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15 de fevereiro de 2010
Domínio dos Deuses
O sonho
A luz que se filtrava pelas folhas do carvalho sagrado caía sobre os ombros, o pescoço e o colo alvo da jovem ajoelhada junto ao arroio, envolvendo-a numa dourada opalescência.
Ela estava com os braços mergulhados na água fresca, e os luminosos reflexos de tons rosados desciam-lhe ao longo dos pulsos.
Parecia distraída. Mas, quando uma corça e sua cria aproximaram-se cautelosamente da margem relvosa, estendeu impulsivamente as mãos transbordantes e deu-lhes de beber.
Depois, ao sentir o contato macio do focinho dos animais, riu com a cabeça tombada para trás e, sob a caricia do sol, seus cabelos vermelho-dourados pareceram feitos de luz. O homem que a observava, oculto pelos ramos das árvores, descobriu uma felicidade intensa na quietude da cena deliciosa.
Permaneceu imóvel, sem outro pensamento que não o de contemplar a própria beleza através daquela graciosa criatura.
Capítulo Um
Lívia Augusta Basilius, filha mais velha do mercador Marcus Basilius, cavalgava mergulhada em cismas.
As folhagens espessas do bosque de pinheiros e carvalhos que ela atravessava turbilhonavam, inclinavam-se e afastavam-se à sua passagem.
Na villa sentia-se sem defesa, mas, ali, uma força estranha apoderava-se dela e lhe dava a impressão de ser completamente livre. Um sentimento ao mesmo tempo puro e excitante que fazia seus olhos brilharem e seus lábios entreabrirem-se.
Dominada por uma sensação de bem-estar, de leveza do coração, com a sua voz ecoando no silêncio do bosque, gritou:
— Livre! Estou livre!
Ofuscada por aquela emoção, estimulou o cavalo, que passou do trote para o galope.
O movimento rápido fazia seus cabelos desmancharem-se à brisa carregada com o odor de pinho e seu rosto brilhar de contentamento.
Quando atingiu a clareira, puxou suavemente a rédea, para que, a agitação do animal se abrandasse aos poucos, e depois desmontou.
Esticou então sensualmente os braços, deliciando-se com os primeiros raios de sol que atravessavam a densa folhagem escura.
Por um instante ainda, permitiu-se saborear esse encantamento no fundo de si mesma.
Subitamente, outras lembranças afloraram-lhe à mente.
Seu sorriso desvaneceu-se e, suspirando, ela deixou cair os braços ao longo do corpo, sentindo-se instintivamente envergonhada de seu bem-estar.
Depois de alguns dias, iria casar-se com o nobre tribuno Lucius Quintus, e seus momentos de liberdade estariam acabados para sempre.
Seu noivo era ambicioso e não fazia segredo de que o melhor meio de alcançar a glória era seguir a carreira militar.
Estava pensando em voltar para Roma, onde seu pai era senador, para provar que, à diferença de outros tribunos, era também um soldado valente e um hábil condutor de homens. Lívia angustiava-se com a idéia da nova vida que iria levar: uma vida completamente estranha a ela.
Para escapar a esse futuro que não conseguia imaginar, curvou-se para apanhar algumas flores silvestres, suas preferidas.
Aceitava o amor de Lucius e esforçava-se para lhe corresponder, mas não o amava.
No entanto, não era isso que a fazia perder a serenidade de espírito, mas a idéia de que, algum dia, ele a levaria para longe dessa Ilha que era o seu lar.
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