22 de julho de 2024

O Casamento Falso

 A encantadora e bela Catherine Renwick tinha bons motivos para desprezar o moreno bonito e insuportavelmente arrogante James Pembroke, Conde de Allandale.

Foi esse homem deplorável que, em uma noite de devassidão selvagem, fez com que Catherine fosse sequestrada e trazida a ele em uma estalagem de campo. Foi ele quem tomou sua virtude à força e a deixou ameaçada de desgraça. É verdade que agora ele estava disposto a fazer o certo dando-lhe seu nome em casamento. E igualmente verdade, ela não tinha escolha a não ser aceitar.
Pelos padrões da Londres aristocrática, o casamento entre o Conde de Allandale e Catherine Renwick parecia o mais perfeito dos pares. Afinal, ambos tinham o parceiro perfeito.
O Conde tinha a encantadora e soberba sensual Lady Caroline Amberly não só como sua amante, mas também apaixonada por ele. Catherine tinha seu namorado de infância, Ian Maxwell, ainda totalmente apaixonado por ela e disposto a se dedicar à sua felicidade.
O que mais um casal poderia querer?
A resposta veio como um choque… não apenas para as fofocas da Regência, mas para um marido e uma esposa lutando contra seus próprios desejos indesejados…

Capítulo Um

— Maldição, Matt, não! — O Conde de Allandale ergueu os olhos da taça de vinho à sua frente e dirigiu um olhar cinza claro para o amigo. — Se você não tivesse se deixado distrair por aquela maldita garota, nós não estaríamos presos aqui em primeiro lugar. Nos jogando em uma vala como dois caipiras!
— Sua autoestima foi a única coisa que se machucou, meu rapaz. Eles vão consertar aquela roda até amanhã, e nós podemos seguir nosso caminho. — O capitão Matthew Armstrong considerou seu amigo astutamente. — Mas pelo que posso ver, Jamie, você não deseja muito voltar para Londres.
A mão de Allandale ficou presa no ato de levantar o copo. Lentamente, ele o devolveu à mesa. — O que você quer dizer, Matt? — Ele disse cuidadosamente.
— Quero dizer, rapaz, que durante todo o tempo que estivemos na Escócia você ficou bem. Mas assim que viramos as costas para a urze e o peixe, você se transformou em uma ostra. — Capitão Armstrong parecia indignado.
— Você estava de mau humor, meu rapaz, muito antes de eu jogar você nessa vala. Por que você acha que eu senti a necessidade de uma conversa adicional? Infelizmente, não era em mim que ela estava interessada. Elas nunca estão, — ele acrescentou tristemente, — quando estou com você, Jamie.
O silêncio caiu enquanto o Conde continuava a beber metodicamente, apenas parando para sinalizar para uma nova garrafa. Matt o observou preocupado. Era fácil ver o que as mulheres encontravam para atraí-las em James Pembrook, sexto Conde de Allandale. Seu cabelo preto caía em desordem sobre a testa e quase tocava os longos cílios negros que escondiam seus olhos. Aqueles olhos, cinza claro e surpreendentes em seu rosto bronzeado, tinham um olhar nos últimos dias que deixou Matt extremamente inquieto.
Formavam um par estranho, o aristocrata esguio que se movia com a graça de um gato de caça e o escocês alto e corpulento. Matt conhecera Allandale durante a campanha de Talavera na Espanha em 1809. Quando o espanhol sujo e maltrapilho que Matt resgatara da emboscada se revelou o inglês responsável pela incrível tarefa de coordenar as movimentações da guerrilha espanhola, Matt se tornou seu devoto seguidor. Liberado do dever oficial de auxiliar o jovem Allandale, Matt tornara-se um especialista em passar por território espanhol sem ser descoberto, levando mensagens entre Wellington, em Portugal, e seu brilhante jovem estrategista na Espanha.
Matt adorava Allandale. Mas ele não o entendia. E ele temia o clima sombrio de desespero que vinha lentamente invadindo Allandale desde que eles viraram as costas para a Escócia.
— Fiquei muito feliz por você deixar a vida despreocupada em Londres e me fazer uma visita em minha terra natal, Jamie. Mas, além de seu desejo compreensível pela minha brilhante companhia, o que fez você querer vir?
A boca de Allandale se torceu em algo que era realmente um sorriso quente. — Eu estava entediado, Matt — disse ele. E serviu-se de outra taça de vinho.
— Sabe o que eu acho, Jamie? Acho que você sente falta da guerra.
Allandale apoiou a testa nas mãos trêmulas e olhou para a mesa. Sua voz, quando veio, estava abafada. — Deus, Matt, espero que não. — Houve um momento de silêncio, depois ele continuou a contragosto. — De certa forma, porém, a guerra me deu algo que eu realmente nunca tive antes.
A voz de Matt era gentil. — E o que foi isso, rapaz?
Os olhos cinzentos à sua frente eram brilhantes. — Uma razão para viver, Matt, — o sexto Conde de Allandale, bonito, rico e bem-nascido, disse com franqueza e sinceridade.
Matt, vinte anos mais velho que Allandale e se considerando sortudo por ainda estar entre os vivos, balançou a cabeça com incompreensão.
— Peço perdão, milorde. — O estalajadeiro aproximou-se da mesa deles. — A roda do seu faetonte será consertada até amanhã de manhã, milorde. Você pode sair logo após o café da manhã.
— Bem, agora, — Matt explodiu, — isso é uma boa notícia, Jamie. Podemos sair mais cedo, e estarei em York para cuidar dos meus negócios amanhã. Por que você não vai encontrar aquela moça perto da Muralha Romana, como ela disse, e eu vou…
Ele parou quando a voz de Allandale o interrompeu. — Senhorio! Outra garrafa, por favor.
— Pare de beber, Jamie. — A voz de Matt era urgente. Ele nunca tinha visto Allandale beber assim antes, e a intensidade obstinada do Conde o deixou nervoso. — Vamos, Jamie, ela era uma coisinha muito predestinada. — Ele estendeu a mão e tentou tirar o copo da mão do amigo. Dedos rápidos, fechando-se em seu pulso, adormeceram seu braço. A expressão no rosto de Allandale lembrou a Matt vividamente seus anos na Espanha; as últimas semanas de camaradagem fácil na Escócia foram eliminadas. A voz calma, cheia de raiva, era a que Matt sempre obedecia. — Pare de bancar a babá, Matt. Se eu quiser beber, eu bebo. — A voz de Allandale era sombria e reservada. Lentamente, Matt aceitou o copo que estava segurando.
— Tudo bem, rapaz. — A voz de Matt estava relutante. — Vamos beber.



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