Mostrando postagens com marcador Alma Viking. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Alma Viking. Mostrar todas as postagens

21 de maio de 2017

Alma Viking




Odín, deus da guerra, tinha-o eleito.

Educado nas armas, o viking e semideus Ishkar, primogênito da casa de Vadin, estava destinado a realizar grandes conquistas.
Sayka, filha de Zollak, e Cristã, tinha tomado as armas em substituição de seu irmão menor para defender a seu povo de toda classe de invasores.
Enfrentados entre si, a cobiça, o ódio, a vingança…
Unidos a ardente fé do povo ao qual pretende submeter, conseguirão que Ishkar duvide de sua condição de semideus e de suas crenças.

Capítulo Um

«Vêm do norte, hostil e frio.Saqueiam os mosteiros, aniquilam os povos e profanam as Igrejas…»
A proa do navio, em forma de pescoço de cisne, elevava-se quase cinco metros por cima da água. Coroada pela feroz cabeça de um dragão, parecia disposta a enfrentar de igual maneira aos ventos ou às enfurecidas ondas, e fulguravam os arranjos sob o sol de meio-dia. Ishkar não pôde dissimular um sorriso satisfeito observando a nave. Com a vivacidade de um golfinho, os mais de vinte e cinco metros de comprimento do navio sulcavam o mar aproximando-os de seu destino. Um destino que tinha uma missão muito concreta: negociar ou invadir; tudo dependia dos ingleses e a favor de quem estivessem.
Em fevereiro de 1014 Knut de Store, mais conhecido pelos ingleses como Canuto o Grande, depois da triunfante invasão à Inglaterra um ano antes e o falecimento de seu pai, tinha sido proclamado rei pelas tropas dinamarquesas. Ethelredo II, entretanto, tinha aproveitado sua volta à Dinamarca para fazer-se com o trono. Ainda não tinham cessado as escaramuças e a Inglaterra se encontrava dividida em dois bandos opostos. Vadin tinha acompanhado a Canuto em algumas batalhas, era um de seus homens de confiança e gozava de seu beneplácito, mas doente como se encontrava nesses momentos delegou em seus dois filhos a incursão que lhe tinha sido encomendada.
Ishkar tinha no drakkar trinta homens sob seu comando, e um número similar em cada uma das outras naves que lhe seguiam. Agora, apoiados nos remos, tomavam uma pausa depois da fatigante e ocupada jornada do dia anterior, em que o vento não lhes tinha acompanhado, lhes obrigando a impulsionar a nave a golpe de remo. Naquela manhã, todas as velas estavam cheias e eles podiam descansar.
A madeira de pinheiro da ponte rangeu sob o peso do homem que se aproximou até ele. Se não lhe conhecesse, esse saco de músculos teria feito que fraquejasse; Goonan o ultrapassava em uma cabeça, seus ombros eram largos, seus braços poderosos troncos de aço, suas mãos grandes como maças e capazes de amassar o crânio de um homem sem esforço algum. Tudo em seu aspecto dava amostra de ferocidade e intimidava. Entretanto, seus olhos azuis olhavam Ishkar com afeto.
Uma de suas mãos caiu sobre o ombro esquerdo do mais jovem, sacudindo-o.
― O vento é hoje nosso aliado, Ishkar.
― Certo. Logo chegaremos à costa; Erik deve estar nos aguardando impaciente.
― Terá conseguido suficientes cavalos?
― Conte com isso.
Goonan fez um gesto vago e se encostou á amurada. As ondas, ao romper contra o casco da estilizada nave, salpicaram seu rosto; o ar enredou ainda mais seu avermelhado cabelo e acariciou sua espessa barba.
― Nunca gostei de me fazer de babá.
Ishkar jogou a cabeça para trás deixando escapar uma gargalhada.
― Goonan, Erik não a necessita.
― Ele teria gostado de chegar às costas inglesas sozinho e fazer o que seu pai não quer: brigar. Conheço seu irmão, a ordem de Vadin lhe fazendo aguardar o grosso de nossas forças não foi de seu agrado.
― Mas acabou obedecendo.
― Isso ainda está por se ver ― resmungou o ruivo.
Ishkar voltou a rir com humor. Desde que deixaram a Dinamarca, os deuses lhes tinham prodigalizado boa fortuna; Goonan se preocupava por nada. Chegariam à Inglaterra, tentariam conseguir as alianças encomendadas por Canuto, obteriam estanho, trigo e mel e intercambiariam culturas antes de retornar com novos apoios. Mais cedo ou mais tarde Canuto voltaria a governar sobre a ilha.
O ruivo olhou ao jovem sem intenção de unir-se a seu divertimento, mas agradecido por seu excelente estado de ânimo. Muitas vezes o tinha visto irritado e não gostava de suportar seu humor quando lhe azedava.
Para ele, Ishkar era como o filho que não tinha tido. Desde que se uniu à Vadin, um dos senhores das terras do norte, tinha estado junto ao moço. E quando o jovem foi eleito pelo muito mesmo Odín, foi a ele a quem Vadin encarregou sua educação. Tinha-lhe ensinado tudo que sabia a respeito das armas e a navegação.
Recordou aquele longínquo dia de inverno, o da consagração de Ishkar como protegido dos deuses. 
Veja vídeo do lançamento