24 de agosto de 2011

Terra Em Fogo



Lucilla parou diante dos retratos.



Reconheceu facilmente o presidente e o vice presidente de Quito, depostos pelos revolucionários de Simón Bolívar.

Mas foi o retrato do terceiro homem, um completo desconhecido, que chamou sua atenção, a ponto de não conseguir mais olhar para os outros.

Era moreno, alto, tinha olhos negros e frios, boca cruel e o nariz aquilino característico da nobreza espanhola.

Sem saber por quê, sentiu que aquele rosto orgulhoso escondia algum segredo. Aproximou-se para observar melhor.

Havia um nome embaixo do retrato, Don Carlos de Olaneta.

Um arrepio percorreu seu corpo, um aviso, um pressentimento de que aquele homem mudaria sua vida.



Capítulo Um



1822

Lucilla olhou para os morros que cercavam Quito e vislumbrou, por entre as nuvens, os picos brancos dos Andes.

Não era de admirar que Quito fosse considerada a Cidade Encantada do Equador, pois a cada momento parecia mais bela.

Lucilla, a irmã e o pai tinham vindo da Inglaterra para a baía de Guayaquil.

Ali chegando, souberam, consternados, que os espanhóis tinham sido derrotados numa batalha.

O pai de Lucilla, Sir John Cunningham, mal podia acreditar.

Viera da Inglaterra num navio cheio de mosquetes e de outras armas, para vender aos espanhóis, e agora parecia que sua viagem tinha sido inútil.

Mas, otimista, achou que os boatos talvez fossem falsos ou exagerados, e resolveu seguir para Quito, com as filhas.

Lucilla não ficou impressionada com Guayaquil, embora soubesse que a grande baía de sessenta e quatro quilómetros de comprimento e três vezes este tamanho de largura era não apenas uma das maiores da América do Sul, como tinha sido palco de grandes acontecimentos históricos.

Só o que viu foram casas de bambu sobre estacas, construídas em terreno pantanoso. Três séculos de devastações feitas por piratas e cupins tinham transformado o porto um lugar feio, insalubre e perigoso.

O pai só se interessava pelos navios ali ancorados, alguns construídos em Guayaquil, que levavam cacau, algodão e borracha para outras partes do mundo, dando ao Equador a fama de ser um centro de comércio.

Enquanto esperavam as carruagens, fizeram uma refeição pouco apetitosa numa estalagem esquálida, suja e sem conforto.

Mas Lucilla nada criticou, feliz por ter chegado à América do Sul e não ter sido deixada em casa.


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