Trilogia Wyckerley
Anne vive atormentada por um matrimônio infeliz. Geoffrey, seu marido, é um rico aristocrata mais interessado no jogo, mulheres e campanhas militares que nas obrigações domésticas. Ante tal situação, Anne só encontra consolo na relação com Christian, o atraente pároco do Wyckerley. Este sente por ela um grande afeto, mas dada sua profunda religiosidade unicamente pode lhe oferecer amizade. Entretanto nem sequer a vontade mais férrea resiste quando o amor e o desejo se transbordam.
Capítulo Um
Lorde D´Aubrey era um homem a quem resultava difícil amar inclusive em seu leito de morte. “Deus, me dê paciência e humildade”, rogou o reverendo Christian Morrell, que tinha por profissão - se assim podia considerar, amar inclusive aquilo que inspirava antipatia. Inclinado sobre a cama, sem chegar a tocá-la - apesar de estar doente, o ancião visconde ainda se incorporava se alguém que não fosse seu doutor se aproximava muito-, Christy perguntou a sua senhoria se queria tomar os sacramentos.
--Para que? Para ir direto ao céu? Você acredita que irei ao céu, vigário? Temo-me que... –ficou sem fôlego, e seu rosto apergaminado ficou lívido até que conseguiu aspirar uma baforada de ar.
Estava muito fraco para tossir e continuou tomando ar até que passou o espasmo. Logo ficou exausto, com as mãos apoiadas sobre o peito fundo.
Christy sentou outra vez na cadeira de respaldo alto que tinha aproximado da cama tanto como o ancião tinha permitido. O abajur de azeite que estava junto ao leito mal conseguia iluminar aquele dormitório grande e austero, de maneira que tinha que forçar a vista para ler o livro de orações. Tratou de recordar que detrás dos pesados cortinados brilhava o sol de meio-dia em uma primavera espetacularmente bela no Devonshire. A vida parecia uma frivolidade aí dentro, uma quimera. Fora cantavam as cotovias, zumbiam os insetos, e os esquilos subiam pela hera, mas na habitação do visconde doente Christy só ouvia o tictac de seu relógio de bolso.
Não pôde evitar pensar: “O doutor Hesselius deveria estar aqui”.
—Manda-me chamar se necessitar, embora duvide que seja assim - havia dito o doutor duas horas antes, nessa mesma habitação—. Não sente nenhuma dor... Normalmente não sofre, neste estado avançado da enfermidade. Duvido que passe de hoje. Fiz quanto pude. O velho Edward está em suas mãos agora, reverendo.
E Christy tinha assentido grave, serenamente, como se aquela predição não o desmoralizasse.
O reverendo se considerava, ao menos quando tinha um bom dia, um padre bastante eficiente, tendo em conta que era novo no cargo e que suas melhores qualidades eram as abnegações e as perseveranças. Mas possuía numerosos defeitos, que tinham um perverso modo de multiplicar-se e combinar-se em momentos como aquele, quando seu mais profundo desejo era confortar e consolar ao necessitado. Edward Verlaine representava um desafio especial, e Christy se desesperava porque não estava à altura das circunstâncias.
As lembranças se impunham sobre os esforços por rezar. Naquela habitação escassamente mobiliada, o escuro retrato com marco dourado do avô de lorde D'Aubrey ressaltava sobre o suporte da chaminé. O estranho sombreado cinza sob o nariz do aristocrático antepassado arrancou ao Christy um sorriso, embora fosse quase uma careta. Recordava o dia, possivelmente vinte anos atrás, em que ele e Geoffrey, seu melhor amigo, tinham entrado às escondidas na habitação, rindo e fazendo-se calar um ao outro, alterados e nervosos. Christy não acreditava que Geoffrey se atreveria realmente a fazê-lo, mas o fez; raptou uma cadeira e pintou com carvão um bigode no carrancudo rosto de seu bisavô. Ainda ficavam rastros, pois o carvão tinha demonstrado uma notável resistência aos numerosos esforços que se fez por apagá-lo. Christy perguntava se Geoffrey conservaria ainda as marcas da surra que seu pai tinha ordenado lhe dessem e que administrou o mordomo, pois inclusive quando estava colérico Edward Verlaine mantinha a distância.
Trilogia Wyckerley
1 - Lealdades Enfrentadas
2 - A Mulher Cativa
3 - Não Traduzido
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Oiii você não vai sair sem comentar nada vai? Ou que tal indicar o que leu. Ou então uma resenha heheheheh...Todo mundo agradece, super beijo!