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12 de junho de 2009

Série Anjos Caídos

1 - TORMENTA DE EMOÇÕES



Os habitantes de um povoado mineiro são vítimas da miséria e a opressão.

Em Gales, no princípio do século XIX,
a vida é em geral difícil, mas a boa ou má disposição da aristocracia local pode representar uma grande diferença. 

Consciente disso, Clare Morgan, a professora do povoado, decide elevar uma súplica ao conde de Aberdare, um nobre de sangue cigano e péssima reputação. 
O conde concorda com seus pedidos, mas põe uma condição: Clare deverá conviver com ele durante três meses. E ela, disposta a salvar aos seus, aceita a provocação.


Capítulo Um

Gales, março de 1814

O chamavam de conde Demônio ou às vezes o Velho Diabo Nick. 
Em voz baixa se murmurava que tinha seduzido a jovem esposa de seu avô, rompendo o coração do velho, e que tinha levado ao túmulo a sua própria esposa.
Se dizia que era capaz de fazer qualquer coisa.
Esta última afirmação era a única coisa que interessava a Clare Morgan enquanto seguia com seu olhar o jovem que galopava veloz pelo vale em seu puro sangue, como perseguido pelos fogos do inferno.
Nicholas Davies, o conde cigano de Aberdare, finalmente tinha chegado a sua casa, depois que quatro anos.
Era possível que ele ficasse, mas era igualmente possível que fosse embora ao dia seguinte. Ela teria que agir depressa.
Mas ficou outro momento mais, sabendo que ele não a veria no meio do bosque de onde o observava.
Ele cavalgava em pêlo, ostentando sua perícia com os cavalos, vestido de preto; a única nota de cor era o cachecol vermelho escarlate. Ela estava muito longe para ver o rosto dele.
Clare se perguntou se ele teria mudado, e depois pensou que na realidade o que importava não era apoplexia, seja onde for que estivesse nesse momento o hipócrita e corrupto velho.
Se virou bruscamente, saiu do dormitório e desceu à biblioteca.
Era muito tétrico ficar pensando em como viver o resto de sua vida, mas certamente tinha que fazer alguma coisa durante as horas seguintes. Com um pouco de esforço e muito brandy poderia as superar.
Clare nunca tinha estado no interior da mansão Aberdare.
Era tão grandiosa como a tinha imaginado, mas lúgubre, com a maior parte dos móveis tapados com mantas.
Estar desocupada por quatro anos lhe acrescentava um aspecto de abandono. Williams, o mordomo, estava igualmente triste.
No princípio se negou a levá-la até o conde sem anunciá-la primeiro, mas ele havia se criado no povoado, de modo que ela conseguiu convencê-lo. Conduziu-a por um longo corredor e abriu a porta da biblioteca.
—A senhorita Clare Morgan deseja lhe ver, milord. Disse que se trata de algo urgente.
Armando-se de coragem, Clare passou junto de Williams e entrou na biblioteca, tratando de não dar tempo ao conde para rechaçá-la. Se fosse mal nesse dia não teria outra oportunidade.
O conde estava junto a uma janela contemplando o vale.
Tinha deixado o casaco sobre uma cadeira e seu traje informal em mangas de camisa lhe dava um ar mais gentil.
Era estranho que o apelidassem de Velho Diabo, pensou Clare; só tinha trinta anos.
Quando Williams se retirou, fechando a porta, o conde se voltou e fixou nela seu imponente olhar.
Embora não fosse muito alto, irradiava poder.
Clare recordava que inclusive em uma idade quando a maioria dos meninos era desajeitada, ele se movia com absoluto domínio físico.


2 - UM BAILE COM O DIABO
Napoleão deixou atrás de si
uma Europa que se agita em meio de alianças e pactos,
de conflitos fronteiriços, de ameaças e de ações militares.

A diplomacia tem um papel muito importante, e também, depois dela, o mundo oculto da espionagem.
Um jovem e atrevido conde é o chefe do serviço secreto inglês.
Em seu caminho tropeça em uma mulher, uma peça a mais do quebra-cabeça; alguém, embora ele não queira reconhecer, que será capaz de despertar antigas emoções em seu coração.

Donzela? Taberneira? Espiã!
Kit Travers amaldiçoou em silêncio.
Quem iria suspeitar que aquele disfarce de donzela despertasse o instinto sexual do desconfiado, intrigante e bastante bêbado Roderick Harford?
E quem iria supor que seria justamente o conde de Strathmore quem evitaria na última instância a agressão?
Na Londres de 1814 proliferavam como poucas vezes antes as intrigas e as pequenas conjurações, e ser espião não era coisa fácil para uma mulher de berço nobre.
Ela sabia, começava a comprovar na própria pele.

Com licença para... Seduzir
Lucien, o conde, também chamado Lúcifer, as mulheres diziam que sua beleza era diabólica; tão atraente como era inalcançável seu coração.
Essa qualidade, a de sedutor, e a condição de membro destacado da nobreza lhe abriam as portas dos clubes mais restritos, permitiam-lhe confraternizar com conspiradores e delatores, algo realmente útil para sua missão: desmascarar um temível espião.

Capítulo Um

Londres, outubro de 1814 
Transcorridos dois dias, já tinha ficado para trás o momento de chorar. 
Agora devia passar à ação. Já tinha formulado as perguntas óbvias às pessoas apropriadas, e terminado com as mãos vazias.
Além de sua intuição, não havia prova alguma de que tivesse acontecido nada de espantoso. É claro que neste caso sua intuição era infalível.
Pelo menos, graças a Deus, o pior ainda não tinha ocorrido.
Se agisse depressa, talvez pudesse impedir o desastre final. Mas o que podia fazer? Em uma situação assim não existiam as fontes convencionais de ajuda, e embora houvesse homens aos quais podia pedir auxílio, não se atrevia a confiar em nenhum. Obrigou a si mesma a pôr fim naquele frenético andar de um lado ao outro do quarto em desordem que mostrava os efeitos de sua fútil busca.
Supunha-se que era uma mulher inteligente, de modo que já era hora de que agisse como tal.
Sentou-se em frente à mesa de escritório, pegou uma pluma, molhou-a no tinteiro e começou a escrever tudo o que sabia.
Primeiro as datas, as horas e as respostas das pessoas às quais tinha interrogado; em seguida sua própria teoria sobre o ocorrido que se apoiava em sua maior parte em conversas que recordava pela metade, mas que se encaixavam com os fatos, assim procederia como se estivesse certa.
Afinal, não tinha nenhuma outra.
A tinta secou na pluma enquanto pensava no que ia escrever a seguir.


3 - PÉTALAS NA TORMENTA


Depois da derrota de Napoleão em Waterloo,
a paz ainda estava em perigo; o risco de uma guerra que devastaria a Europa é cada vez mais real. 

Por isso é imprescindível que Maria Bergen, a Condessa Janos, siga utilizando seus encantos e relatando suas descobertas a Londres.
Mas na realidade, ela é uma Condessa húngara, uma lady inglesa ou uma Princesa italiana? O certo é que nem sequer seus superiores em Foreign Office sabem. 
Como tampouco sabem se havia decidido abandonar sua missão por "cansaço" ou porque tomou parte da conjuração e é uma traidora.
Um homem de qualidades excepcionais: Rafael Whitbourne, Rafe para os íntimos, Duque de Candover para a boa sociedade - diz-se que possui a beleza de um deus guerreiro e a capacidade de sedução de um diabo.
Mas são falatórios, a reputação de um homem que rejeita o amor porque anos atrás uma jovem formosa como flor da primavera lhe rompeu o coração.
Em realidade é um homem de mundo, atrevido com as mulheres, valente na luta, implacável diante a deslealdade. E precisamente por isso se vê agora na obrigação de seduzir a espiã mais formosa que jamais conheceu a corte francesa... sem cair na rede de sua formosura.
Uma dama enigmática e perigosa: Da Condessa Janos se diz que é capaz de surrupiar a Embaixadores e Ministros; que ninguém, nem nobres nem clérigos, é capaz de resistir aos seus encantos.
Mas, depois de ter sobrevivido a mil perigosas aventuras e interpretar um sem-fim de papéis, agora terá que recorrer a todo seu talento para superar com êxito a missão que lhe impôs o destino... Porque a mulher conhecida como Maria Bergen, a suposta Condessa Janos, é na realidade a moça que arrebatou o coração de Rafael Whitbourne em sua juventude.

Capítulo Um

- Que demônios significa isto?
Era o grito de combate de um marido furioso; Rafe teria reconhecido em qualquer parte. Afogou um suspiro; iria presenciar uma feia cena emotiva do tipo que mais detestava.
Soltou a encantadora dama que tinha em seus braços e se voltou para olhar o homem que acabava de irromper no salão.
O recém-chegado era mais ou menos de sua mesma altura e idade, entre 33 e 36 anos. Embora talvez em outras circunstâncias seria um homem agradável, naquele momento parecia estar disposto a cometer um assassinato.
- David! - exclamou lady Jocelyn Kendal e avançou muito feliz para seu marido, mas se deteve em seco ao ver sua expressão.
A tensão entre marido e mulher vibrava como um tambor no silêncio da sala.
- É evidente que minha chegada foi inesperada e inconveniente, disse o recém-chegado com voz rouca e furiosa, rompendo o silêncio. É o Duque de Candover, supondo.
Ou agora concede seus favores a um círculo mais amplo?
Essas palavras fizeram lady Jocelyn estremecer.
- Sou Candover, disse Rafe tranqüilamente. Eu sinto, mas não recordo seu nome, senhor.
- Presteyne - respondeu o outro, contendo o visível desejo de afastar o convidado da sua esposa, o marido desta senhora, embora não por muito tempo.
Voltou seu duro olhar a lady Jocelyn.
Minhas desculpas por interromper sua diversão. Recolherei meus pertences e não voltarei a te incomodar nunca mais.
Dito isso, Presteyne saiu do salão dando uma portada que estremeceu as paredes.
Rafe se alegrou de lhe ver as costas; embora fosse perito em todo tipo de esportes cavalheirescos, uma briga com um marido furioso de porte militar não estava nos primeiros lugares de sua lista de prazeres.
Por desgraça a cena não acabou ali, porque lady Jocelyn se deixou cair em uma poltrona estofada e começou a soluçar.
Rafe a olhou exasperado; gostava que suas aventuras fossem alegres, de prazer mútuo, e sem recriminações, e jamais teria se envolvido com lady Jocelyn se ela não lhe houvesse dito que seu matrimônio era só de nome.
Certamente lhe tinha mentido.
- Pelo visto seu marido não compartilha sua idéia de que o matrimônio é só de conveniência. Ela levantou a cabeça e o olhou como sem compreender, como se tivesse esquecido de sua presença.
- Qual é seu jogo? - perguntou-lhe irritado. Seu marido não me parece o tipo de homem ao qual se pode manipular lhe inspirando ciúmes. Poderia te deixar ou te torcer o cangote, mas não vai entrar em seu jogo de ter amantes.
- Não foi um jogo, respondeu ela com voz trêmula.
Queria descobrir o que há em meu coração. Só agora sei o que sinto por David, agora que é muito tarde. A irritação de Rafe se evaporou ao ver sua juventude e vulnerabilidade.



4- ANJO OU PATIFE


Não era uma tarefa fácil, no século XIX, andar nos caminhos da velha Inglaterra rural de Durham até Londres;
cinco dias de aventura, de aldeia em aldeia, por bosques fechados e áreas desertas, o viajante sempre pendente de salteadores e da traição que se escondia em lugares inesperados.

E menos fácil devia ser para uma mulher.
Embora fosse jovem e se vestisse como um moço; embora soubesse defender-se e fosse ágil como um gamo; embora pelas veias de seu corpo mestiço corresse sangue mohawk e se chamasse Kanawiosta, 'a água que flui'.
E depois da guerra...?
Waterloo ficou para trás; também, as difíceis negociações no continente para restabelecer uma frágil paz. 

Mas ao lorde Robert Andreville o retorno ao lar de Wolverhampton, à vida dada de presente e ociosa depois dos dias de dor e privações, nada conseguia lhe serenar o ânimo.
Sentia falta das aventuras e dos perigos para sossegar a inquietação interior que o atormentava.
Possivelmente por essa razão, quando aquela jovem pequena e morena, formosa como uma lua cheia, tropeça com ele no caminho, decide acompanhá-la até Londres, para protegê-la e possivelmente para seduzi-la...
Uma americana em londres
Máxima Collins é o seu nome; soa a rançosa estirpe, a nobreza latifundiária inglesa. Também a chamam de Kanawiosta, entre os mohawks, lá na América.
Aqui e lá tem família; a de lá, a que pertenceu sua mãe; a daqui a do seu pai.
Ela morreu faz tempo; ele há poucos dias, e em estranhas circunstâncias. Máxima se sente mais só que nunca, rejeitada como nunca.
Mas não é essa a única razão da sua fuga: ouviu falar da partilha de uma herança e de que queriam desfazer-se da intrusa.
A casa de seu tio, Lorde Collingwood, já não é segura para ela.

Capítulo Um

Os campos do Durham diferiam muitíssimo dos bosques e granjas dos Estados Unidos, mas também tinham seu próprio tipo de beleza.
Desde a morte de seu pai há dois meses, Máxima Collins saía a caminhar a cada dia pelas colinas, inspirando o ar, o sol e a chuva com inconsciente gratidão. Sentiria falta desses campos áridos mais que qualquer das outras coisas que encontrou neste lado do Atlântico.
Depois de duas horas vagando, Maxie se sentou em uma ladeira com as pernas cruzadas, mordiscando distraidamente um caule tenro de erva silvestre.
Ao que parece, o brilhante sol da primavera lhe dissipava a neblina de aflição em que esteve mergulhado desde a morte de seu pai.
Via com muita clareza que era hora de retornar aos Estados Unidos.
Seu tio, Lorde Collingwood, era amável de um modo distante, mas o resto da família a olhava com sentimentos que em seu melhor aspecto eram duvidosos.
Ela entendia essa atitude, posto que todos a consideravam uma raridade que não deveria jamais ter colocado os pés em uma casa senhorial do campo inglês. Suspeitava que o mundo elegante da cidade fosse ainda menos acolhedor.
Mas não lhe importava, não tinha o menor desejo de entrar nesse mundo. Em seu país havia mais liberdade para ser diferente.
O principal impedimento para retornar ao seu país era que tinha menos de cinco libras em seu poder.
Entretanto, estava segura de que seu tio Collingwood lhe emprestaria o dinheiro para comprar a passagem além de um pequeno extra para manter-se até que se estabelecesse.
Provavelmente sua senhoria resistiria a princípio, preocupado se por acaso cumpria seu dever para com a única filha de seu defunto irmão.
As garotas inglesas decentes não viviam por sua conta, sozinhas; o correto era viver da caridade de alguém.
Em todo caso, ela não era nem decente e nem inglesa. Isso é o que lhe deram a entender claramente de centenas de modos sutis e não tão sutis nos quatro meses transcorridos da chegada de seu pai e ela a Durham.
E tampouco queria converter-se em uma das mulheres que dependiam de seu tio.
Até no caso de que sua senhoria resistisse a deixá-la partir, não poderia impedi-la. Acabava de completar os vinte e cinco anos e estava há anos cuidando de si mesma e de seu pai.
Se fosse necessário, procuraria trabalho e ganharia o dinheiro para comprar sua passagem.
Cristalizada sua decisão, ficou de pé com uma agilidade imprópria de uma senhorita e limpou as ervas da saia de seu vestido negro de luto.
O vestido negro era uma concessão à sensibilidade de seus parentes ingleses. Ela teria preferido não usar nenhum distintivo externo de seu duelo. Bom, não seria por muito tempo.


5- ARCO-ÍRIS PARTIDO



Quando Catherine Melbourne,
filha e esposa de oficiais, percebeu que entre ela e o oficial e cavalheiro Michael Kenyon nascia um amor impossível decidiu afastar-se, fugir, resistir.

Não sabia, certamente, que o destino é capaz de vencer qualquer vontade.
Um sonho inalcançável. Ela seguiu o exército inglês pela Espanha na guerra contra os franceses e acompanhou Wellington durante a batalha de Waterloo.
Chamava-se Catherine Melbourne e era a esposa de um oficial da cavalaria.
Era conhecida como "Santa Catherine", pois atendia aos feridos, confortava os moribundos e consolava os vivos.
E apesar de sua grande formosura, de uma beleza embriagadora, nunca permitiu que nenhum homem se aproximasse com a palavra "amor" nos lábios.
Um desejo proibido!
Michael Kenyon sabia. Sabia que não podia esperar amor daquela mulher de olhos verde mar e presença perturbadora.
Sabia que devia afastar-se dela, esquecer que lhe devia a vida e só ver naquela mulher, quando muito, uma amiga.
Mas, vencido Napoleão, de volta a Londres, Catherine se verá obrigada a pedir um favor quase impossível a seu "amigo" Michael. De novo o destino unirá suas vidas, possivelmente, quem sabe, para sempre.

Capítulo Um

Salamanca, junho de 1812
O cirurgião de cabelos grisalhos limpou cansativamente a testa, deixando uma mancha de sangue. Contemplou o homem estendido na tosca mesa de operações.
— Certamente você está como uma ruína, capitão — disse o cirurgião com o característico sotaque escocês. — Ninguém lhe disse alguma vez que não pode parar com o peito uma descarga de canhão?
— Creio que não — conseguiu sussurrar lorde Michael Kenyon, fazendo um esforço. — Em Oxford me ensinaram os clássicos em lugar de coisas práticas. Talvez devesse ter ido à nova escola militar.
— Será um verdadeiro desafio extrair todas as partes — comentou o cirurgião com alegria macabra. — Tome um pouco de brandy e começarei o trabalho.
Um ordenança lhe aproximou uma garrafa dos lábios. Michael se obrigou a beber todo o possível do ardente líquido.
Era uma lástima que não tivesse nem tempo nem brandy suficientes para agarrar uma boa bebedeira.
Quando terminou de beber, o cirurgião lhe tirou o que restava de paletó e camisa.
— teve uma sorte extraordinária, capitão. Se os atiradores franceses tivessem carregado bem a pólvora, não ficariam partes suficientes de você para identificá-lo.
Ouviu-se um feio ruído de metal arranhando metal; depois o cirurgião lhe extraiu um pedaço de chumbo do ombro.
A rajada de dor lhe obscureceu o mundo. Michael mordeu os lábios até que sangraram.
— A batalha... está ganha? — perguntou, hesitante, antes que o cirurgião voltasse ao ataque.
— Creio que sim. Dizem que os franceses vão fugindo apressados. Seus homens os têm obrigado a voltar.
O cirurgião começou a escavar para tirar a parte seguinte. Foi um alívio render-se à escuridão.
Michael voltou em si pouco a pouco, flutuando em meio a dor que lhe adormecia os sentidos e lhe nublava a visão. Cada respiração lhe produzia dores de estiletes cravados no peito e pulmões.
Estava deitado em uma maca de palha no canto de um celeiro transformado em hospital de campanha. Estava escuro, e do teto as nervosas pombas arrulhavam em protesto pela invasão de sua casa.
A julgar pela mescla de gemidos e fôlegos, o chão de terra devia estar coberto de homens feridos, deitados cotovelo a cotovelo. O abrasador calor do meio-dia espanhol tinha sido substituído pelo cortante frio da noite.
Sobre seu torso enfaixado havia uma manta áspera que não necessitava porque estava ardendo de febre da infecção, e a sede era pior que a dor.
Recordou sua casa em Gales e pensou se alguma vez voltaria a ver essas verdes colinas. Provavelmente não; um cirurgião lhe havia dito uma vez que só um homem em cada três sobrevivia a uma ferida grave.
Na perspectiva de morrer encontrava uma certa paz; não só se liberaria da dor mas também, afinal, tinha vindo a Espanha com o amargo conhecimento de que a morte o libertaria de um dilema sem solução.
Seu desejo tinha sido esquecer Caroline, a mulher a quem amava mais que a sua honra, e a terrível promessa que tinha feito sem pensar jamais que poderia ver-se chamado a cumpri-la.


6- FALSA IDENTIDADE





Empurrado por difíceis circunstâncias, de volta da guerra, Kenneth Wilding aceita investigar uma morte suspeita.

Para levar a cabo sua missão deve introduzir-se sob nome falso no delicioso mundo artístico da Inglaterra, em princípios do século XIX...
Mas se apaixona por Rebeca Saeton, uma formosa, temperamental e talentosa pintora relacionada com um espantoso crime.
"O Homendas Duas Caras"
Kenneth Wilding - rebelde, soldado, herói e espião - nunca tinha conhecido a derrota. Mas quando volta da guerra se encontra com uma herança esbanjada e um imóvel totalmente arruinado...
Até que um estranho lhe propõe um negócio diabólico: a salvação econômica em troca de seus serviços.
Resistente, Kenneth entra na residência do artista mais conhecido da Inglaterra para desmascarar um terrível crime, mas descobre algo imensamente mais perigoso: uma nova e tentadora forma de vida e uma mulher irresistível. Tudo o que ele sempre tinha desejado e nunca tinha podido ter.

"Paixões Perigosas"
Depois de que um escândalo destruíra sua honra e reputação, a tempestuosa Rebeca Seaton se fecha em sua mansão para entregar-se ao trabalho...
Até que entra em sua vida Kenneth Wilding, seduzindo-a com sua cara de pirata e sua alma de poeta.
Entre os dois nasce um amor apaixonado, mas a missão secreta de Kenneth se interpõe entre eles e desencadeia um duelo de paixões que chegará a ameaçar a vida de Rebeca…

Capítulo Um

Sutterton Hall, 1817.
A situação era pior do que tinha imaginado. Cansado até os ossos, Kenneth soltou um suspiro e pôs de lado os livros de contas.
Sempre soube que quando herdasse se encontraria diante graves problemas econômicos, mas também sempre teve a esperança de que uns quantos anos de árduo trabalho e frugalidade bastariam para conservar seu legado.
Parvo de arremate. Levantou-se do escritório e se aproximou da janela da biblioteca a contemplar as ondulantes colinas do Sutterton. A beleza da paisagem era como uma adaga que lhe atravessava o coração.
Durante quinze anos tinha ansiado retornar a casa. Não se tinha imaginado que esses férteis campos estariam sem cultivar, cheios de mazelas, que tinham vendido o gado para pagar os frívolos prazeres de um ancião e sua cruel e esbanjadora esposa.
Quando estava tratando de dominar a ira, ouviu passos a suas costas, passos irregulares alternados com um golpe de fortificação. Compôs a cara antes de voltar-se para sua irmã Beth.
Ela era a único coisa que tinha no mundo; queria-a desde que era pequenina e doente, mas não sabia conversar com ela; tinham estado muito tempo separados.
Sua irmã tinha os cabelos escuros e os olhos cinza como ele, mas seu rosto era formoso, de traços finos e delicados, não como o dele, de traços toscos e com cicatrizes.
Beth se sentou em uma poltrona e a fortificação ficou apoiada entre suas mãos.
Tinha uma serenidade que a fazia parecer de mais idade que seus vinte e três anos.
—Não ouvi uma palavra sua desde que partiu com advogado esta manhã.
Chamo para que tragam algo de comer? Há um bolo de porco bastante bom.
—Obrigado, mas ver as contas me tirou o apetite.
—Está muito mal a situação? —perguntou ela com expressão preocupada.
Seu primeiro impulso foi fazer um comentário tranqüilizador, mas o rechaçou.
Não se podia evitar a triste realidade.
Além disso, em que pese a seu aspecto frágil, Beth era forte. De pequena tinha tido que resignar-se a um pé torcido, de nascimento, e em sua adolescência tinha sobrevivido à língua viperina de uma madrasta mimada e esbanjadora.
—Estamos totalmente arruinados — lhe disse sem preâmbulos. Posto que nosso pai esgotasse os recursos de Sutterton vivendo em Londres com sua querida Hermione, a quantidade de hipotecas supera com muito o valor atual da propriedade.
Hermione tem as jóias da família e não há nenhuma possibilidade de recuperá-las. Terei que vender a propriedade. Não ficará nada, nem sequer seu dote. Provavelmente os credores chegarão daqui em questão de semanas.


7- UMA ROSA PERFEITA


"Uma Ameaça de Morte"
Stephen Kenyon, Duque de Ashburton,sempre tomou muito a sério as obrigações próprias de seu título.

Mas uma notícia inesperada o leva a afastar-se de seu mundo de riqueza e privilégios e empreende uma viagem sem rumo pelo campo fazendo-se passar por um homem simples. Em seu desesperado vagar conhece Rosalind Jordan, e as esperanças que já acreditava mortas voltarão a vida no mais profundo de seu coração.
Mas como vai declarar o amor que sente se sua existência se transformou em uma regressiva que o atormenta noite e dia, se guarda um segredo que o fez fugir de tudo o que até pouco tempo não possuía?
"Uma Promessa de Vida"
Rosalind Jordan viaja com uma companhia representando peças de teatro de povoado em povoado.
Suas origens são incertas porque, órfã de pai e mãe, os Fitzgerald a adotaram quando menina e a criaram com seus outros dois filhos.
Agora Rosalind se converteu em uma jovem atriz, encantadora e compreensiva que, ao conhecer Stephen, sentirá que sua vida muda para sempre. Mas, como vai entregar-se a um homem que, embora seja a encarnação de todos seus sonhos de felicidade, nunca poderá ser dela?

Capítulo Um

—Mortalmente doente.
As palavras do médico ficaram ecoando no ar, horripilantes e letais como escorpiões. Stephen Edward Kenyon, quinto duque de Ashburton, sétimo marquês de Benfield, e meia dúzia de títulos mais, muito corriqueiros para mencioná-los, ficou quieto enquanto vestia a camisa depois do exame médico.
Repetiu mentalmente a frase, como se a analisando fosse alterar de algum modo seu significado.
Mortalmente doente. Sabia que alguma coisa não estava bem, mas não tinha imaginado... isso. O médico podia estar equivocado. Claro que nas últimas semanas a dor no ventre havia passado de moléstia moderada a ataques muito dolorosos.
Mas certamente isso só significaria algum tipo de ulceração, dolorosa, mas não mortal. Agradecendo sua habilidade para controlar sua expressão, continuou abotoando a camisa.
—Essa é uma afirmação surpreendente em um médico. Achava que você e seus colegas preferiam evitar os prognósticos tétricos.—Você sempre teve fama de homem que valoriza a sinceridade, excelência. —O doutor Blackmer se concentrou em recolocar em meticulosa ordem seus instrumentos na maleta.
—Pensei que não lhe faria nenhum favor ocultando a verdade. Um homem de sua posição necessita tempo para... para pôr em ordem seus assuntos.
Stephen compreendeu, com inquietante força, que o médico falava muito a sério.
—Seguro que isso não será necessário. Além de ocasionais dores de estômago, sinto-me muito bem.
—Estive preocupado com sua enfermidade desde que lhe começaram as dores, mas esperava que estivessem erradas minhas primeiras suspeitas. Mas já não se pode negar a verdade. —Levantou a vista e o olhou com seus olhos verde cinzas preocupados—. Sofre de uma tumefação do estômago e o fígado, a mesma enfermidade que padecia seu guarda-florestal, o senhor Nixon.
Esse foi outro golpe. Em questão de meses, Nixon, homem bonachão e aficionado ao ar livre, converteu-se em um fantasma atormentado pela dor; e sua morte tinha sido muito dolorosa.
Não querendo olhar-se no espelho, atou a gravata no tato, enquanto fazia distraidamente esses movimentos normais.
—Não há nenhum tratamento?
—Temo que não.
Stephen vestiu a jaqueta azul marinho e alisou as rugas das mangas.
—Que precisão tem seu cálculo de seis meses? - Blackmer titubeou.
—É difícil prognosticar o curso de uma enfermidade. Eu diria que restam não menos de três meses, mas dizer seis meses seria... otimista.
Ou seja, que se o médico tivesse razão, no Natal já estaria morto, ou provavelmente muito antes.
E se Blackmer estivesse equivocado?




Série Anjos Caídos
1 - Tormenta de Emoções
2 - Um Baile com o Diabo
3 - Pétalas na Tormenta 
4 - Anjo ou Patife
5 - Arco-Íris Partido
6 - Falsa Identidade
7 - Uma Rosa Perfeita
Série Concluída