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12 de março de 2010

A Deusa de Gelo








Derretendo um coração de gelo...

Escócia, 1206

George Grant, chefe de um clã da Escócia, foi o único sobrevivente de um naufrágio. Ao acordar em uma ilha gelada e estranha, sentiu-se subitamente apreensivo, pois teria de dar um jeito de voltar logo para casa e cumprir seu dever: casar com a bonita e elegante noiva escolhida pelo rei da Escócia.
Mas ao conhecer a mulher de quem se tornara prisioneiro, uma viking destemida, forte e obstinada, seus planos mudaram!
Rika era tão fria e dura quanto os braceletes de metal trabalhados que lhe cobriam os pulsos. No entanto, o rubor de sua face negava seu exterior gélido.
Ela precisava de um marido guerreiro para reivindicar seu dote com o qual pretendia comprar a liberdade do irmão, e George parecia ser o homem ideal para isto!

Capítulo Um

Ilhas Shetland, 1206
George estava sonhando. Sim, era essa a explicação para o que estava acontecendo.
Os olhos ardiam por causa da areia e do sal. A água gelada corria sobre seu corpo enregelando-lhe os ossos. Já não sentia as pernas. Se pelo menos pudesse fazer algum movimento ou gritar.
— Ele é perfeito — uma voz feminina sussurrou bem perto do seu ouvido.
Ele sentiu um dedo macio passando ao redor do seu queixo.
— Aposto que ele está completamente morto. — A voz grossa era agora, evidentemente masculina e tinha um sotaque muito estranho.
Com esforço George entreabriu os olhos para a claridade do amanhecer e tentou focalizá-los nas pessoas que estavam falando.
— Que aposta infeliz a sua, Legislador. Veja, ele está acordando — tornou a voz feminina.
Não, ele não estava sonhando. Estava morto. Só podia estar.
A visão que parecia flutuar acima dele era suficiente para convencê-lo de que não se encontrava entre os mortais. É claro que ele já ouvira falar sobre mulheres como aquela que no momento olhava para ele com atenção. Os navegantes dinamarqueses que iam a Inverness para negociar reuniam-se ao redor de fogueiras nos acampamentos e contavam lendas de sua terra. Mas ele era cristão e não acreditava naquelas histórias.
No entanto, ali estava ela. Podia vê-la perfeitamen¬te, acima dele, observando-o, esperando.
— Valquíria — George murmurou.
A visão franziu a testa e estreitou os pálidos e frios olhos azuis que continuavam fixos nele.
— Você tem razão — a voz masculina disse de algum lugar, no limite da consciência dele. — Ele não está morto, é apenas maluco.
Oh, ele estava morto, sem dúvida. Se não estivesse, como explicar a presença daquela criatura?
Ela analisava-o atentamente. Tinha duas grossas trancas loiras e sedosas, presas com argolas de bronze trabalhado, caídas sobre o colo nu. Usava um elmo, como o de um guerreiro, e túnica longa de cota de malha de ferro. O elmo era ornado com relevos estranhos, semelhantes às letras rúnicas que ele já vira nas pedras muito antigas que se erguiam perto da baía de Firth.
Apesar do traje e da expressão severa e perspicaz, ele não teve dúvida de que ela era uma mulher. Isso era revelado nas maçãs do rosto coradas e nos lábios cheios e vermelhos.
O homem deitado passou lentamente o olhar pela curva do pescoço dela e pelos ombros estreitos. Os bra¬ços nus eram bronzeados e adornados com mais argolas de metal trabalhado, iguais as que lhe prendiam as tranças. A cada movimento respiratório o peito dela erguia-se sob a cota de malha.
— Eu estou... em — ele começou a falar com dificuldade, a voz grossa e áspera. — Aqui é...
Ele tossiu, sentindo a água salgada raspar-lhe a gar¬ganta. Notou o olhar penetrante da Valquíria e completou a pergunta:
— Aqui é Valhalla?
O som de risadas de homens perturbou a melancólica harmonia do crocitar das andorinhas-do-mar e dos cormorões.
— Este é, provavelmente, o lugar mais distante de Valhalla — respondeu a Valquíria. — Aqui é Frideray. Fair Isle.
Ele sentiu a cabeça girando e um súbito enjôo.
— Mas... então... — George tentou sentar-se e recebeu um forte empurrão da Valquíria, que o derrubou na areia novamente.
Uma onda de água gelada cobriu-lhe as pernas e ele começou a tremer.
— Quem... são vocês?— Sou Ulrika, filha de Fritha. Ou apenas Rika.