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10 de setembro de 2010

O Anjo do Lago


Perdidos nas águas revoltas!

Foi um verdadeiro milagre Josh Lyman ter sobrevivido ao naufrágio do S.S. Atlantic no imenso e traiçoeiro lago Eire!
Na tragédia morreu sua jovem e frágil esposa, mas ele conseguiu salvar uma imigrante norueguesa — feito que enchia Josh de culpa cada vez que fitava com ternura os confiantes olhos azuis de Kari Aslaksdatter…
Durante o desastre, Kari sofreu um golpe na cabeça e perdeu a memória. 
No entanto, em seu íntimo sabia que jamais havia conhecido um homem como o americano alto e moreno que salvara sua vida.
Só não suspeitava que Josh Lyman se tornaria seu maior desafio na nova pátria…

Prólogo

“Ah, minha pequena viking, não chore.”
Josh não foi capaz de conter-se. Com duas passadas largas, deu a volta à mesa da biblioteca, ergueu Kari da cadeira e tomou-a nos braços.
— Não chore — ele repetiu e encostou de leve os lábios nos dela.
Foi um beijo suave, leve como uma pluma, mas foi o bastante. Josh sentiu o corpo incendiar-se de desejo. Todos os sentimentos que haviam permanecido adormecidos, durante o ano em que estivera casado com Corinne, despertaram de uma vez.
Kari fechou os olhos. Sua cabeça girava. Depois dos dias que passara, carregando o fardo da incerteza e da solidão, os braços de Josh ofereciam-lhe um conforto irresistível.
— Josh… — murmurou quando ele se afastou.

Capítulo Um

Lago Erie, 20 de agosto de 1852

Sob o luar pálido e silencioso, uma névoa sinistra pairava sobre a água. 
O céu parecia sólido, a ponto de se poder tocá-lo. Josh Lyman estendeu a mão para a escuridão densa, como se fosse agarrá-la.
Então, com um sorriso, voltou a abaixar o braço.
— A noite está quieta demais, senhor.
Apesar de amigável, a voz o assustou. Virou-se e reconheceu o rosto marcado pelo sol e sal marinho. Era o capitão Garrity.
O leve sorriso provocado pelas fantasias infantis de Josh transformou-se em um sorriso genuíno e natural.
— Estava justamente apreciando a noite, comandante.
O ar parece tão denso que nem sei como ainda podemos respirar.
Garrity colocou-se a seu lado, pernas afastadas, os joelhos vergando-se automaticamente ao balanço do barco.
Com olhos experientes de velho marujo, esquadrinhou a escuridão que se estendia além da amurada.
— Não me agrada a sensação de morbidez da noite — comentou com voz soturna. — Sinto que há algo pouco natural… assustador se entende o que quero dizer.
Josh assentiu em concordância.
Tivera a mesma impressão, enquanto remoia pensamentos pouco agradáveis no convés.
No entanto, atribuíra a sensação ao estado de espírito sombrio em que se encontrava.
O SS Atlantic era o melhor dos barcos movidos por rodas propulsoras laterais que cruzavam os Grandes Lagos, carregando uma curiosa mistura de turistas abastados na primeira classe e imigrantes paupérrimos na terceira.
Os primeiros buscavam luxo e conforto, enquanto os últimos acalentavam sonhos de uma nova vida na nova terra.
As grandes embarcações eram apelidadas de “palácios flutuantes”, uma vez que seus interiores eram decorados com madeiras raras, pisos de mármore e candelabros de cristal. As suítes da primeira classe constituíam-se de aposentos suntuosos, com camas cobertas de cetim e seda e banheiros que contavam com diferentes torneiras para água quente e fria.
Para Josh, a excursão através dos lagos até Montreal parecera perfeita para a tentativa de construir um verdadeiro casamento com Corinne.
Além de satisfazer sua necessidade de aventura, a viagem os afastaria das atenções, às vezes sufocantes, dos bem intencionados pais de sua esposa.
Afinal, essas mesmas atenções o haviam impedido de sequer suspeitar dos problemas que enfrentaria ao tentar estabelecer um casamento “normal” com Corinne.
A união das fortunas dos Lyman e dos Pennington havia sido o grande assunto da sociedade de Milwaukee durante meses. Mas, uma vez formalizado o noivado, Josh não ficara um só minuto a sós com a noiva.
Nem sequer a beijara no rosto, uma vez que a mãe dela passava o tempo todo a vigiá-los de perto.
Assim, havia preferido passar seus últimos dias de solteiro em companhia dos lenhadores. Depois da morte do pai, durante a epidemia de cólera de 1849, Josh havia dedicado toda a sua energia, bem como o tino comercial que se tornara sua característica principal, na administração dos negócios da família.
Dono de excelente visão do futuro previra o que agora era do conhecimento de todos: as minas de chumbo tinham seus dias contados.
A partir de suas conclusões acertadas, investira todo o dinheiro da família na indústria madeireira, ganhando mais em três anos do que seu pai, em quinze.
Josh controlava seu pequeno império dos escritórios em Milwaukee, mas, quando chegava o inverno, partia para os acampamentos na floresta e trabalhava lado a lado com os lenhadores.
Todos o adoravam. E, quando a última tora flutuava rio abaixo, ele comemorava junto aos seus homens.
Se tais comemorações incluíssem mulheres, ele também participava.
Embora pretendesse tornar-se um marido fiel, uma vez que se casasse com Corinne, decidira tirar o máximo proveito dos últimos meses de liberdade.
— Espero que não esteja com problemas, senhor— a voz rude do marujo arrancou-o das divagações. — Já é tarde para estar acordado.
Josh refletiu antes de responder.
Talvez, devesse contar seu drama ao velho capitão.
Poderia dizer: “Não há nada errado, exceto pelo fato de hoje ser o primeiro aniversário do meu casamento.
E, a estas horas, minha esposa deve estar deitada na cama, apavorada pela possibilidade de seu marido chegar a qualquer momento, reclamando seus “direitos conjugais”.”
Em vez disso, falou:
— Estou sem sono, só isso.
— Ninguém disse que tem passar a noite toda dormindo, filho — o capitão corrigiu-o com uma piscadela. — Há passageiros que desaparecem em suas suítes durante a viagem inteira!

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