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9 de fevereiro de 2016

Noiva de Verão

Série Irmãos Ainsworth
-Por que você treme assim? Eu sou tão desagradável para você, Genevieve?

Ela olhou para baixo,
respirando deliberadamente, ainda infinitamente consciente da força e destreza de suas mãos, o calor de seu corpo, de modo muito próximo a ela.
-Nada poderia estar mais longe da verdade..., ela começou, então parou por medo do que esta declaração pudesse revelar.
-Minhas mãos estão simplesmente tocando você e está com medo de mim. Ele franziu a testa, olhando para seu corpo, sua pele. -Perdoe-me, Genevieve. Eu terei mais cuidado. A culpa a atingiu, mas ela não fez nenhum esforço para tranqüiliza- lo. 
Pois foi a ternura de seu toque que lhe pôs em um dilema. Mesmo agora, enquanto ele acariciava suavemente o tecido frio sobre a palma da mão, ela tinha que fechar os olhos para esconder a emoção que a percorria com o contraste entre esse pano frio e o calor de sua própria carne...!

Capítulo um

Parando sua montaria na última crista da subida da estrada, Marcel Ainsworth olhou para cima. Seu olhar estava, inconscientemente, ansiando enquanto avistava a ponta da torre mais alta em Brackenmoore. Marcel teve essa primeira visão da casa com tanto medo e saudade.
Dois anos.
Parecia muito tempo para estar longe de casa e de seus três irmãos, ainda que ele não tivesse nenhum plano imediato de retornar. Ou pelo menos, não até que Benedict o tivesse mandado chamar. Embora ele não soubesse a razão para a convocação de seu irmão mais velho, Marcel não poderia ignorá-lo. Não a Benedict.
Deixar a propriedade da família, Brackenmoore, não tinha sido fácil. Quando Marcel fez isso, sentiu que não havia mais nada que pudesse fazer. O que Genevieve dissera a ele no último dia em Brackenmoore o havia forçado a agir.
Seu peito doía. Mesmo agora, pensando na saudade e desespero que tinha conhecido. A tentação de agir de acordo com as palavras dela, ceder ao desejo que sentiu era muito mais forte do que ele poderia ter imaginado.
Ele não podia ceder a ela. Quando tinha pouco mais de quinze anos o incidente ocorrido o fez perceber que nunca poderia sucumbir à tentação que Genevieve oferecia. Tinha sido pouco depois de Benedict demitir Thomas, um jovem que havia trabalhado como assistente de mordomo de Benedict. Thomas era amigo de Marcel, mas ele estava roubando Benedict. 
Quando Marcel perguntou-lhe por que ele fazia uma coisa dessas, o mais velho tinha olhado para ele com um desprezo que o abalou. Thomas tinha dito a Marcel que tinha feito isso a fim de comprar coisas para uma mulher jovem em particular.
Ele amava esta donzela, faria qualquer coisa para conquistá-la. E agora, ao saber de sua demissão, ela o afastou.
Apesar de sua própria dor pela forma que seu amigo o estava tratando, Marcel disse que o amor de Thomas deveria ter sido suficiente, que ele agora nunca saberia se ela teria o amado por ele mesmo. Amargamente, Thomas se virou, dizendo a Marcel que ele não estava em posição de fazer tal declaração porque ele era um Ainsworth.
Como Ainsworth, Marcel sempre teria qualquer mulher que desejasse, e ele não precisaria fazer nada para conseguir isso. Marcel tinha um nome, mas nunca saberia se ela o queria por si. O que Thomas disse sobre as mulheres era verdade. 
Desde os quinze anos, Marcel observou que elas estavam mais que ansiosas por sua atenção, professando que ele era espirituoso e bonito quando ele se sentia estranho e tímido.
Marcel tinha visto seu amigo ir em silêncio, mas as palavras cortaram profundamente. Elas só reforçaram o que ele sentia na maior parte de sua vida, que ele, Marcel, não realizou nada, não ganhou nada. 
Benedict foi quem, na verdade, ganhou sua posição em Brackenmoore por, abnegadamente, cuidar das terras e povo como seu pai tinha feito.
Marcel teria ficado orgulhoso e realizado ao servir a esse propósito, ainda que só pudesse haver um herdeiro. Ele queria manter essa posição de responsabilidade. Mas ele conseguiria isso através de seus próprios esforços, não ao se casar com uma mulher que teria dele o seu nome.
Certamente os sentimentos que Genevieve tinha por ele tinham mudado. 
Dois anos era tempo mais do que suficiente para ela ver como eles eram inadequados um para o outro, que seu desejo de ser uma Ainsworth não era razão suficiente para que eles ficassem juntos.

Série Irmãos Ainsworth
1 - Um Amor Esquecido
2 - A Dama da Floresta
3 - Noiva de Verão
4 - Noiva do Outono
Série Concluída


8 de outubro de 2009

Um Amor Esquecido

Série Irmãos Ainsworth

Tristan de Brackenmoore não sabia mais o que fazer para reconquistar aquela mulher!

Se um buquê de miosótis fosse capaz de fazer lady Lily Gray lembrar do que ambos haviam compartilhado.
Tristan teria colhido as flores debaixo da neve do inverno.
Mas nem assim seu unico e verdadeiro amor recordaria do tempo que haviam passado juntos e da filha que haviam tido...
O passado de Lily parecia estar trancado atrás de uma porta impenetrável, a qual o lorde Tristan alegava possuir a chave.Embora Lily não conseguisse se lembrar dele, existia algo que a fazia sentir-se atraída por aquele homem.
Entretanto, será que poderia confiar nele o suficiente para ajudá-la a enfrentar os terrores que haviam
ocasionado sua perda de memória?

Capítulo Um

Inglaterra, 1461


Lady Lillian Gray olhou para o salão da hospedaria com pouco interesse.
Esperava pelo chefe da guarda, que havia desaparecido por outra entrada.
O teto baixo era forrado de madeira escura e, atrás havia um corredor sombrio levava a uma escada de madeira igualmente! escura, e, de lá, ao andar de cima.
Havia um fogo aceso no fundo da lareira no outro lado do comodo e vários homens ocupando as mesas que dominavam sua extensão.
Cada um deles parecia mais preocupado com o conteúdo do próprio copo do que com qualquer outra coisa.
A sensação assombrosa de perda, tão conhecida de Lily desde que despertara do acidente, cerca de três anos antes, superava tudo.
O terrível desastre a privara da lembrança de tudo o que havia acontecido antes do momento em que acordara.
Quando Sir Seymour se aproximou para falar-lhe, ela se assustou.
- Milady?
Ela se virou e olhou para o guarda, cujo rosto ostentava uma máscara de respeito e distanciamento. Ele se portava daquela forma desde que chegara naquela manhã à propriedade do pai de Lily, com o resto dos homens do futuro marido dela, para
buscá-la. Apesar de respeitosos, eles não davam nenhum sinal de boas-vindas à provável futura esposa do patrão. Lily reprimiu um suspiro e respondeu:
- Sim?
O cavaleiro fez uma reverência, sem se preocupar com o incômodo dela.
- O dono da Hospedaria me garantiu que Milady terá o melhor quarto, exatamente como Milorde Maxim pediu. Não será preciso que a senhora se apresente no salão para jantar. Eu pedi que a comida seja levada aos seus aposentos, como Milorde também solicitou.
Lily assentiu.
- Obrigada. - Não fazia diferença se jantava sozinha. Ficaria solitária mesmo na companhia deles. Entretanto, estava aborrecida por ninguém ter perguntado o que preferia.
Aparentemente, ninguém nunca perguntava o que ela queria, certamente não seus pais, que sempre decidiam o que era melhor para ela.
Sir Seymour fez uma reverência formal e se virou para um dos homens que esperava logo atrás.
- Traga a bagagem leve de Milady.
O homem, que também era um estranho para ela, se apressou.
Maxim insistira que apenas os seus homens eram confiáveis para levá-la à sua fortaleza em Treanly.
Treanly.
O nome ainda soava terrivelmente estrangeiro, apesar de Lily saber que era o nome da sua nova casa.
E seu casamento com Maxim logo após sua chegada tornaria aquilo irrevogável.
Ela olhou para Sir Seymour, ligeiramente incomodada.
Se ao menos soubesse mais sobre o lugar para onde ia, sobre o que encontraria lá... Mas o cavaleiro parecia ser uma fonte improvável de informações.
Ele mantinha a máscara permanente de respeito e não diria nada sobre o patrão, a quem se referia com a mais rígida formalidade.
Resignada, Lily disse a si mesma que aquilo não importava.
Que diferença faria se seus próprios pais às vezes pareciam estranhos para ela? Qualquer vestígio de amor que provavelmente sentira por eles havia sumido da sua mente, apesar de a dedicação de ambos tê-la deixado com uma dívida de gratidão que nunca conseguiria pagar.
Ela não podia negar o alívio de sair de Lakeland Park.
A angústia de tentar se lembrar do passado e a dor evidente dos pais por ela não sentir mais o afeto de uma vida passada em comum doíam mais a cada dia.
Lily não queria pensar naquilo agora.
Queria olhar para a frente e para a nova vida.
Mesmo que não conseguisse se livrar da letargia que a dominava, uma pequena parte de seu ser tinha esperanças de ser aceita pela família do marido e de que o seu novo Lorde se preocupasse com ela.


Série Irmãos Ainsworth
1 - Um Amor Esquecido
2 - A Dama da Floresta
3 - Noiva de Verão
4 - Noiva do Outono
Série Concluída

A Dama da Floresta

Série Irmãos Ainsworth

Lady Raine precisava de um marido, mas não podia ser um qualquer.

Tinha de ser um homem honrado, capaz de proteger a herança de seu irmão mais novo.
No instante em que viu Benedict Ainsworth na corte, ela soube que sua busca terminara. Mas o esquema para conquistá-lo havia apenas começado...
Fascinado pela estonteante beleza de Raine, Benedict, o barão de Bracknmoore, moveria céu e terra pela intrigante dama.
Porém, quando ela o envolveu em um casamento por conveniência, Benedict decidiu que daria a Raine muito mais que um sobrenome...

Capítulo Um

Inglaterra, 1461


Raine Blanchett encontrava-se entre os inúmeros cortesãos que aguardavam a audiência do rei Edward mas, ao contrário dos requintados nobres, ela não fora ao castelo para falar com o rei.
Raine estava à procura de um marido.
A necessidade de encontrar um pretendente o mais rápido possível tornara-se uma pressão insustentável nos últimos dias, pois o mês que havia passado na corte não fora nada produtivo.
Ir à corte parecera-lhe a melhor alternativa quando comunicara a decisão ao irmão, William, e à criada, Aida.
No entanto, ao concretizar a idéia, descobrira que colocá-la em prática era mais difícil que concebê-la.O caráter firme e honesto de Raine apresentava-se como um obstáculo à complicada situação.
Não almejava encontrar qualquer marido, um rosto bonito e uma soberba inteligência não seriam suficientes.
Precisava de um homem responsável que cuidasse de seu irmão de onze anos e das propriedades que ele possuía, até que o garoto atingisse a maioridade.
O pretendente também teria de ser honesto o bastante para não sucumbir à tentação de dilapidar a herança de William.
À aparência e a idade pouco importavam.
Ele tinha de ser justo, íntegro e corajoso.
Poderoso a ponto de espantar o primo Denley e sua cobiça.
Semanas antes de decidir recorrer à corte, os insistentes pedidos de casamento haviam se tornado verdadeiras ameaças.
Raine sabia que William não estaria protegido sob a tutela de Deniey.
Não era segredo que o ambicioso primo queria casar-se com ela para obter as vastas terras que William herdara seis meses atrás, após o falecimento do pai.
A lembrança da morte de seu pai trouxe uma dor aguda ao peito de Raine, mas se recusou a abater-se pelo sofrimento.
Sabia que o pai esperava que ela lutasse para proteger o irmão e a herança.
Embora jamais houvesse se queixado ou confessasse o desespero que o dominara depois da morte da esposa, o pai se tornara dependente de Raine desde aquele fatídico dia.
Ele parecia querer que a filha fizesse tudo para salvaguardar William e as terras, e Raine pretendia cumprir taí desejo.
Tão logo chegou à corte, utilizou o método usual de encontrar possíveis noivos. Cuidava da aparência com especial atenção e se apresentava com os lindos vestidos que suas damas de companhia haviam confeccionado.
Sorria, dançava e tentava parecer simpática.
O problema era que despertava interesse em homens pouco adequados a sua posição.
Os três pretendentes que havia escolhido acabaram por
decepcioná-la, inclusive lorde Henry Wickstead, que mostrara, a princípio, certa aversão a fortunas.
Ele, tal qual os demais, provou estar longe do ideal de Raine.
Após investigar a situação dos três homens, Raine descobrira que estavam em dificuldades financeiras e procuravam uma noiva rica.
O fato de ela não possuir herança não os incomodava, porque logo ficara claro que ambicionavam as propriedades do jovem William.
Contudo, aquelas preciosas semanas na corte não haviam sido um desperdício.
Raine acabou criando um método eficiente para descobrir as verdadeiras intenções dos homens sem perder muito tempo.
A ideia de comparecer à audiência com o rei lhe surgira havia poucos dias. Ali, ela poderia conhecer a situação financeira dos cortesãos através dos pedidos solicitados ao rei.Ninguém questionava a presença constante de Raine pois pareciam ocupados demais com os próprios problemas.
O novo método provara ser eficaz, mas também mostrara que a tarefa a qual se propusera seria penosa.
Nenhum homem havia passado nos testes preliminares.
Somente o desespero a impedia de voltar para casa.
Não acreditava que Denley desistisse de suas intenções.
Receava que o primo a submetesse ao casamento.
E pior, ele poderia fazer algum mal a William só para tomar posse do legado do garoto.
Denley era o único parente vivo da família, logo, seria o herdeiro universal se algo acontecesse a William.
Raine não ousou pensar na possibilidade que tanto a afligia.
Nada aconteceria a William, pensou, esperançosa.
Com a morte do pai, ele era tudo que lhe restava e daria o melhor de si para
protegê-lo. Observou os cortesãos que conversavam na sala de espera e suspirou frustrada. Momentos depois, o assistente do rei abriu a porta, e todos interromperam o falatório.
— Podem entrar. Sua Majestade, o rei Edward, atenderá a um de cada vez.
Quando Raine adentrou a sala de audiência, focalizou o poderoso Edward sentado à mesa principal.
Não era a primeira vez que se questionava acerca do rei.
Alguns diziam que, embora possuísse inteligência e fosse íntegro e justo, ele não herdara a força de caráter do pai.
Raine sabia que somente o tempo poderia atestar tal qualidade, afinal, Edward tinha apenas vinte anos.
Sentiria ele falta do pai que morrera lutando para salvar a coroa?
Ou a responsabilidade da posição roubava do rapaz a liberdade, como ocorria a Raine? Observando o jovem monarca, ela concluiu que sim.
Porém, Edward e sua dor pouco importavam ante a necessidade de proteger William.
A manhã passou rapidamente enquanto cada homem submetia seu caso ao rei.
Nenhum deles se adequava ao cargo de marido.
Alguns eram casados, outros não lhe pareciam convenientes.
Raine começava a desistir quando notou uma comoção à porta da sala.
Embora estivesse perto do burburinho, não conseguia enxergar a causa de tamanha perturbação.
Todos esticavam o pescoço a fim de descobrir do que se tratava.
De repente, o rei Edward levantou-se e sorriu com um entusiasmo que até então não havia manifestado.
— Entre, Benedict. — O jovem rei acenou ao recém-chegado.
Todos, inclusive Raine, avistaram os cabelos negros e os ombros largos, cobertos por um manto de veludo.
O desconhecido parecia flutuar, imperturbável, em meio à multidão.
Mesmo na ponta dos pés, Raine não conseguia ver além dos cabelos no alto da cabeça quando o ilustre visitante cumprimentou Edward.
O gesto afetuoso do rei aguçou a curiosidade dos presentes.
Por um instante, Edward e o homem, chamado Benedict, conversaram em voz baixa.
De súbito, o rosto do rei ficou sério, acompanhou o estranho até a ponta da mesa e continuaram a conversar.
Um murmúrio sutil, que Raine descreveu como inveja, começou a ecoar pela sala.
O interesse acerca do recém-chegado era geral.
Que tipo de homem poderia se considerar amigo do rei Edward?
A relação estreita entre ambos mostrava-se evidente.
Raine tentou se aproximar, mas foi barrada pela densa multidão.
— Bastardo arrogante. — Ela escutou um homem alto e loiro resmungar.
— Quem é ele? — Raine perguntou ao suposto invejoso.
O homem loiro olhou para ela e disse, com explícito desdém:
— Benedict Ainsworth, o barão de Brackenmoore. Era um grande amigo do pai de Edward e agiu como um instrumento precioso para este obter o trono.


Série Irmãos Ainsworth
1 - Um Amor Esquecido
2 - A Dama da Floresta
3 - Noiva de Verão
4 - Noiva de Outono
Série Concluída

Noiva do Outono

Série Irmãos Ainsworth

Annaliese não passava de uma simples donzela...

A curiosidade inocente de Annaliese em conhecer o corpo masculino despertou no guerreiro Kendran Ainsworth um desejo desconhecido de carinho e proteção.
Mas, caso ele revelasse sua verdadeira identidade Annaliese não o aceitaria,
uma vez que ela demonstrava grande cautela para com os nobres.
Como Kendran conseguiria, sendo um membro da nobreza, convencer a jovem donzela da sinceridade de seu amor?
Ao socorrer um estranho e salvá-lo da morte, em um gesto de mera caridade, Annaliese não podia supor que esse gesto uniria para sempre seu condenando-a a amar um homem que, por sua estirpe, não podia ser confiável!


Capítulo Um

Inglaterra, 1472

Annaliese Stanhope relanceou um olhar ao Credor, desconfiada.
Apressou Hinge, a égua não muito animada de seu pai.
Para não desagradar a solitária viúva Swift, acabara por estender a leitura até aquela hora tardia.
A floresta, sempre bonita à luz do sol, mostrava-se escura e agourenta.
A aflição de Annaliese não era causada pelos aspectos da natureza, mas por quem poderia encontrar à espreita.
Max, seu grande cão de caça, pressentiu a inquietação da dona e grunhiu, como se a lembrasse de sua presença protetora.
Annaliese sabia muito bem que o cachorro de nada valeria contra a gentalha armada que vagueava pelas matas.
Mesmo assim, o perigo em potencial não era o que mais a perturbava.
Pensava na preocupação do pai que a aguardava de volta.
Depois de perder a esposa pela ação brutal e ainda impune de um homem, ou homens, ele ficava ansioso demais com o paradeiro e a segurança da filha.
Tentou não pensar na dor pela morte da mãe.
Precisava concentrar-se em voltar para casa o mais rápido possível.
Por compartilhar da idéia geral de que os crimes na região eram cometidos pelas mesmas pessoas, o pai deveria estar desesperado com seu atraso.
Para Annaliese era difícil aceitar a restrição da liberdade.
Mas os habitantes da aldeia e arredores, inclusive seu pai, estavam apavorados com os homens que faziam um lar das florestas e estradas solitárias.
Lembrou-se do velho John, que vivia no outro lado do povoado.
Há poucos dias e um pouco antes do amanhecer, ele rumava para o mercado com a carroça lotada de frutas de sua colheita.
Fora cercado por um grupo de homens mascarados a cavalo e que levaram a carreta, as mercadorias e o burro.
Max tornou a grunhir um aviso.
Annaliese, com o coração batendo forte, incitou o cavalo a um galope ainda mais veloz.
Embora ela não percebesse nenhum som ou movimento estranhos, o cachorro, sentado na parte de trás da carroça, olhava à frente e à direita.
Annaliese acariciou a cabeça grande do animal com a mão trêmula e estreitou os olhos para ver melhor na escuridão.
Os galhos das árvores, àquela hora verde-escuros, podiam esconder uma ameaça.
― O que foi, garoto? ― ela murmurou, com voz ansiosa e rouca.
O cão rosnou, pulou para fora da carroça e Annaliese puxou as rédeas.
― Max, volte!
O animal, em geral obediente, não lhe deu atenção.
Farejou a moita cerrada que margeava a estrada, olhou para trás e uivou alto.
― Volte! ― ela insistiu.
Max emitiu mais um uivo lamentoso.
Parecia estar dividido entre a obediência e o motivo que o fizera correr até ali.
Annaliese perscrutou a noite com mais apuro e viu o que atraíra a atenção do cachorro.
Era o corpo inerte de um ser humano.
Por um momento, não conseguiu mexer-se, apavorada.
Em seguida, desceu do assento, aproximou-se devagar do animal que parecia mais uma sombra na noite.
O cão veio a seu encontro, arfando.
Lambeu-lhe o rosto, quando ela se curvou para acariciá-lo.
― O que foi, meu rapaz? Encontrou alguém?
Max latiu, virou o focinho para corpo imóvel meio escondido e olhou para Annaliese, talvez para apressá-la.
― Quer que eu vá até lá? ― ela perguntou ao amigo fiel e inseparável.
A jovem seguiu o cão até a margem da estrada.
O animal tornou a farejar quem havia encontrado.
Annaliese ajoelhou-se e passou a mão na nuca da pessoa desfalecida.
"Oh, não! Sangue!", reconheceu de imediato.
Engasgou e tirou as mãos.
Aquela pobre alma devia ser mais uma vítima dos homens que já haviam trazido tanta dor a Lundy. Era como agiam.
Golpeavam e fugiam.
Annaliese tornou a passar as mãos sobre a cabeça e os ombros largos do homem deitado de bruços. O frio da noite só iria piorar o estado dele, se é que ainda estivesse vivo.
Rapidamente, ela o empurrou para deitá-lo de costas.
Um gemido quase imperceptível deu-lhe a certeza de que a vida ainda não se esvaíra totalmente e que o homem precisava de socorro urgente.
Voltar para casa e pedir auxílio ao pai seria uma tarefa muito demorada.
Com esse pensamento, foi buscar a carroça e aproximou-a do homem desacordado.
Desceu da boleia e arrastou o corpo até a parte traseira e aberta.
Depois subiu no estrado, abaixou-se e tentou puxar o homem para dentro.
Max percebeu a dificuldade da operação, abocanhou as ceroulas do desfalecido e, com todo o poder dos maxilares, ajudou a movê-lo para cima.
O pavor de que o estranho morresse na estrada deram a Annaliese uma força que ela não imaginava possuir.
Puxava e erguia o corpo, centímetro por centímetro.
Tinha de ajudar aquele homem que talvez
fosse mais uma vítima dos que haviam destruído a paz de sua família.
Assim que a missão que parecia impossível foi concluída, Annaliese voltou depressa para o assento.
― Vamos, vamos, Hinge! ― ela gritou e agitou as rédeas.
Talvez pela gravidade da situação, o animal arrancou com uma velocidade anormal para os seus padrões.
Assim mesmo, pareceu transcorreu uma eternidade até Annaliese deter a égua em frente da pequena casa de pedra de dois andares.
A jovem pulou da carroça e antes de chegar à porta estreita, a mesma foi aberta.
A silhueta vigorosa de seu pai destacou-se sob a luz das velas do interior.
― Annaliese! ― A ansiedade da voz era inegável. ― Estava quase louco com...
O remorso e as desculpas mais do que necessárias foram abafados pela urgência do que teria de ser feito.
― Papai, por favor, ajude-me! Max e eu encontramos um homem ferido na floresta.
― Homem ferido? ― o pai repetiu, chocado e confuso.
Annaliese levou-o pela mão até a parte traseira do veículo tosco.
― Sim, e precisamos fazer alguma coisa!
― Mas como é que ele...
― Acho que o senhor sabe a resposta, tanto quanto eu. O silêncio pesado que se seguiu deu à filha a noção de que o pai pensava no sofrimento dos aldeãos e na morte da esposa.
― Mas o que está acontecendo? ― Tia Jane viera atrás deles.
Annaliese explicou, com a maior calma possível, o que acontecera.
― No escuro, não deu para avaliar a extensão do ferimento ― a jovem continuou. ― Só pensei em trazê-lo para que a senhora o visse.
― Precisamos levá-lo para dentro ― tia Jane afirmou, resoluta
― Está bem.
― Por favor, filha ― o pai pediu, com o cenho franzido ―, traga uma lamparina para cá.




Série Irmãos Ainsworth
1 - Um Amor Esquecido
2 - A Dama da Floresta
3 - Noiva de Verão
4 - Noiva de Outono
Série Concluído