Mostrando postagens com marcador O Estranho amor de Ada Newman. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador O Estranho amor de Ada Newman. Mostrar todas as postagens

8 de setembro de 2020

O Estranho amor de Ada Newman

 

Ada Cárdenas vive presa como um passarinho em gaiola de ouro.

Com o coração quebrado pela perda do seu amor de juventude, há muitos anos, Ada perambulava como um fantasma pela mansão de sua família, à mercê da crueldade de seu pai, do desprezo de seus irmãos e da fria distância de sua mãe, que ia perdendo a sensatez a passos gigantes. Mas em breve um acontecimento arrastará a bela Ada por um caminho sem retorno quando seu pai se atreve casá-la à força com um desconhecido.
No momento em que vê pela primeira vez seu prometido, seu coração dá um pulo: Leon Newman é diabolicamente atraente, obscenamente rico, sabe ganhar sua confiança... e despertar sua paixão. Mas as coisas nunca foram fáceis na vida de Ada.
O contínuo vai e vem entre sossegada doçura e selvagem paixão de seu marido a atormentam. O que esconde Newman? Poderá Ada descobrir a verdade? Será talvez uma loucura sentir-se infiel ao ser venerada à luz do sol e dominada pela paixão quando cai a noite?

Capítulo Um

— Esta noite voltarei a vê-la, ou por Deus que morrerei! — murmurou a sombra que se escondia furtiva atrás do teatro.
O grande teatro da Ópera abria suas portas, finalmente, na noite de 10 de outubro de 1850. A data de inauguração havia sido fixada sem mais demoras para festejar o santo de Sua Majestade a rainha; mas os trabalhos de construção haviam sofrido numerosas paralisações, de modo que ninguém confiava em que a data anunciada em La Gazeta fosse o feliz desfecho de uma obra inacabada, ainda que a expectativa criada fosse maior, se possível, pelo injustificável atraso.
Naquela primeira noite estreava La Favorita de Donizete, e Isabel II e o distinto auditório viviam o êxtase da ópera com idêntico entusiasmo.
Finalizado o espetáculo, tanto na galeria de palcos como no auditório não faltou um expectador que se colocasse de pé, possuído como estava o teatro inteiro de um inflamado ardor que não tardou em expressar-se rompendo em aplausos intermináveis, exclamações elogiosas e ramos de flores jogados ao cenário. A refinada e poderosa voz de Albani brilhou como se fosse a última estrela do firmamento operístico, dando à inauguração o esplendor prometido.
Despreocupada e barulhenta, a multidão reunida no teatro encarnava com fidelidade o espírito democrático dos Tempos Modernos: a alta burguesia engrossava suas filas com extravagantes aquisições e se apoderava da notoriedade que antes havia sido patrimônio exclusivo da aristocracia madrileña. Desde o seu palco, Augusto Cárdenas observava com seus óculos dourados o enorme número de rostos desconhecidos e a intolerável escassez de joias nos decotes femininos. Fazendo uma contagem global do pátio de assentos e da galeria de camarotes que estava ao alcance da sua vista, o número aumentava escandalosamente até um total de vinte pescoços nus ou seminus.
— Que tempos! — pensava entregando-se à nostalgia.
A senhora Cárdenas levava um colar de platina e brilhantes de onde pendiam penduradas duas pérolas cinzas em forma de lágrima, assim como os brincos do conjunto de joias. Foi muito formosa, e ainda era considerada entre as damas mais distintas como uma referência de elegância, não superada por ninguém até então. Sentado à sua direita, Augusto se entretinha agora flertando com uma dama do camarote número sete, sem se importar o mais mínimo com sua esposa.
Augusto admirava as tendências vanguardistas que impunha o estilo de vida de todo homem moderno: o modo de vestir, a carruagem adequada, a decoração da casa e a escolha das atividades dedicadas ao ócio. Era um leitor devoto de revistas como "O elegante" ou "O cavaleiro irresistível" que empilhava com esmero em seu salão particular e consultava à menor dúvida, convencido como estava da infalibilidade de seu critério.