Saga Astur
Passaram os anos e Bodius alcançou por fim seu sonho de tornar-se um guerreiro às ordens do duque Alfonso.
Em sua última missão, o conde Abrino o faz prometer em seu leito de morte que encontrará a sua filha Auria e lhe dará amparo frente à avareza de seu meio-irmão.
O primeiro lugar onde Bodius irá procurar à misteriosa moça será no torreão do Ninho do Corvo, lugar maldito e temido por todos quantos o conhecem.
Auria converteu o ruinoso torreão do Ninho do Corvo em seu lar e aceita sua solitária existência com resignação.
Apontada como maldita e rechaçada desde sua infância finalmente se sente a salvo, mas a chegada daquele guerreiro nortista de olhos castanhos e cabeleira selvagem faz mudar toda sua vida.
Ele diz estar ali para protegê-la sem saber que é ele quem deve proteger-se de suas visões.
Afinal de contas ela é Auria
"A Maldita" e nem sequer o doce desejo que o guerreiro desperta em seu interior conseguirá mudar seu destino.
Comentário da Revisora Ana Cláudia:
Amei o livro, a historia do casal é muito bonita, ela com dons paranormais é exilada pelo pai acusada de ser amaldiçoada vive sozinha em um torreão decadente, ele um guerreiro rude que é designado pelo pai arrependido e à beira da morte para protegê-la, entre idas e vindas os dois se apaixonam e vão ter que lutar muito para realizar o sonho de viver juntos.
Não tem muitas cenas hot, mas vale a pena ser lido.
Capítulo Um
Ano 738, limites do ducado cântabro
A manhã chegava silenciosa, quase nas pontas dos pés. Auria inalou seu frescor enchendo os pulmões com sua doçura do alto do torreão em ruínas.
Lentamente, a frágil linha do horizonte foi tomando cor, como se um pincel invisível deslizasse sobre ele.
A moça permaneceu imóvel, envolta em sua capa de peles enquanto a brisa primaveril se enredava nas mechas platinadas de seu cabelo.
Aquele seria mais um dia com a solidão como única companheira.
Por que sentir-se triste?
Aquilo era o que sempre tinha desejado, estar longe de tudo, de todos, viver em paz consigo mesma.
Tinha renunciado ao seu povo porque na realidade não era seu povo, mas estranhos alheios a ela que a assinalavam como maldita, estigma que arrastava como um manto de desonra desde seu nascimento.
A solidão lhe evitava as olhadas fugidias, o desprezo e o medo que sua presença suscitava.
Em seu pequeno mundo, a vida transcorria com tranquilidade, sem que nenhum olhar pudesse lhe fazer mal.
Seus olhos verdes refletiram a tristeza contida em seu ser como um poço sem fundo.
O voo das andorinhas e o canto dos pardais anunciavam o fim do inverno, e com ele, o fim da relativa paz que tinha desfrutado durante aqueles meses de dias cinza e noites eternas.
As legiões sarracenas pareciam despertar com os primeiros calores, e atravessavam o território em busca de novas conquistas, como se a primavera alimentasse sua ambição. Às vezes o conseguiam, em outras ocasiões eram os exércitos cristãos quem cavalgava atrás deles repelindo-os.
Felizmente, uns e outros evitavam deter-se naquelas terras ermas e sombrias que eram agora seu lar.
Tinham transcorrido quatro anos desde sua chegada ao torreão em ruínas.
Quatro anos de relativa paz, porque os sonhos e as visões continuavam presentes, embora com menor intensidade que antes.
O primeiro raio de sol iluminou lentamente o céu fazendo retroceder as sombras da torre e banhando seu rosto.
Com um suspiro, Auria deu por finalizado aquele ritual diário antes de retornar ao interior da torre fazendo a recontagem mental das tarefas que tinha por diante.
O tétrico interior lhe ofereceu uma morna acolhida.
Com passo cuidadoso, a jovem desceu pelos restos da lúgubre escada de pedra sem necessidade de iluminá-la.
Saga Astur
1- O Merlo Branco
2- A Espada e Chama
Série concluída