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29 de março de 2015

Estigma do passado


Celeste e o conde entraram no esconderijo e a porta se fechou. Estranhas vibrações começaram a afetá-los tanto física quanto mentalmente. 

Lembrando-se do que acontecera à sua mãe, a jovem estremeceu.
Tinha horror de pensar num contato mais íntimo com um homem. 
Tinha horror ao amor por ser um sentimento incontrolável, um sentimento que fazia uma mulher perder a noção de decência. 
Por amor, sua mãe jogara fora todo um passado, o marido, os filhos! Celeste tinha de fugir, não podia se deixar dominar por esse homem perturbador. E foi aí, então, que o jovem conde a beijou e seus lábios sensuais a mantiveram cativa...

nota da autora : É autêntica a descrição do Rei George IV, de suas vestes e do banquete, feita neste livro. A Rainha Caroline faleceu a 8 de agosto, exatamente vinte e um dias após ter sido impedida de entrar na Abadia de Westminster.

Capítulo Um

Londres, 1821
Cantarolando baixinho, Celeste recolhia os últimos pêssegos da estação, armazenados no depósito erguido no pomar-, e encostado no muro elisabetano de tijolos vermelhos.
Um raio de sol, que entrava por uma fresta do cômodo mal conservado, tornava-lhe os cabelos refulgentes como ouro.
Os pêssegos, embora muito doces, estavam pequenos aquele ano, uma vez que os pessegueiros não haviam sido desbastados na primavera.
Saudosa, Celeste pareceu ter à sua frente a cena que se repetia invariavelmente, todos os anos, enquanto a mãe estivera com eles: o pai, pegando um dos pêssegos róseos do prato de porcelana de Sèvres, usada diariamente pela família, removia a casca aveludada da fruta com a faca de sobremesa, de ouro, e perguntava:
— Certamente todos os pêssegos bem graúdos foram reservados para a exposição, não é mesmo?
— É claro que sim! — Era a resposta da esposa sentada à outra extremidade da mesa. — Você sabe que o velho Bloss ficaria decepcionado se não ganhasse um premio!
Com um ligeiro estremecimento Celeste recompôs-se e afastou tais lembranças. Foi recolhendo os pêssegos e colocando-os na cesta, enquanto imaginava a quem faria presente dos mesmos.
A velha sra. Oakes, atacada de artrite e com setenta e oito anos, ficaria encantada com cerca de meia dúzia das frutas; o pequeno Billy Ives que havia quebrado a perna teria outro tanto; a velha esposa de Bloss, agora morando numa casinha ao fim da vila, exultaria não apenas com o presente, mas também com os dois dedos de conversa que teria com alguém, pois vivia muito só depois da morte do marido.
Ainda haveria muitos pêssegos para ela e Naná se fartarem; os que sobrassem se transformariam em geléia, a especialidade de Nana, mesmo havendo na despensa alguns potes de geleia da colheita anterior. Seria uma pena deixar as frutas se perderem.
Ao estender a mão para pegar um dos três últimos pêssegos da, prateleira, Celeste ouviu uma voz profunda atrás de si, vinda da entrada do depósito:
— Uma linda ladra, mas por certo uma ladra!
Quase morrendo de susto, ela virou-se e deparou com o cavalheiro mais elegante que já vira na vida! Trajava-se no rigor da moda, trazia a larga gravata bem alta no pescoço, o fraque tinha corte impecável e o mesmo se podia dizer da calça justa, cor de champanhe. Ele pareceu tão alto e dominador que o cômodo de teto baixo ficou pequeno demais para um homem como aquele estranho.