Charlotte Wilcox, filha de um barão sem dinheiro, tem vivido com seu pai em uma pequena aldeia desde que sua mãe morreu quando era criança, e embora se sentisse feliz em sua casa e não se importasse com o fato de permanecer solteira aos vinte e três anos,
É pressionada por sua família para encontrar um marido que a sustente.
Para isso viaja para Bath, onde sua tia Margaret se encarrega de instruí-la para que consiga uma oferta adequada de casamento.
Para Charlotte, ás regras estritas que regem os membros da sociedade aristocrática parecem absurdas e ultrapassadas, temendo que nunca consiga chegar a ser a esposa perfeita que sua tia pretende e que todo cavalheiro deseja.
No primeiro baile que participa conhece Edward Holne, Visconde de Eversley e qualquer regra que sua tia seja capaz de ensiná-la, será inútil para a atração que surge entre eles.
Capítulo Um
Bath, condado de Somerset, Março de 1831
«...A esposa perfeita sempre tem presente que a felicidade do marido é a maior de suas preocupações embora para isso deva renunciar à sua própria. Esse consigo é suficiente para lhe proporcionar uma intensa sorte.
Nunca peça ao marido explicações a respeito de suas palavras ou ações, nem se queixe se ele chegar tarde ao lar. Tem presente que ele é o amo da casa e de sua pessoa.
Sempre deixe falar primeiro ao marido e lhe escute com atenção, pois qualquer tema de conversa que ele exponha é mais importante que os que você puder conceber. E, quando lhe permitir falar, faça-o em tom humilde e direto, sem estender-se em banalidades próprias de mulheres que acabam aborrecendo ou exasperando o marido.
Não lhe aflija com problemas domésticos ou sobre seus interesses e afeições, que são insignificante comparados com os dos homens...»
Charlotte fechou o livro e emitiu um buf1o de exasperação nada elegante.
Quanto mais lia, mais absurdo lhe parecia seu conteúdo. Como era possível que tia Margaret defendesse tamanhos desatinos?
Tinha-lhe deixado o manual lhe recomendando que o lesse atentamente e assimilasse seus ensinamentos por tratar-se das principais normas de conduta que deveriam reger sua futura vida de casada. Mas ela não acreditava que pudesse realizá-las; inclusive duvidava seriamente de que algumas fossem realmente acertadas.
Seu pai a tinha educado para que pensasse e atuasse com liberdade, sempre que esta não ocasionasse prejuízo a seus semelhantes, a fazer dos conhecimentos uma fonte de satisfação, a sentir-se orgulhosa de sua inteligência, de suas vontades de aprender e raciocinar, e não estava disposta a sacrificar tudo isso para conseguir um marido. Preferia ficar solteira a converter-se em uma marionete descerebrada nas mãos de um homem que se nomeava em árbitro do que devia fazer ou dizer.
Era uma idéia tão humilhante que se considerava incapaz de aceitá-la.
Apreciava muito a sua tia e agradecia seus esforços para casá-la, mas não estava de acordo em que essa atitude fosse adequada para uma esposa irrepreensível, como ela assegurava, e garantisse a estabilidade do matrimônio.
Desde que chegou há Bath duas semanas antes, sua tia não tinha deixado de tentar polir seu rebelde caráter e rústicas maneiras; algo que sempre lhe recordava, assim como adestrá-la nas práticas sociais necessárias para que pudesse ter um certo êxito na temporada social que acabava de começar.
Tudo isso para conseguir uma proposta de matrimônio, a principal razão de que estivesse ali.
Charlotte imaginava que, convertê-la em uma correta dama, estava custando a sua tia mais esforço do que calculou no inicio, embora soubesse que seu orgulho lhe impediria de admiti-lo e, é obvio, abandonar a tarefa.
Com um suspiro entre divertido e resignado, fechou os olhos e se entregou a um leve sono propiciado pela placidez que o delicioso almoço lhe tinha ocasionado. Essa era outra das pautas que se negava a seguir: a frugalidade na alimentação que o manual indicava e que sua tia defendia ao extremo, o que a obrigava a se introduzir com freqüência na cozinha e procurar um extra de mantimentos que a ajudassem a agüentar aquela espécie de penitência.
Margaret insistia em que uma dama refinada devia comer pouco e isso a torturava. Certo que a gulodice era inclusive pecado, que provar mais de um bocado resultava excessivo; por isso tinha decidido, com a cumplicidade da cozinheira, prover-se ela mesma do necessário para não morrer de fome enquanto estivesse naquela casa.
Tampouco estava de acordo em levantar-se quase à alvorada para dar um passeio a cavalo pelo parque. Segundo sua tia, tratava-se de um costume elegante ao mesmo tempo em que proveitoso tendo em conta que a essa hora muitos cavalheiros solteiros se dedicavam a tão saudável passatempo. E, embora nenhum lhe tivesse dirigido a palavra, provavelmente pelo fato de passar velozmente a seu lado, Margaret não se desanimava e insistia nisso a cada dia. Enfim, uma insensatez atrás da outra que estava lhe custando muito esforço aguentar.
—Mas é que te tornaste completamente louca, criatura?