Charles Egremont era um solteiro contumaz por convicção e necessidade, já que não podia permitir-se manter uma esposa.
Além disso, ocultava um segredo. Entretanto, cometeu o engano de aproximar-se muito de Lauren Mowbray, uma jovem forte e decidida a não se casar se não fosse por amor, e ficou fascinado por ela. Lauren tampouco escaparia ilesa à fascinação que lhe produzia Charles, mas nem toda a força, valentia e decisão do mundo poderiam havê-la preparado para brigar com alguém que não queria ser amado. Conseguiria a força do coração dar a Charles a confiança em si mesmo que tanto necessitava para atrever-se a amar?
Capítulo Um
Londres, 1892
O primeiro Barão de Egremont, do condado do Surrey, fora famoso no século XIII e a história do Baronato estava preenchida com uma série de serviços emprestados à Coroa, por isso gozava de um bem merecido prestígio.
Ninguém se atreveria jamais a fazer um só comentário negativo a respeito à honra do atual barão, ou qualquer membro de sua família. Não só eram respeitados, mas muito estimados pela chamada boa sociedade.
Sir Patrick Egremont era um homem justo, generoso e de caráter agradável. O baronato que ostentava não era tão rico como outros da região, mas contava com terras férteis e uma renda nada desprezível que, chegado o momento, passariam a seu filho maior, Arthur Egremont, um homem jovem e sensato, tão querido como seu pai e que, ninguém o duvidava, saberia levar com dignidade o título que algum dia passaria a suas mãos.
Além disso, o legado do baronato estava assegurado por outra geração, já que Arthur contraiu matrimônio muito jovem com a encantadora filha de um conde, e o céu os tinha abençoado com dois pequenos varões. Certamente, impossível pôr em dúvida a prosperidade e futuro de um título que formava parte da história da nação.
Entretanto, com frequência as pessoas pareciam esquecer de um importante membro da família Egremont ou, para ser mais exato, não lhe dar a importância que lhe correspondia.
Porque o barão não tinha somente um filho, mas sim dois. O menor deles, Charles Egremont, era todo um personagem por si mesmo. Possivelmente este fora o motivo pelo que as pessoas, sua família incluída, davam por efeito que não havia necessidade de o recordar de quão estimado era; depois de tudo, ele tampouco dava a impressão de necessitar de uma atenção especial.
Charles era um homem jovem, na casa dos trinta anos, arrumado, com um senso de humor invejável e que, como por obra de magia, agradava a quase todo mundo. Muito poucas pessoas podiam encontrar algo que reprovar em sua conduta e se por acaso era esse o caso, eram qualificadas de seres sem bom julgamento para apreciar a um cavalheiro tão unânime e simpático.
Desde sua mais tenra infância, Charles mostrou um engenho superior ao que cabia esperar, com a palavra certa para arrancar gargalhadas de seu pai e converter-se no mais mimado pelas babás. Se algo obscureceu sua infância foi o precoce falecimento de sua mãe, apenas quando o pequeno contava com cinco anos, mas soube recuperar-se logo e se esta perda teve algum efeito profundo nele, jamais o demonstrou.
Passou os anos de escola mostrando que não era somente um jovem encantador, mas também brilhante, embora nunca tenha se esforçado muito por fazer-se notar; encontrava mais divertido formar parte dos grupos mais inquietos em Eton.
Uma vez integrado na sociedade, tal e como se esperava dele por sua ascendência, ocupou facilmente o lugar que lhe correspondia e foi recebido com muito entusiasmo por seus semelhantes. Quem não gostaria de contar com o arrumado e gracioso Charles em suas festas? As damas mostravam uma simpatia imediata e os cavalheiros, salvo pequenas exceções, tratavam-no com especial deferência.
Charles Egremont era um êxito e assim transcorreram os primeiros anos de sua vida adulta.
Entretanto, tal e como mencionamos nas primeiras linhas desta história, muitas vezes as pessoas costumam supor o que outros necessitam com frequência ouvir. Porque o bom Charles se divertia muito como o indivíduo divertido e malicioso que animava as festas e gozava da estima de sua família, mas às vezes, só às vezes, desejava ser visto como algo mais.
E é justo esclarecer que Charles nunca invejou a primogenitura de seu irmão, nem desejou em segredo o baronato; simplesmente, perguntava-se o que seria dele no futuro, quando as reuniões o aborrecessem um pouco e o flerte malicioso com as damas deixasse de lhe agradar.
Não contava com uma grande renda, apenas a necessária para viver com dignidade. Os membros de sua classe não trabalhavam, não a menos que se encarregassem de administrar suas propriedades e ele não possuía nenhuma. Vivia de forma decorosa com o dinheiro que recebia cada mês, sem maiores preocupações, mas pensava, cada vez com mais frequência, em que não lhe incomodaria fazer algo útil, apenas para variar.
Além disso, e isto não o reconheceria jamais, nem ante o respeitado Robert, conde de Arlington, seu melhor amigo, mas fazia um tempo que certa ideia começava a rondar sua mente, uma que não se atrevia sequer a nomear.
Cada vez que visitava seu irmão Arthur na mansão familiar e o via compartilhar coisas com sua cunhada, ou passava uma temporada em Devon com o mencionado Robert e sua esposa Juliet, sentia algo muito parecido à inveja e ele não era uma pessoa que se rendesse a esse tipo de sentimentos. Entretanto, não era singelo ignorar esse desejo que começava a atacá-lo nos momentos menos propícios.
Como seria amar tanto a uma mulher que só sua presença o colocasse em um estado de encantamento? Porque não podia pensar em outra palavra para definir as expressões que via nos rostos de Arthur ou de Robert frente a suas respectivas esposas, especialmente no caso do segundo. Seu melhor amigo nunca foi um homem excessivamente romântico, mas cada vez que Juliet aparecia, olhava-a com uma adoração que com frequência o fazia sentir-se incômodo, como se fosse um espectador indiscreto sem direito a observar um sentimento tão íntimo.
E logo, claro, estava ela. Alguma mulher iria olhá-lo da forma que Juliet olhava Robert? Como se o amor fosse tão forte entre eles que de alguma forma ia além de seus olhares? No início de seu matrimônio sentiu uma profunda curiosidade, quase uma diversão ante este fenômeno, mas se fosse sincero consigo mesmo, cada vez lhe parecia mais invejável.
Amar e ser amado. Soava bem, embora estivesse longe de seu alcance.
Como o segundo filho de um barão não muito rico ninguém poderia considerá-lo um bom partido. Divertido para compartilhar um bate-papo agradável e uns quantos flertes inocentes; um excelente casal nos bailes mais distintos, mas…
Muito obrigada pelo trabalho de vocês!!! É incrível!!��
ResponderExcluirOlá, li e gostei. Diálogos divertidissimos. Me lembrou Julia Quinn.
ResponderExcluirObrigada!