente para ser tocado, era fácil perceber que ele era sólido demais para ser um espírito.
Berawald suspirou. Não estava inspirado para bancar o salvador, mas sua consciência não o deixaria em paz.
— Menino, o que quer? — perguntou. — Está perdido?
— Acho que não — o garoto respondeu com voz trêmula. — Acredito que Evie saiba onde estamos.
— Quem é Evie? — Berawald olhou ao redor, mas não viu ninguém.
— Minha irmã.
— Ela deixou que você perambulasse por aí sozinho?
— Não, ela está doente. Evie me carregou ao atravessar o rio, depois caiu. Esperei e esperei, mas ela não se levantou. Então a cobri com folhas e vim procurar ajuda porque sou pequeno demais para carregá-la sozinho.
Berawald não se surpreendeu ao vê-lo inspirar profundamente, uma vez que o garoto não tomara fôlego nem uma vez durante aquela avalanche de palavras.
Ao término do relato, ele franziu a testa.
As chances de a irmã do pequeno ter se afogado eram grandes, porém não conseguia ver nenhum espírito rodeando-o.
De acordo com a sua experiência, o fantasma de uma mulher que havia morrido, tentando proteger uma criança, tendia a ficar próximo até se assegurar de que seu protegido estivesse são e salvo.
Suspirou mais uma vez e olhou para o céu. Já era quase noite.
Ao que tudo indicava estava prestes a salvar uma dama em apuros.
Fazia poucos meses que tinha se mudado para seu novo lar, e confusões já começavam a surgir. Admoestou-se por seus pensamentos pouco beneméritos ao se levantar e chamar o menino para perto com um aceno.
— Qual é o seu nome, garoto?
— David Massey. — O menino se aproximou.
— Venha comigo, David. Vou secá-lo um pouco antes de sairmos à procura de sua irmã. — Berawald sorriu quando o menino se apressou para o seu lado.
Poucas pessoas no mundo se aproximavam de um MacNachton.
Já estava escuro quando Berawald terminou de limpar, secar e vestir uma de suas camisas mais quentes no menino.
Ia pegar uma lamparina para ir atrás da irmã do garoto quando viu que David corria para fora da caverna sem temer a escuridão.
Antes de segui-lo, deteve-se para apanhar um saco com ervas medicinais.
— Saberá encontrar sua irmã no escuro? — perguntou a David, levando a lamparina para o caso de ser necessário.
— Sim, o escuro não me incomoda. — David olhou nervoso para Berawald. — Isto é, não quando estou com alguém. Evie não está muito longe daqui. Vamos depressa.
— Eu poderia carregá-lo e assim seríamos mais rápidos.
— Eu consigo me mover bem rápido.
O garoto praticamente corria ao terminar de falar.
Berawald não estava acostumado com crianças, mas não conseguia deixar de achar estranho o modo como aquele menino se movia com confiança e rapidez no escuro.
Até mesmo a maioria dos adultos Forasteiros corria para casa assim que o sol se punha.
Se precisavam sair à noite, sempre levavam uma tocha e procuravam andar em grupos. Ele também sabia detectar uma mentira e estava diante de uma; podia identificá-la no modo como o menino não parava de espiar por sobre o ombro.