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17 de novembro de 2010

Coração de Fogo

Série Família Knight





Estava há anos preparando tudo.


Por fim estendia a armadilha perfeita para atrair os membros mais relaxados da sociedade inglesa até sua guarida. Agora poderia ganhar definitivamente sua confiança e lhes surrupiar seus mais escuros segredos.

Ninguém, nem sequer sua família, sabe que Lorde Lucien Knight é, na realidade, um espião a serviço da Coroa.
E que atrás da máscara da libertinagem se oculta uma alma atormentada, que perdeu a estima de quem mais queria e que já não confia em ninguém.
Até que o acaso põe a jovem e decidida Alice Montague em seu caminho.

Capítulo Um

Londres, 1814
As sombras esculpiam seu perfil afilado enquanto contemplava o abarrotado salão de baile do alto e escuro balcão; a oscilante luz da vela dava a impressão de que aparecia e desaparecia, como um fantasma alto e elegante.
O vacilante resplendor se refletia em seu cabelo negro e deixava ver o maquiavélico brilho de astúcia de seus olhos da cor do mercúrio. Paciência. Tudo estava em ordem.
A preparação era fundamental, e ele tinha sido meticuloso.
Lorde Lucien Knight levou a taça de cristal de Borgonha aos lábios com expressão pensativa, e se deteve para inspirar seu suave aroma antes de beber.
Ele ainda não sabia quais eram os nomes ou as faces de seus inimigos, mas podia sentir que se aproximavam dele como uma manada de chacais.
Não importava. Estava preparado.
Tinha estendido a armadilha e tinha posto iscas e todo o tipo de atrativos sensuais e pecaminosos, e com o canto de sereia das atividades políticas subversivas, nenhum espião podia resistir.
A única coisa que lhe restava fazer era esperar e observar.
Vinte anos de guerra haviam chegado ao seu fim na primavera anterior, com a derrota e a abdicação de Napoleão, e seu exílio na ilha mediterrânea de Elba.
O outono tinha chegado, e os dirigentes europeus se reuniram em Viena para redigir o tratado de paz; entretanto, qualquer homem com um mínimo de cérebro podia ver que até que Napoleão fosse levado a um local mais seguro e afastado no Atlântico, pensava Lucien realisticamente, era evidente que não podia dar-se por acabada a guerra.
A ilha de Elba estava a um tiro de pedra da Itália, e havia quem s opunha à paz, quem não enxergava nenhum benefício no rei Bourbon Luis XVIII recuperar o trono da França e desejavam que Napoleão retornasse. Como um dos mais capacitados agentes secretos da coroa britânica, Lucien tinha instruções do ministro dos Assuntos Exteriores, o Visconde de Castlereagh, de vigiar até que se ratificasse o tratado de paz; sua missão consistia em evitar que os poderes na sombra causassem problemas em solo inglês.
Tomou outro gole de vinho com um brilho furioso em seus olhos cinza. "Que venham." Uma vez que o fizessem,os encontraria, apanhá-los-ia e os destruiria, tal como havia feito com muitos outros. Na realidade, ia fazer com que viessem a ele.
De repente se ouviu uma ovação no salão de baile, que se estendeu entre a multidão. “Ah, ah, o herói conquistador”.
Lucien se inclinou para frente apoiando os cotovelos na beirada do balcão e contemplou com um sorriso cínico como seu irmão gêmeo, o coronel Lorde Damien Knight, entrava no salão de celebrações, deslumbrante com seu uniforme escarlate e a elevada e severa dignidade do Arcanjo Miguel ao voltar depois de matar o dragão.