17 de junho de 2010

Série Dinastia O`Hara

1 - Os Rebeldes


Tempestuosos Jogos de Amor e Paixão uniam os amantes nas cortes da Inglaterra e Irlanda!

Lady Elizabeth Hatton, inglesa e nobre, não sentia escrúpulos em usar sua posição e beleza para conseguir o que queria… E, mais do que qualquer coisa neste mundo, ela desejava Rory O’Donnell, o impetuoso rebelde irlandês. Essa paixão correspondida, alucinada e sem limites era um sentimento que só lhes traria sofrimentos. 

O amor de Rory por Elizabeth punha em risco a lealdade jurada à família e à pátria, sua adorada Irlanda. E entre a paixão pela bela inglesa e sua ânsia de liberdade havia um abismo intransponível!

Primavera de 1590
O coche não passava de uma caixa quadrada presa por correias de couro à armação de madeira que, por sua vez, equilibrava-se precariamente sobre as quatro rodas. Durante as últimas três horas vinha sacolejando aos trancos pelos campos da Irlanda e a sua única passageira, pálida, rezava pela segurança da própria vida.
Os quatro cavalos, sob arreios que gemiam, resfolegavam com o esforço de puxar a carga colina acima. Finalmente, chegaram ao topo onde as árvores desapareciam para dar lugar ao campo aberto, e o coche parou de maneira brusca.
— Lá está, milady.
Deirdre, filha de lorde Haskins, soltou um suspiro profundo. Escorregou pelo banco incômodo e, apesar da saia farta e com anquinhas, conseguiu se debruçar na meia porta e olhar para o rosto de barbas grisalhas do camponês enviado para buscá-la no porto.
— Lá está, milady — repetiu ele ao fazer um gesto indicativo e, numa mistura de gaélico e inglês, completou: — Ballylee… a morada do clã O’Hara.
Deirdre deixou que os olhos enormes e arredondados percorressem a charneca larga e colorida de dourado, vermelho vivo e cobre escuro das flores que a inundavam e se fixassem no seu novo lar, o castelo de Ballylee. Um nó apertado de emoção subiu-lhe do peito e quase fechou-lhe a garganta enquanto ameaçava dificultar ainda mais a respiração ofegante.
O castelo majestoso erguia-se no cimo de outra colina, como que desligado do mundo que o rodeava. Gotas de orvalho brilhavam como jóias no verde do gramado que cobria as ondulações do terreno. O fosso era largo e a água dele, sob os raios do sol, produzia reflexos que se movimentavam pelos paredões cinzentos e marrons. Parapeitos dentados e torres imponentes apontavam para o azul do céu, num sorriso maldoso de recepção à sua nova dona.
— Ballylee… — murmurou ela.
— O castelo mais inexpugnável de todos os clãs do norte. Nem mesmo Dungannon, de O’Neill, ou Donegal, fortaleza ainda mais para o norte, pertencente a O’Donell, podem competir com Ballylee. As paredes altas, com três metros e tanto de largura, não conseguem ser escaladas e garantem, em suas entranhas, abrigo para mil homens a pé, ou a cavalo. Até mesmo os malditos ingleses perderiam se tentassem sitiar este castelo. Ah, perdão, milady.
— Não precisa se desculpar. Sou só metade inglesa e, em poucos dias serei totalmente O’Hara — Deirdre declarou com um sorriso. — É… com as mulheres deles, os ingleses arranjaram mais um jeito de invadir nossas terras — resmungou o cocheiro ao sacudir as rédeas para que os cavalos retomassem a caminhada que os levaria ao
castelo.


2 - Os Aventureiros


Na Guerra e no Amor, O Irlandês entregava o coração e a própria vida!

Nesses anos, turbulentos Rory O’Hara volta para a sua atormentada Irlanda, na ânsia de reconstruir o castelo destruído pelo invasor inglês e recuperar o orgulho perdido de seu povo humilhado. 

Enquanto isso, na Inglaterra, sua adorada Brena Coke trava uma luta insana contra o despotismo dos soberanos que a querem afastar para sempre de seu amado Rory. 
Um desafio apaixonado de homens que não se deixam vencer facilmente...

Capítulo Um

Primavera de 1616 Paris
Qual é a sua opinião sobre este ponto, mademoiselle de Chinon? Mademoiselle? Minha querida, sente-se bem?
— O quê? — murmurou Shanna, abandonando os pensamentos distantes e voltando à realidade enquanto os olhos azul-violeta tentavam focalizar a mulher que, do outro lado da mesa, inclinava-se em sua direção.
— Eu... lamento dizer que minha mente andava longe. A senhora afirmava...
A conversa retomou o curso envolvente.
Shanna de Chinon costumava tomar parte ativa na prosa animada do salão de Rambouillet, sempre revelando interesse sobre qualquer assunto em pauta, fosse ele poesia, política ou ainda comentários maledicentes que os convidados de Catherine, marquesa de Rambouillet, trocavam entre si.
Afinal, não era qualquer refugiada irlandesa que se via requisitada a freqüentar aquele salão.
Ali se compartilhava do vinho e dos diálogos estimulantes entre os homens mais inteligentes e as mulheres mais lindas e procuradas de Paris.
Shanna, todavia, não se enquadrava em condições comuns, pois era neta de um lorde inglês, Henry, o primeiro conde de Haskins, e filha de um príncipe irlandês, Shane O’Hara, barão de Ballylee.
Mesmo assim, sabia que, entre os nobres franceses, sua linhagem de sangue azul pouco significava. C
onsideravam-na apenas como Shanna de Chinon, criada pelas freiras capuchinhas na abadia de Fontevrault.
Fora trazida a Paris como acompanhante e tutora de Henrietta Maria, a mais nova das três filhas do rei francês Henrique IV e da rainha Marie de Médicis. .
Apenas este último fato não lhe teria conquistado lugar no salão, mas a inteligência vibrante e a extraordinária beleza combinadas a haviam transformado numa das convidadas mais freqüentes e admiradas da marquesa.
Entretanto, nessa noite de primavera, Shanna não conseguia prestar atenção nos assuntos discutidos à sua volta.
Os últimos escândalos da corte, os desgovernos da rainha mãe, Marie de Médicis, a aliança recente com a Espanha e a tentativa de acordo semelhante com a Inglaterra não faziam outra coisa senão despertar-lhe o tédio.
Os pensamentos encontravam-se tumultuados com a notícia da chegada próxima do pai, Rory, The O’Donnell.
Ao entrar no salão, nessa mesma noite, seu irmão havia lhe contado a novidade.
O chefe do clã irlandês não era seu progenitor verdadeiro, porém, desde as mortes violentas de Shane O’Hara, seu pai, e lady Deirdre, sua santa mãe, sempre chamara O’Donnell de pai.
Fora ele quem a trouxera, e ao irmão Rory O’Hara, para a França depois da fuga dos condes irlandeses da região natal de Ulster, em 1607.
Também se devia à amizade entre O’Donnell e o padre Joseph, prior da abadia de Fontevrault, a admissão de sua babá Annie Carey, na ordem das capuchinhas, como irmã Anna.
Nesse convento, sob o olhar severo e a orientação dela, Shanna havia sido educada e aprendera a ser uma lady, ao mesmo tempo que seu pai adotivo não a deixara esquecer a herança irlandesa. Mas o padre Joseph compreendera que a jovem exilada, inteligente e linda, não merecia passar a vida isolada no convento do vilarejo de Fontevrault.



3 - Os Destemidos


Outono de 1649, Drogheda - Irlanda

O espectro da morte pairava sobre a cidade como uma mortalha, Há muito que o ribombar dos canhões havia cessado e não se ouvia mais pelas ruas o ruído estridente do aço contra o aço das espadas.
Uma quietude terrível envolvia o lugar, quebrada apenas pelos gritos agonizantes dos feridos, pela cadência solene da marcha dos soldados nas pedras do calçamento, pelo choro de algum bebê abandonado ou pelo ruído seco de mais uma casa que tombava, destruída pelo fogo.
Uma força de vinte mil soldados havia desembarcado na baía de Dublin e, inexoravelmente, marchado para o norte através de estradas precárias e por entre castelos em ruínas e fortes incendiados.
Ninguém se atrevia a interceptar-lhe a passagem, pois a sua reputação a havia precedido. Todos se acovardavam ao contemplar as túnicas dos soldados, rubras como sangue, que se destacavam, contra o verde brilhante da vegetação dos campos.
Sem um desafio sequer, eles haviam alcançado os portais do lado sul de Drogheda e, embora a cidade fosse defendida por três mil homens da elite da nobreza da Irlanda, conseguiram abrir uma brecha nos parapeitos de defesa, na terceira tentativa. O massacre que se seguira fora rápido, impiedoso e total.
Agora, o capitão Robert Hubbard, do Novo Exército Inglês reorganizado por Cromwell, encontrava-se no arco do portal Duleek, acima do pátio da igreja de St. Mary. A luz bruxuleante das chamas espalhadas pela cidade refletia-se no seu peitoral e no elmo com viseira.
O rosto de feições bem-feitas mostrava determinação e, sob as sobrancelhas escuras, os olhos negros brilhavam como brasas.
Robert Hubbard observava, impassível, os irlandeses derrotados que seguiam em fila pelo portal e se amontoavam como gado no pátio da igreja.
— Está feito — murmurou ele com voz grave — e, no entanto, está apenas começando.
O governador da cidade, sir Arthur Ashton, havia dito que quem conseguisse tomar Drogheda poderia conquistar o inferno também.
“Ótimo”, pensou Hubbard, “o inferno foi tomado”. Agora era apenas uma questão de tempo para o resto da Irlanda cair sob o domínio da espada dos puritanos.
Drogheda seria uma lição para as tropas rebeldes irlandesas menos fortes. Poucas, ou nenhuma, se atreveria a suportar um cerco sabendo que o Exército de Cromwell não teria misericórdia.
Em Drogheda, frades e padres tinham sido executados à espada assim que encontrados; nenhum homem de uniforme, ou portando armas, fora poupado. Civis apanhados no caminho dos soldados ingleses também haviam recebido morte impiedosa e todos os corpos foram saqueados. Os poucos que se esconderam foram descobertos e chacinados sem compaixão.
Inclemência constituía a lei marcial e a colheita sangrenta daqueles que haviam semeado a rebelião.
— Não considerem o que fazemos como algo monstruoso — o general Cromwell proclamara —, pois o sangue que derramamos é o trabalho de Deus feito por nós em seu santo nome.
Robert Hubbard sorriu e pensou consigo mesmo: “Pois eles que façam o trabalho de Deus porque eu farei o meu.”
Mais uma vez o olhar dele percorreu a massa humana comprimida no pátio da igreja e a fila que se perdia muito além do portal Duleek até quase as margens do rio Boyne. Um a um, os prisioneiros, homens, mulheres e crianças, caminhavam com morosidade até uma mesa junto ao portal, à qual se sentava um sargento inglês envolvido por uma grossa capa preta. Em frente a ele estava um grande livro aberto.
O processo parecia interminável. Cada rebelde irlandês era obrigado a declarar nome, idade, lugar de nascimento e religião. Só depois de anotar os dados no livro, o sargento ordenava em tom monótono:
— Em frente — e a pessoa se juntava às outras, no pátio da igreja. Enquanto observava indiferente o desenrolar vagaroso da cena, Robert
Hubbard viu uma criança de uns cinco anos parar em frente à mesa. A expressão dela não denotava culpa nem remorso e o capitão imaginou como morreria esse “rebelde”, à espada, ou de fome.
— Exterminem hoje as crianças e amanhã vocês não terão rebeldes contra quem lutar — os oficiais de Hubbard haviam repetido com freqüência.
O raciocínio possuía lógica, pensou ele ao ver a criança desaparecer entre os irlandeses segregados no pátio.




Série Dinastia O'Hara
1 - Os Rebeldes
2 - Os Aventureiros
3 - Os Destemidos
Série Concluída


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