É o ano de 1916 e Roberta Jewett voltou de Boston com suas três filhas pequenas, cheias de esperança para um novo começo na cidade onde ela foi criada.
Mas, em Camden, Maine, uma mulher divorciada é uma mulher evitada. Apenas um homem a trata com respeito: o viúvo contratado Gabriel Farley, que começa o trabalho de reformar sua casa. Apesar da química
entre eles ser inegável, eles a combatem. Então, ironicamente, um ato brutal de violência obriga-os a reconhecer os sentimentos poderosos que têm crescido entre eles. Mas como eles lutam por justiça contra uma cidade determinada a provar seus erros, Roberta percebe que o pior calvário ainda está por vir...
Capítulo Um
Camden, Maine, 1916
Roberta Jewett tinha alimentado esperanças de que predominasse um bom tempo no dia em que ela se mudasse com suas filhas de volta para Camden, Maine. Em vez disso, uma mistura de chuva afiada como agulhas e um denso nevoeiro tinham acompanhado o barco vindo de Boston por todo o caminho ao longo da costa. Um vento persistente vindo do sudoeste provocou uma ressaca
marítima furiosa, contribuindo para que a viagem fosse um verdadeiro inferno.
A pobre Lydia vomitou a noite toda. A menina, de dez anos de idade, estava deitada em um banco duro de madeira com a cabeça no colo de Roberta, de olhos fechados, pele esverdeada. Suas tranças tinhas as pontas
desfeitas como antigas cordas esfiapadas.
— Quanto falta, mamãe? — ela perguntou, olhos e voz melancólicos. Roberta olhou para sua filha mais nova e
— Quase sete. — Você acha que chegaremos na hora prevista?
— Deixe-me ver onde estamos. — Gentilmente, ela retirou a cabeça de Lydia do colo dela e colocou-a em
um casaco que estava enrolado como um travesseiro.
— Já volto. Deu uma olhada em suas outras duas filhas, Susan e Rebecca, que estavam dormindo perto delas, com as bochechas e os braços apoiados sobre uma mesa envernizada. Ao redor delas, outros passageiros dormiam nos incômodos assentos correspondentes às passagens mais baratas.
Alguns roncavam. De outros, fios de saliva escorriam entre os lábios. Alguns despertaram, agora que estava por despontar o amanhecer e o fim da viagem. Se aquela houvesse sido uma viagem transatlântica que levasse imigrantes a América, aquela cabine se chamaria “porão”.
Mas como se tratava da muito distinta Eastern Steamship Line que fazia o trajeto diário da costa de Boston a Bangor, o folheto evitava termos tão degradantes e preferia utilizar o pomposo nome de “cabine da terceira classe”. Mas qualquer um que houvesse passado nesse lugar 13 horas seguidas, saberia que o nome correto era “porão”. Ali não havia vistas panorâmicas apenas umas minúsculas janelas. Roberta encaminhou para uma delas e viu que as gotas de chuva golpeavam contra os vidros como se jogassem baldes de água desde a popa. O vidro estava embaçado. Ela o limpou com a manga de seu casaco e olhou para o lado de fora. Era pouco menos das 7 da manhã e o céu começava a clarear.