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3 de novembro de 2018

Satisfaça-me

A juventude e a beleza são os tesouros mais apreciados que uma cortesã pode possuir, contudo nos seus quarenta e um anos, lady Ruth Attwood parece ter perdido ambos. 

Enquanto tenta aceitar o fato de que já não a consideram uma mulher desejável, não sabe se sente-se ofendida ou adulada quando o barão Garrick Stratfield, um homem doze anos mais jovem que ela, lhe faz uma incomum oferta que não pode recusar.
Apesar de ter fama de ser muito apaixonado, Garrick nunca esteve com uma mulher por medo do rechaço que seu defeito físico lhe pudesse provocar. Para manter as aparências, só necessita de uma amante disposta a não compartilhar de seu leito.
Mas Garrick não contava que Ruth conseguiria fazer estragos nos seus sentidos e que só necessitaria de um delicioso beijo para despertar sua paixão.

Capítulo Um

Londres, 1897
— Estou certo de que compreende minha querida. A senhorita Fitzgerald e eu, sentimos um afeto mútuo que supera o que você e eu compartilhamos neste último ano. Assombra-me que tenha aceitado minha proposta, visto que é muito mais jovem que eu.
Ruth, em pé perante da janela e de costas para Marston, estremeceu. O que queria dizer na realidade, era que Ernestina Fitzgerald era mais jovem que ela. O tom de seu amante soava bastante autossuficiente para saber que o bastardo estava divertindo-se. Passara por essa mesma situação, muitas vezes, ao longo dos últimos vinte anos, mas nessa ocasião, era pior. Era a segunda vez em menos de dois anos, que um amante deixava-a por outra mulher mais jovem. E aos quarenta e um anos, ela era velha, não? Tremiam-lhe as mãos apesar de que apertava-as, com força. Respirou fundo, obrigou-se a esboçar um sorriso e voltou-se para ele.
— É claro que o compreendo, Freddie. — Ruth usou o apelido de propósito, o que lhe rendeu um olhar furioso de seu amante. Sabia quanto odiava que chamassem-no, assim. — Estou certa de que formarão um casal muito bom. Pelo que tenho entendido, o talento da senhorita Fitzgerald como hábil conversadora equipara-se ao teu.
Marston lançou lhe um olhar receoso, mas Ruth sabia que ele nunca compreenderia o duplo sentido. Esse homem não era, absolutamente, tão inteligente quanto gostava de acreditar. De fato, era um irremediável inepto no que se refere a manter uma conversação coerente sobre qualquer assunto que não fosse a caça ou a pesca. De repente, odiou-se a si mesma por ter sequer aceite manter uma relação com ele. Sabia porque o fizera. Entretanto, não quisera reconhecer até esse momento. Tivera medo. Medo de que estivesse acabando o seu tempo. E agora, acabara.
— Naturalmente, me encarregarei de que seja paga sua atribuição deste mês.
— Naturalmente — replicou ela com frieza. Não estava disposta a deixar que ele visse que essa ruptura a afetava. Não era tão inesperada quanto humilhante. — E Crawley Hall?
— Lamento Ruth, mas me parece um presente de despedida muito extravagante, não acredita?
— Prefiro considerar o cumprimento de uma promessa que fez vários meses atrás.
Olhou-o com os olhos entreabertos. Necessitava aquela propriedade.O orfanato de Aston Street estava transbordando, e para os meninos mais doentios faria bem o ar puro do campo.
— Prometi? Não recordo ter feito semelhante coisa.
— Então, possivelmente deveria fazer que Wycombe refresque-lhe a memória, já que ele estava presente quando aceitou comprar o imóvel para mim.
— Estou certo de que Wycombe não recordará desse fato — replicou Marston, com algo mais que um leve rastro de presunçosa arrogância. — Por outro lado, você já tem uma propriedade no campo. Não vejo nenhum motivo para que possa necessitar de outra. Se estiver preocupada com dinheiro, sempre poderá vender as joias que lhe dei de presente.
“Porco dissimulado.” Esse bastardo sabia porque queria Crawley Hall. Também, sabia muito bem, que a casa que possuía junto ao Bath era muito pequena para satisfazer suas necessidades. E as joias com que a presenteara, somente obteria o suficiente para um primeiro pagamento por Crawley Hall. Necessitaria muito mais que isso para comprar aquela propriedade. Embora, no momento desfrutasse de uma segurança econômica, teria que ser cuidadosa com o dinheiro, já que seu futuro distanciava-se muito de ser brilhante no referente a conseguir um novo protetor. Dirigiu-lhe um sorriso desdenhoso.
— As joias que me deu de presente? Freddie, querido, essas bagatelas dificilmente se venderão por uma considerável soma. Não obstante, se negar a manter sua promessa com respeito à Crawley Hall, quem sou eu para questionar sua honra? — Ruth vislumbrou o enfurecido obscurecimento de seu rosto quando deu-lhe as costas, encolhendo os ombros presunçosamente.
— Já que não temos nada mais que nos dizer, acredito que é o momento de que te vá.