Sob as saias austeras de seu vestido, Beatrice Lockwood esconde uma arma.
Não pode ser de outra forma, porque Beatrice é uma acompanhante com uma missão secreta - tão secreta como seu passado - e deve estar preparada para lutar pela vida ou morte a qualquer momento. No entanto, quando se dispõe a impedir um crime nos jardins de uma mansão onde se está celebrando um baile, ela recebe ajuda inesperada de um homem de voz hipnoticamente serena. Depois de entregar o seu cartão, o estranho desaparece nas sombras, deixando-a intrigada. Joshua Gage, que é responsável de investigações secretas para a Coroa, também está intrigado.
Ele tem um interesse especial nessa beleza ruiva, suspeita de roubo e assassinato, e talvez também culpada de fraude pela venda de seus serviços como médium...
Capítulo Um
O calcanhar de uma das suas botas altas e abotoadas escorregou em contato com a trilha de sangue que fluiu por baixo da porta. Beatrice Lockwood esteve a ponto de perder o equilíbrio. Conteve a respiração e conseguiu agarrar a maçaneta da porta a tempo de ficar de pé.
Não precisava usar seus poderes. Sabia que o que iria encontrar do outro lado da porta deixaria em sua consciência uma impressão indelével. No entanto, o horror que se ia acumulando nela acendeu sua visão interior.
Abaixou a vista ao chão e viu a violenta energia daquelas pegadas. O botão também tinha traços sombriamente iridescentes. As correntes paranormais borbotavam com uma luz doentia que gelou seu sangue.
Queria sair correndo, gritando no meio da noite, mas não podia virar as costas para o homem que lhe tinha oferecido sua amizade e que lhe havia proporcionado uma carreira lucrativa e respeitável.
Tremendo, abriu a porta do gabinete do Dr. Roland Fleming.
Alguém tinha quase apagado a luz da lâmpada de gás do interior, mas ainda assim conseguiu distinguir o homem que estava deitado e sangrando no chão.
Roland sempre gostou de andar na moda com trajes feitos sob medida, ternos, gravatas e lenços atados com elegância. Seus cabelos grisalhos e encaracolados moldados de acordo com as últimas tendências, com costeletas e o bigode perfeitamente aparado.
O título de doutor havia-o outorgado ele mesmo, mas tinha explicado a Beatrice que, na realidade, era um homem do mundo do espetáculo. Com essa personalidade carismática e a presença
imponente, assegurava sempre um bom atendimento em suas palestras sobre fenômenos paranormais.
Mas naquela noite, tanto as finas dobras da camisa de linho branca, como o casaco de lã azul escuro, estavam ensopados em sangue. Beatrice correu até ele e abriu a camisa com as mãos trêmulas.
Não levou muito tempo para encontrar a profunda ferida no peito. O sangue jorrava. Pela cor, supôs que era uma ferida mortal. Mesmo assim, apertou as mãos firmemente sobre a pele rasgada.
— Roland — sussurrou. — Meu Deus! O que aconteceu?
Roland gemeu e abriu os olhos, olhos cinzentos, baços, assombrados pelo choque. Mas quando ele a reconheceu, algo que poderia muito bem ser pânico superou brevemente a onda de morte que se abatia sobre ele. Agarrou o pulso de Beatrice com uma mão sangrenta.
— Beatrice — disse com uma voz enrouquecida pelo esforço. Ouviu um terrível tremor vindo de seu peito. — Ele veio por você. Eu disse a ele que não estava. Mas ele não acreditou em mim.
— Quem veio por mim?
Série Damas Rua da Lanterna