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20 de fevereiro de 2019

O Pecado


María é uma bela cordovesa que foge para a Inglaterra, com aquela que ela acredita ser sua verdadeira família, para fugir de um casamento infeliz, durante a Guerra da Independência Espanhola.

Jason St. James é um atraente e rico lorde inglês, famoso por sua libertinagem, que vê sua vida arruinada com a chegada de sua "suposta" sobrinha.
Entre eles nascerá uma atração, que os dois negarão para si mesmos, já que acreditam ser parentes.
Mas o destino testará seu amor, quando ambos descobrem que não os liga nenhum tipo de parentesco. Poderão ultrapassar as barreiras que foram criadas e curar as feridas desse amor, que até agora acreditavam ser impossível?

Capítulo Um

 A Fuga, Junho de 1808
O coração de Maria pulsava violentamente. Ainda não conseguia compreender nem o que o que acontecia, nem o que estava a ponto de acontecer.
― Depressa, minha menina! ― murmurou Isabel no silêncio da noite. ― Tudo está preparado!
Maria terminara de empacotar tudo para a viagem, que sua mãe dispusera em tão pouco tempo. Mas, ainda, não podia acreditar que se separaria dela, nem em tudo o que lhe contara nos últimos dias.
― Mamãe, por favor, não quero separar-me de você! ― soluçou a pequena.
Isabel sentiu partir a alma ao ver a expressão de sua adorada menina, mas aquilo era a única solução. Não via outra, alternativa, se quisesse salvar a sua pequena de um destino similar ao que ela vivera.
― Por favor, meu anjo, tem que ser forte ― disse enquanto ajoelhava-se a sua altura e segurava-a pelos ombros, com força, para inspirar-lhe coragem. ― Já lhe expliquei isso. Seu pai arrumou-lhe um matrimônio com um francês para fortalecer suas alianças e eu não quero esse destino para você. Esse matrimônio a condenará à desgraça. Tem que fugir!
― Mas mamãe, ao menos estarei perto de você. Eu não quero separar-me de você… E se esse homem inglês do qual me falou não me quiser e me tratar igualmente como meu pai? Como pode enviar-me para tão longe sem saber? ― perguntou com medo e desespero.
Isabel sentia-se destroçada. Fazia dois dias, que, quando se informara dos planos de Dom Felipe para com sua filha, explicara a sua pequena o seu passado. Era necessária uma saída e para isso tivera que revelar-lhe, embora ela, também, estivesse muito assustada. Esperava que “seu lorde inglês” não tivesse mudado naqueles dez anos. Negava-se a pensar que tivesse mudado. Não! Não podia ser. Ele era nobre. Chegara a conhecê-lo, muito bem, naquele curto período de tempo e sua mente negava-se a reconhecer que, o homem que conquistara seu coração, não viera ajudá-la.
― Maria, minha menina! ― disse com um imenso amor nos olhos ― Ele te amará igualmente como eu te amo. Ele é seu verdadeiro pai. Não tema. Ali encontrará uma vida nova e conseguirá a felicidade que eu não pude encontrar, exceto em você.
― Mamãe, não me deixe, por favor! Suplico-lhe isso!
― Não se preocupe. Estaremos em contato ― disse enquanto a abraçava fortemente já que a menina não parecia ter consolo.
Maria sabia que precisava ser forte por sua mãe mas toda sua fortaleza se desmoronava, conforme aproximava-se o momento da separação. Aquilo enchia, por completo, a mente de uma menina de dez anos que não sabia ainda assimilar, tão rapidamente, aquele problema. 
Embora mentalmente Maria tivesse mais idade, a única coisa que era capaz, enfim, de compreender, era o ódio manifestado de “seu pai” para elas. Mas era muito pedir que assimilasse em tão somente, dois dias, que seu pai não era Dom Felipe, mas um rico lorde inglês, e que precisava escapar antes de que, quem acreditara, toda a vida seu pai, entregasse-a em matrimônio a um personagem desprezível. Mas, por quê? Por simples ódio e vingança por ela e sua mãe, ou por pura avareza? Nenhuma das duas possibilidades fazia dele uma pessoa nobre ou boa. Não! 
Dom Felipe era um monstro desprezível e destroçara suas vidas tanto quanto pudera. Mas a sua mãe parecia feliz pelo fato de poder “salvar a sua filha”, se é que isto seria a salvação. E ela não queria que sua mãe seguisse sofrendo assim. Assim fez força para deixar, enfim, de chorar.
― E se não conseguir encontrá-lo, mamãe? Ou se estiver morto? O que farei? ― perguntou já com a voz mais firme.
― Gabriel não pode estar morto! ― disse negando a si mesma a possibilidade de que o destino fosse tão cruel. ― O encontrará! ― disse com decisão rechaçando qualquer pensamento que turvasse aquele plano desesperado. ― Vai com todo o dinheiro que pude reunir. Se não o encontrar, me prometa que começará, como deve ser, uma nova vida. Mas não volte, minha menina. Ensinei-lhe muitas coisas para que se saia bem na vida. Teria gostado de ficar mais tempo com você… mas o destino é assim, e não quero que sofra por estar longe de mim. Amo-a muito, minha filha! ― disse já com os olhos nublados pelas lágrimas que não podia reprimir por mais tempo. ― Escreva-me assim que puder! Mas recorde-se que deve fazê-lo à casa do campo de sua avó. Não podemos nos arriscar em nada!
Isabel planejara aquela viagem, apressadamente, ante os recentes acontecimentos, mas já fazia muito tempo que pensava em afastar Maria de toda aquela farsa que era sua vida, e daquela guerra que estava desenvolvendo-se em seu país… Agora eram aliados da Inglaterra contra França. 
Quem diria?… Muitas vezes pensou em escapar com sua filha mas sabia que Felipe as encontraria. Enviaria seu exército, se precisasse, atrás delas e junto com a descrição dela, acompanhada de uma menina lhe seria muito fácil de as encontrar. Mas se enviasse sua filha sozinha, distrairia seu marido o tempo que fosse necessário para outorgar toda a vantagem do mundo a sua menina. Além disso, agora que a Inglaterra cessara o bloqueio aos portos espanhóis, seria muito mais fácil escapar. Mas só se conseguissem chegar ao navio antes de que Felipe se desse conta. E ela se encarregaria de que não sentisse falta, durante todo o tempo que pudesse, enquanto sua filha escapava. Uma vez em alto mar, seria difícil segui-la. 
Felipe não saberia se saíra ou não do país e se o deduzisse, quando desse conta, não saberia onde procurá-la.
― Senhora! ― disse a voz de Ana sussurrando do vão da porta. ― Andrés já está na carruagem nos esperando. Temos que partir antes que o Senhor se dê conta.
Ana era a ama de Maria desde o dia em que nasceu e teimou de que seria ela quem a acompanharia, naquela louca viagem, a “sua menina”. Era uma mulher gorducha, não muito alta, mas com um forte caráter. Sua rosto era gentil, com seus grandes olhos cor mel e seu comprido cabelo, castanho. Ana amava Maria, mais do que imaginava, desde o dia em que a viu nascer. Ela perdera um filho e seu marido, e não pensava que pudesse amar a ninguém mais, depois da tragédia. Mas Maria instalou-se em seu coração como se fosse sua própria filha e não a deixaria sozinha, por nada do mundo. Criara-a junto com Isabel e, tampouco, queria para a menina o destino que impunha-lhe Dom Felipe. Assim, ela se encarregaria de cuidar da pequena, naquela viagem.
― Recorde-se que a amo muito, minha filha! ― disse Isabel já com os olhos cheios de lágrimas.
― Mamãe, amo-a muito!