29 de março de 2015

Noites de bailarina









Sozinha, sem meios para viver decentemente, Fiona foi trabalhar como bailarina num dos night-clubs mais chiques da cidade. 

Devia dançar com homens desacompanhados, carentes de amor e amizade. 
Uma noite, um desconhecido jovem e belo apareceu... Começaram a dançar abraçados, muito juntos. E ele a beijou, numa carícia doce, apaixonada. 
Cativa nos braços fortes que a cingiam, sentia-se embalada pela música, conhecendo emoções nunca antes experimentadas, sequer imaginadas! 
Neste momento, Fiona não se lembrava que era apenas uma dançarina de aluguel.

Capítulo Um

Lonfres, 1929
O motorista mantinha o capo do Rolls-Royce levantado e o motor funcionando, enquanto limpava o carro, assobiando a nova canção que nas últimas semanas tornara-se o maior sucesso em Londres.
Algumas crianças brincavam no pátio pavimentado com pedras arredondadas, à frente da garagem, tomando o sol da manhã.
Fiona revirou-se na cama estreita e finalmente acordou. Ficou deitada por uns minutos tentando voltar aos sonhos, mas gradativamente ganhou consciência da algazarra sob sua janela.
"Que barulho!", pensou, irritada, desejando poder encontrar um quarto barato como aquele, porém mais silencioso.
O pequeno cômodo que ocupava, com espaço suficiente apenas para a estreita cama de ferro, uma cômoda e o lavatório, só lhe era conveniente pelo baixo aluguel pago à esposa do motorista: dez xelins por semana.
Até a véspera esse era o aluguel máximo que podia pagar, porém na noite anterior começara num novo emprego com o magnífico salário de trinta xelins por semana.
Pensando no novo trabalho, teve de reconhecer que sua estreia fora um tanto penosa. Ao voltar para casa há menos de cinco horas, tinha os olhos ardendo por causa da atmosfera esfumaçada, as pernas doídas e os pés machucados devido aos sapatos novos comprados para a ocasião.
Apesar de tudo, sentia-se feliz e orgulhosa de ter sido a escolhida para a vaga, entre tantas candidatas, todas elas com a ansiedade no olhar, necessitadas que estavam de um emprego que as salvasse da penúria.
A vaga era de dançarina, ou "dance-hostess", no mais elegante restaurante do West End, o Paglioni, frequentado pela alta sociedade e pelos jovens da realeza.
Paglioni empregava duas dançarinas e um dançarino, ou "dancehost".
O trabalho dos três era estimular os presentes a dançar, desde os primeiros acordes da orquestra, até o fim da noite.
Os três dançarinos sentavam-se a uma mesa e qualquer cavalheiro que desejasse um par para a dança podia ser apresentado a uma das "dance-hostesses". O dançarino em geral apresentava-se às senhoras mais velhas, cujos maridos, ou devido à idade ou à apatia, não se entusiasmavam para aprender os passos dos novos ritmos, tirava-as para dançar.
O ambiente era respeitoso e exigia-se que o cavalheiro interessado em dançar com uma "dance-hostess" lhe fosse apresentado por Paglioni ou pelo "dance-host".
Na maioria dos restaurantes o salário dos dançarinos era de apenas dez xelins por semana e esses profissionais recebiam gorjetas de seus pares. Mas Paglioni teve a ideia de atrair mais clientes para seu restaurante cobrando apenas a refeição e as bebidas sem haver pagamento extra pela dança.









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