A solitária lady Elizabeth Harcourt nunca se casou e deseja com desespero algo que dê sentido a sua vida. Encontra-o quando o azar a leva ao suntuoso estúdio do pintor Gabriel Cristofore que insiste em retratá-la, com o pretexto de fazer justiça a sua arrebatadora beleza. Elizabeth não demora a dar-se conta que o que Gabriel planeja tem pouco a ver com a pintura, pois sua verdadeira paixão é a arte da sedução.
Desde que a viu pela primeira vez, Gabriel soube que a pele imaculada e os lábios de rubi de Elizabeth prometiam um prazer absoluto ao homem que conseguisse conquistá-la. Inquieto, debate-se entre o imediato desejo de seduzi-la e adiar esse impulso o tempo necessário para conhecê-la em profundidade. Gabriel está a ponto de descobrir que não é tão fácil abandonar alguns romances. Sobre tudo, quando o coração de um patife foi capturado.
Capítulo Um
Londres, Inglaterra, 1812.
—Deliciosa. Na verdade deliciosa.
Elizabeth se deteve e inclinou a cabeça, escutando com atenção. Perto dela estava o homem que parecia estar cortejando a uma dama no meio do lotado vestíbulo do teatro. Tinha um acento pouco comum, quase exótico. Talvez fosse italiano ou francês.
—Esplêndida. Arrebatadora.
A voz voltou a ser ouvida, esta vez mais perto, e a jovem podia jurar que se encontrava exatamente detrás dela. Morria por virar-se e esquadrinhar o enxame de rostos para descobrir quem eram os apaixonados que tinham a audácia de demonstrar tanto afeto em um lugar público.
—Sua pele é como seda. Tão Lisa, tão suave.
Não cabia dúvida: ele estava imediatamente a sua esquerda. Ah! Se até podia sentir seu fôlego na nuca! O vestido da moça era soberbo, muito decote por diante e por detrás, e o ardente hálito do homem acariciou sua clavícula antes de escapulir-se por seu decote, assentando-se sobre seus seios de uma maneira desconcertante e perturbadora.
Embora o ar da lotada entrada estivesse viciado pela aglomeração dos corpos que avançavam para a escadaria e os camarotes, ela tremeu. Quem era ele? E quem era a mulher por quem estava tão apaixonado para arriscar-se a falar de maneira tão indecorosa em um lugar público?
Com cautela, olhou nessa direção, ansiosa por distinguir uma figura... e aí estava! A vaga silhueta de um homem alto e desconhecido, um torso esbelto vestido em um formal traje negro. Era a segunda semana de fevereiro, mas mesmo assim estava bronzeado, como se tivesse estado bronzeando-se.
Esforçou-se por desviar o olhar e o cravou na fila que se estendia frente a ela. Mas ele a tinha visto espiar! Quando riu, sua voz grave e sedutora a estremeceu. Morta de vergonha por ter sido surpreendida simulou concentrar-se na escadaria, que agora parecia inalcançável, a quilômetros dela. Um incômodo rubor avermelhou suas bochechas.
—Gloriosa beleza! — as pernas do homem roçavam suas saias— por favor, me diga seu nome, assim, se perecer neste instante, morro feliz.
O sotaque estrangeiro a perturbou. Estava falando com ela? Desconcertada, olhou a seu redor, procurando em vão a acompanhante do desconhecido. Havia dúzias de mulheres pulverizadas pelo vestíbulo, entretanto, nesse preciso momento, Elizabeth estava rodeada de homens. Surpreendeu-se ao notar que ela era a única mulher a quem lhe podia estar falando.
Que canalha! O que se acreditava, abordando a dessa maneira? Procurou algum rosto familiar, o de seu pai ou algum outro conhecido, que a resgatasse, mas não havia nem um amigo à vista. Embora esperasse que ninguém a visse falando com ele, voltou-se bruscamente para enfrentá-lo e afastá-lo com um olhar feroz. Mas, para seu horror, quando topou com seu rosto, sentiu-se incapaz de expressar até o menor rechaço.
Era realmente formoso. Seu cabelo reluzia à luz das velas. Tinha-o penteado para trás, o que acentuava seu nariz aristocrático, seus lábios plenos, sua pele bronzeada. Resplandecia. Os traços harmoniosos de seu rosto tentavam a qualquer artista a retratá-los na cúpula de uma catedral ou esculpi-los em mármore.