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9 de fevereiro de 2016

Noiva de Verão

Série Irmãos Ainsworth
-Por que você treme assim? Eu sou tão desagradável para você, Genevieve?

Ela olhou para baixo,
respirando deliberadamente, ainda infinitamente consciente da força e destreza de suas mãos, o calor de seu corpo, de modo muito próximo a ela.
-Nada poderia estar mais longe da verdade..., ela começou, então parou por medo do que esta declaração pudesse revelar.
-Minhas mãos estão simplesmente tocando você e está com medo de mim. Ele franziu a testa, olhando para seu corpo, sua pele. -Perdoe-me, Genevieve. Eu terei mais cuidado. A culpa a atingiu, mas ela não fez nenhum esforço para tranqüiliza- lo. 
Pois foi a ternura de seu toque que lhe pôs em um dilema. Mesmo agora, enquanto ele acariciava suavemente o tecido frio sobre a palma da mão, ela tinha que fechar os olhos para esconder a emoção que a percorria com o contraste entre esse pano frio e o calor de sua própria carne...!

Capítulo um

Parando sua montaria na última crista da subida da estrada, Marcel Ainsworth olhou para cima. Seu olhar estava, inconscientemente, ansiando enquanto avistava a ponta da torre mais alta em Brackenmoore. Marcel teve essa primeira visão da casa com tanto medo e saudade.
Dois anos.
Parecia muito tempo para estar longe de casa e de seus três irmãos, ainda que ele não tivesse nenhum plano imediato de retornar. Ou pelo menos, não até que Benedict o tivesse mandado chamar. Embora ele não soubesse a razão para a convocação de seu irmão mais velho, Marcel não poderia ignorá-lo. Não a Benedict.
Deixar a propriedade da família, Brackenmoore, não tinha sido fácil. Quando Marcel fez isso, sentiu que não havia mais nada que pudesse fazer. O que Genevieve dissera a ele no último dia em Brackenmoore o havia forçado a agir.
Seu peito doía. Mesmo agora, pensando na saudade e desespero que tinha conhecido. A tentação de agir de acordo com as palavras dela, ceder ao desejo que sentiu era muito mais forte do que ele poderia ter imaginado.
Ele não podia ceder a ela. Quando tinha pouco mais de quinze anos o incidente ocorrido o fez perceber que nunca poderia sucumbir à tentação que Genevieve oferecia. Tinha sido pouco depois de Benedict demitir Thomas, um jovem que havia trabalhado como assistente de mordomo de Benedict. Thomas era amigo de Marcel, mas ele estava roubando Benedict. 
Quando Marcel perguntou-lhe por que ele fazia uma coisa dessas, o mais velho tinha olhado para ele com um desprezo que o abalou. Thomas tinha dito a Marcel que tinha feito isso a fim de comprar coisas para uma mulher jovem em particular.
Ele amava esta donzela, faria qualquer coisa para conquistá-la. E agora, ao saber de sua demissão, ela o afastou.
Apesar de sua própria dor pela forma que seu amigo o estava tratando, Marcel disse que o amor de Thomas deveria ter sido suficiente, que ele agora nunca saberia se ela teria o amado por ele mesmo. Amargamente, Thomas se virou, dizendo a Marcel que ele não estava em posição de fazer tal declaração porque ele era um Ainsworth.
Como Ainsworth, Marcel sempre teria qualquer mulher que desejasse, e ele não precisaria fazer nada para conseguir isso. Marcel tinha um nome, mas nunca saberia se ela o queria por si. O que Thomas disse sobre as mulheres era verdade. 
Desde os quinze anos, Marcel observou que elas estavam mais que ansiosas por sua atenção, professando que ele era espirituoso e bonito quando ele se sentia estranho e tímido.
Marcel tinha visto seu amigo ir em silêncio, mas as palavras cortaram profundamente. Elas só reforçaram o que ele sentia na maior parte de sua vida, que ele, Marcel, não realizou nada, não ganhou nada. 
Benedict foi quem, na verdade, ganhou sua posição em Brackenmoore por, abnegadamente, cuidar das terras e povo como seu pai tinha feito.
Marcel teria ficado orgulhoso e realizado ao servir a esse propósito, ainda que só pudesse haver um herdeiro. Ele queria manter essa posição de responsabilidade. Mas ele conseguiria isso através de seus próprios esforços, não ao se casar com uma mulher que teria dele o seu nome.
Certamente os sentimentos que Genevieve tinha por ele tinham mudado. 
Dois anos era tempo mais do que suficiente para ela ver como eles eram inadequados um para o outro, que seu desejo de ser uma Ainsworth não era razão suficiente para que eles ficassem juntos.

Série Irmãos Ainsworth
1 - Um Amor Esquecido
2 - A Dama da Floresta
3 - Noiva de Verão
4 - Noiva do Outono
Série Concluída


29 de julho de 2012

Canção Ardente



Aquela não era a noiva prometida!

Para o audaz Roland St. Sebastian, o decreto do rei que o obrigava a casar-se com a dócil filha de seu inimigo já era ruim o suficiente... mas quando a tímida noiva acabou sendo Elayne, a irmã indomável de sua prometida, a fúria de Roland se tornou ilimitada. 
E embora os beijos da ruiva temperamental quase o deixassem louco de desejo, ele se perguntava se algum dia aprenderia a confiar nela... Ou se Elayne um dia aprenderia a amá-lo!

Capítulo Um

Inglaterra
Roland St. Sebastian, barão de Kirkland, inclinou-se para frente no primeiro ban­co da capela de Penacre. Não estava com a menor disposição de apreciar o rico jogo de luz e cores projetadas pelo enorme vitral, logo atrás do altar, sobre o chão de pedras imaculadamente limpo. Preocupava-se mais com a lenta passagem do tempo.
Esforçando-se para conter a irritação crescente, apoiou o queixo sobre as mãos cruzadas. Entretanto, ao fitar as outras duas figuras, imóveis e silenciosas, seus olhos azuis não foram capazes de disfarçar por completo a impaciência e o desagrado.
Onde estava sua noiva?
Hugh Chalmers, pai da noiva e barão de Penacre, mantinha uma expressão impenetrável enquanto aguardava a chegada da filha junto ao altar ricamente ornamentado. Ao seu lado, o sacerdote, paramentado de acordo com a ocasião festiva, mostrava-se bastante desconfortável.
Quando o padre murmurou algo junto ao ouvido de Hugh, o cavalheiro alto e grisalho mal respondeu, o corpo rígido revelando grande tensão. Todavia Roland o viu lançar um olhar rápido na direção da porta da capela.
Não havia sinal de ninguém.
Obviamente Penacre estava ficando impaciente com a demora da filha. Roland sabia que o velho barão tampouco desejara aquela união, porém a espera pro­longada de nada servia.
John, rei da Inglaterra, decretara que tal casamento fosse realizado com o objetivo de colocar um ponto final nas disputas e discórdias entre as linhagens de Pena­cre e Kirkland.
O rei decidira que a situação chegara ao limite má­ximo quando uma das pequenas propriedades de Ro­land fora invadida e todos os suprimentos armazena­dos destruídos. As provisões eram extremamente ne­cessárias para a sobrevivência dos aldeões durante esse período de carestia que enfrentavam, logo depois do término das guerras, na Terra Santa.
Ele passou as mãos pelos cabelos negros, desejando poder mudar o rumo dos pensamentos. Fora numa das muitas batalhas na Terra Santa que morrera seu irmão, Geoffrey, aquele que deveria ter herdado o título de barão após o falecimento do pai de ambos, no ano anterior.
Roland ainda não se sentia confortável com o fato de ter se tornado o herdeiro do título e das propriedades, embora houvesse assumido a administração das terras antes mesmo da morte de Albert St. Sebastian, em 1200, vitimado pela bebida e pela tristeza, um ano depois do rei Richard haver encontrado seu próprio fim em Châlus-Chabrol. Se não fosse por essa série de eventos trá­gicos, hoje ele não ostentaria título nenhum a não ser o de filho mais novo de um cavaleiro leal ao reino.
Melhor esquecer o que não podia ser mudado e con­centrar-se nas núpcias com Celeste Chalmers. Apesar de ser filha de um inimigo e não a noiva que teria escolhido para si, tratava-se de uma mulher extrema­mente bonita. Vira-a apenas uma vez, durante a audiência com o rei. E quando John anunciara que um casamento seria a melhor solução para as dificuldades atuais, Roland acatara a decisão.
Celeste Chalmers era somente um meio de se atingir um fim. Ele queria paz e prosperidade para suas ter­ras. O rico dote da noiva o ajudaria bastante em seus esforços para reconduzir as propriedades sob seus cui­dados à época de fartura e abundância conhecida antes de o pai haver sucumbido ao inferno da bebida. Além disso, tal casamento pouco mudaria sua vida. O papel de uma esposa resumia-se a manter a cama aquecida para o marido e produzir um herdeiro legítimo. Celeste também emprestaria beleza e graça à sua mesa e aten­deria às suas necessidades sempre que solicitada.
Jamais cometeria o terrível engano de depositar fé e confiança na esposa, como seu pai fizera. Isso se revelara a razão de sua queda.
O amor costumava ser valorizado em excesso, o que era um erro. Por causa do amor, seu pai fora lançado ao chão quando a esposa o abandonara e outra vez, quando permitira que o mesmo sentimento se inter­pusesse entre si e o filho mais velho.
Roland balançou a cabeça e endireitou os ombros, afastando os pensamentos sombrios. Depois tornou a olhar para a porta da capela, impaciente.
Onde estava a mulher com quem iria se casar e por que se julgava no direito de fazê-los esperar daquela maneira aviltante? Sua grande beleza não iria impe­di-la de se curvar à vontade do marido tão logo esti­vessem legalmente unidos.
Irritado, Roland lançou um olhar firme na direção do futuro sogro, observando a expressão frustrada do rosto marcado pelas rugas. Pensaria melhor de um homem que não se deixasse manipular por uma criatura de cabeça oca. Assim que partissem para Kirkland, na manhã seguinte, Celeste Chalmers aprenderia a reconhecer o próprio lugar.
Ele havia chegado ao castelo de Penacre poucas ho­ras atrás, na companhia de apenas quatro de seus cavaleiros mais fiéis. Estivera certo ao presumir que não seria recebido com ódio, porém tampouco encon­trara calorosas boas-vindas.
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18 de dezembro de 2011

Rosa entre espinhos


Inglaterra, 1067

Rose de Carlisle renunciou ao orgulho saxão para proteger seu povo da ira dos normandos. 
Mesmo quando o rude líder dos cavaleiros vitoriosos declarou que a tomaria como esposa, Rose calou-se e aceitou seu destino. 
Então, conheceu seu futuro cunhado, Gaston de Thorne, dono do olhar mais cativante que ela já vira. E soube, pela primeira vez, o real significado da palavra “conquista”.
Sir Gaston viu-se na iminência de perder sua honra no instante em que pôs os olhos em lady Rose que pertencia a seu irmão, por decreto do rei. Mas, ao constatar que despertara nela a mais pura paixão, jurou que Rose de Carlisle seria somente sua!

Capítulo Um

Inglaterra, região rural Primavera de 1067.
Rose olhou por sobre a paliçada, a brisa leve despenteando os cachos castanho-avermelhados que lhe enfeitava a fronte. Correu o olhar pela ampla faixa gramada, de onde as árvores haviam sido retiradas, próximo à alta parede de madeira desbastada. Em seguida, desviou-os para mais além, onde o declive terminava na floresta densa e verdejante. Então, estreitou os grandes olhos verdes, à procura de um sinal concreto de que os normandos estavam mesmo se dirigindo ao seu feudo.
A apreensão provocou-lhe um estremecimento, fazendo com que envolvesse o corpo pequeno e delicado com os braços. Um mau pressentimento apoderou-se dela, o coração batendo num ritmo descompassado. Meu Deus, pensou agitada, não posso permitir que ninguém perceba o quanto estou apavorada.
Respirou fundo, forçando-se a manter a calma. 
Ao longo dos meses que se seguiram às mortes do pai e do irmão, Rose conseguira exercer não mais que uma minúscula parcela de sua liderança sobre Carlisle. Afinal, não era uma tarefa fácil para os servos do feudo, habituados a prestar obediência e lealdade a um lorde, depositarem sua confiança em uma mocinha inexperiente, de apenas dezoito anos de idade.
— O que vamos fazer, lady Rose? — Alfred perguntou de súbito, despertando-a do devaneio sombrio. — Ron retornou de sua cavalgada há poucos instantes. Assim que entrou na fortaleza, informou nossos homens que havia avistado quinze cavaleiros montados. E os invasores se encontram a poucas horas daqui.
Rose deixou escapar um pequeno grito de surpresa. Quinze cavaleiros montados! Seu pai e seu irmão haviam sido os únicos homens de Carlisle a deixar o feudo sobre cavalos. Parecia que, na Normandia, os animais eram muito mais abundantes que na Inglaterra. Além do mais, ela pensou com um leve sorriso de desprezo, os saxões preferiam lutar a pé.
Virou-se para encarar o homenzinho corcunda, que há anos desempenhava o papel de conselheiro, e tomou o cuidado de esconder a ansiedade que a dominava sob uma máscara de confiança. Parado a seu lado, Alfred eslava trêmulo e torcendo as mãos sem parar.
Controlando a voz, a fim de evitar que qualquer demonstração de suas emoções traísse sua agitação, Rose finalmente respondeu:
— Não temos escolha, senão permitir sua entrada. Jamais poderíamos nos defender contra tantos cavaleiros.
— Mas, senhora, são quinze cavaleiros montados — os lábios finos de Alfred movimentaram-se com rapidez e nervosismo —, além de mais uns cinqüenta soldados a pé. O que vamos fazer? — repetiu a pergunta, carregada de medo e apreensão.
A expressão rígida das feições de Rose amenizaram quando um forte sentimento de piedade a invadiu. Num gesto carinhoso, afagou o ombro do conselheiro, sentindo-lhe os ossos salientes sob os dedos. Mas, por mais simpatia que sentisse pelos receios de Alfred, não poderia recuar na decisão tomada.
— Faremos o que devemos fazer. Reúna todos os habitantes do feudo. Preciso lhes falar antes da chegada dos invasores.
— Creio que alguns vão relutar em aceitar sua decisão, lady Rose
— Alfred advertiu. — E difícil para homens como Hugh e John, que participaram da batalha de Hasúngs, junto de seu pai e… Ah, se seu irmão, Edmund, estivesse aqui!

17 de março de 2010

Serie Veludo Clayburn

 1- Veludo Azul





Ele lutava contra o fascínio da mulher que lhe fora imposta como esposa!

Inglaterra, 1355.
Forçada a se casar, lady Elizabeth Clayburn não encontrou, no leito nupcial do castelo do barão de Warwicke, os deleites do amor...
Havia muito tempo, o enigmático lorde Raynor Warwicke erguera muralhas em volta do próprio coração. Porém, sua esposa ousou penetrá-las, desafiando-o a afastar as suspeitas e a render-se ao poder da paixão!

Capítulo Um

Inglaterra, 1355.
Elizabeth Clayburn estava sentada no banco de pedra da janela, apoiando as costas eretas nas do irmão. Apesar da almofada de veludo, não se sentia confortável e, pela terceira vez, desejou estar em casa.
Contudo, havia prometido ficar ao lado de Stephen até lady Helen dirigir as atenções a outro homem. Por mais que detestasse o castelo de Wihdsor, tinha de assumir o compromisso.Não era hábito seu envolver-se nos assuntos do irmão, mas lady Helen estava custando a se convencer e Stephen chegara quase a implorar seu auxílio.
Ele achava que, vendo-o acompanhado, a ex-amante acabaria desistindo de importuná-lo.
Descontente, Elizabeth percorreu o olhar pela antecâmara repleta de pessoas. As três janelas deixavam entrar luz suficiente para iluminar o aposento grande e alto. Porém, ela não viu nada que lhe prendesse a atenção.
Apesar das paredes frias de pedra, o ar estava quente. Não havia móvel algum, ou adornos, exceto as ricas cortinas.
Homens e mulheres exibiam suas melhores roupas, capas túnicas e meias das mais variadas cores. Os homens mais velhos usavam capas compridas, mas os jovens
atreviam-se a usar as curtas tão censuradas pela igreja.
As das mulheres tinham fendas dos lados para mostrar as túnicas justas de seda adamascada. Uma profusão de jóias e peles era apreciada enquanto as pessoas
moviam-se pela antecâmara à espera de serem atendidas pelo monarca.
Atônita, Elizabeth olhou para baixo quando o trovador, a seus pés, começou a tocar o alaúde e a cantar.
"Lábios do mais puro vermelho
Olhos brilhantes como o orvalho"
— Deus misericordioso, Beth, esta é pior do que a última — reclamou Stephen a seu ouvido.
— Por favor, mano, não fale assim — protestou Elizabeth temendo que Percy ouvisse e se ofendesse.
Mas sir Percy Hustace havia ouvido o comentário. Desapontado, largou o instrumento no chão, arrebentando-lhe uma corda. Depois, tomou uma das mãos de Elizabeth.
— My lady, a senhora achou minha canção muito feia? Levada pela compaixão, Elizabeth respondeu:
— Nem um pouco, sir Percy. Percebe-se que tanto a letra como a melodia foram bem trabalhadas. Eu me sinto lisonjeada.
Percy fitou Stephen com ar de triunfo, mas este não escondeu o desdém. Com os olhos azuis faiscando, Elizabeth ameaçou o irmão.
— Se você não se comportar, vou embora e o deixo sozinho para enfrentar lady Helen.
Stephen empertigou-se.
— Ora, Beth, eu estava apenas brincando com Percy. Ele não devia ser tão sensível — declarou ao virar o rosto para o trovador.
Elizabeth não podia ver-lhe a expressão, mas pelo que conhecia do irmão, calculou ser desagradável. Todavia, não reclamou. Percy podia ser cansativo com suas canções piegas, isso sem mencionar a maneira exagerada de se vestir. Ela sorriu e disse:
— Está bem, vamos esquecer o assunto.



2- Veludo Vermelho


Eles viveram uma paixão sem limites e… proibida!

Inglaterra, 1360.

Sir Stephen Claybum sabia que o destino de lady Fellis Grayson era deitar-se no leito nupcial de outro homem. E, como emissário real, seria obrigado a entregar a mulher amada aos braços do inimigo.
O rei ordenara que Fellis se casasse com um estrangeiro por razões de Estado. Mas ela tomou uma decisão perigosa: desafiar a autoridade do soberano e obedecer aos ditames do próprio coração, que pertencia a Stephen!

Capítulo Um

Stephen Clayburn mexeu-se na sela para relaxar os músculos e inspirou profundamente o ar matinal.
Havia dormido ao relento, sob o manto das estrelas, preferindo não buscar o abrigo de mais um mosteiro.
Estava cansado da comida sem gosto que os monges costumavam comer.  Na certa serviam aquela comida justamente para afugentar os visitantes.
Talvez adivinhando o pensamento do dono, Gabriel, o alazão, sacudiu a cabeça e resfolegou.
— Comidinha ruim, hein, companheiro? — disse Stephen, rindo e batendo no pescoço do animal.
Ele queria chegar logo ao castelo Malvern para cumprir a tarefa e voltar para casa. Ao receber a incumbência do rei Edward III, vira aquilo como uma solução para os problemas imediatos.
A ex-amante dele, Helen Denfield, não estava querendo aceitar o rompimento.
A princípio a mulher havia concordado que não existiria compromissos entre eles, mas com o passar do tempo Stephen chegara à conclusão de que a rica viúva o queria como segundo marido.
E não ajudava em nada o fato de a irmã dele, Elizabeth, ter se casado tão inesperadamente. Aquilo só incentivara o assédio de lady Helen.
Beth casada… Stephen balançou a cabeça. Não havia pensado que ficar sem a presença da irmã na pequena casa em Windsor o afetaria tanto, que sentiria tanto a falta dela. Na verdade devia se alegrar por estar livre de Beth, que vivia se intrometendo nos assuntos dele, perguntando a que horas voltaria para o jantar.
Nenhum homem gostava de ser tão paparicado.
Mas o fato era que Stephen sentia muita saudade da irmã.
Beth representava alguém para quem ele sempre voltava, alguém com quem podia conversar nas noites em que não estava viajando a serviço do soberano.
Como mensageiro do rei Edward, nunca podia prever o momento em que seria convocado para uma nova missão.
Elizabeth tinha sido sempre uma boa amiga e companheira, sem criar as inevitáveis complicações de uma esposa. E, para dizer a verdade, Stephen se sentia solitário sem ela. Agora a casa parecia quieta demais, sem vida.
Por isso era até bom estar outra vez na estrada.
Stephen nunca achara complicado desincumbir-se de missões diplomáticas, e agora o rei confiava na habilidade dele para arranjar o casamento entre um membro da baixa nobreza do País de Gales e a filha de um barão inglês.
Na ocasião o soberano o elogiara muito, qualificando-o como um homem simpático e possuidor de tato, perfeito para a missão.
Stephen balançou a cabeça de cabelos ruivos. Sim, ele até podia ter o dom da palavra, mas tinha sido escolhido porque os negociadores mais experimentados do rei estavam ocupados com os escoceses e os franceses.
Não que duvidasse das próprias qualidades, mas não achava nada atraente a tarefa de arranjar casamento para outras pessoas.
E isso porque ele próprio não pensava em se ligar a uma mulher pelo resto da vida.
A imagem que fazia do casamento não era das melhores.



Série Clayburn
1 - Veludo Azul
2 - Veludo Vermelho
Serie Concluída

8 de outubro de 2009

Um Amor Esquecido

Série Irmãos Ainsworth

Tristan de Brackenmoore não sabia mais o que fazer para reconquistar aquela mulher!

Se um buquê de miosótis fosse capaz de fazer lady Lily Gray lembrar do que ambos haviam compartilhado.
Tristan teria colhido as flores debaixo da neve do inverno.
Mas nem assim seu unico e verdadeiro amor recordaria do tempo que haviam passado juntos e da filha que haviam tido...
O passado de Lily parecia estar trancado atrás de uma porta impenetrável, a qual o lorde Tristan alegava possuir a chave.Embora Lily não conseguisse se lembrar dele, existia algo que a fazia sentir-se atraída por aquele homem.
Entretanto, será que poderia confiar nele o suficiente para ajudá-la a enfrentar os terrores que haviam
ocasionado sua perda de memória?

Capítulo Um

Inglaterra, 1461


Lady Lillian Gray olhou para o salão da hospedaria com pouco interesse.
Esperava pelo chefe da guarda, que havia desaparecido por outra entrada.
O teto baixo era forrado de madeira escura e, atrás havia um corredor sombrio levava a uma escada de madeira igualmente! escura, e, de lá, ao andar de cima.
Havia um fogo aceso no fundo da lareira no outro lado do comodo e vários homens ocupando as mesas que dominavam sua extensão.
Cada um deles parecia mais preocupado com o conteúdo do próprio copo do que com qualquer outra coisa.
A sensação assombrosa de perda, tão conhecida de Lily desde que despertara do acidente, cerca de três anos antes, superava tudo.
O terrível desastre a privara da lembrança de tudo o que havia acontecido antes do momento em que acordara.
Quando Sir Seymour se aproximou para falar-lhe, ela se assustou.
- Milady?
Ela se virou e olhou para o guarda, cujo rosto ostentava uma máscara de respeito e distanciamento. Ele se portava daquela forma desde que chegara naquela manhã à propriedade do pai de Lily, com o resto dos homens do futuro marido dela, para
buscá-la. Apesar de respeitosos, eles não davam nenhum sinal de boas-vindas à provável futura esposa do patrão. Lily reprimiu um suspiro e respondeu:
- Sim?
O cavaleiro fez uma reverência, sem se preocupar com o incômodo dela.
- O dono da Hospedaria me garantiu que Milady terá o melhor quarto, exatamente como Milorde Maxim pediu. Não será preciso que a senhora se apresente no salão para jantar. Eu pedi que a comida seja levada aos seus aposentos, como Milorde também solicitou.
Lily assentiu.
- Obrigada. - Não fazia diferença se jantava sozinha. Ficaria solitária mesmo na companhia deles. Entretanto, estava aborrecida por ninguém ter perguntado o que preferia.
Aparentemente, ninguém nunca perguntava o que ela queria, certamente não seus pais, que sempre decidiam o que era melhor para ela.
Sir Seymour fez uma reverência formal e se virou para um dos homens que esperava logo atrás.
- Traga a bagagem leve de Milady.
O homem, que também era um estranho para ela, se apressou.
Maxim insistira que apenas os seus homens eram confiáveis para levá-la à sua fortaleza em Treanly.
Treanly.
O nome ainda soava terrivelmente estrangeiro, apesar de Lily saber que era o nome da sua nova casa.
E seu casamento com Maxim logo após sua chegada tornaria aquilo irrevogável.
Ela olhou para Sir Seymour, ligeiramente incomodada.
Se ao menos soubesse mais sobre o lugar para onde ia, sobre o que encontraria lá... Mas o cavaleiro parecia ser uma fonte improvável de informações.
Ele mantinha a máscara permanente de respeito e não diria nada sobre o patrão, a quem se referia com a mais rígida formalidade.
Resignada, Lily disse a si mesma que aquilo não importava.
Que diferença faria se seus próprios pais às vezes pareciam estranhos para ela? Qualquer vestígio de amor que provavelmente sentira por eles havia sumido da sua mente, apesar de a dedicação de ambos tê-la deixado com uma dívida de gratidão que nunca conseguiria pagar.
Ela não podia negar o alívio de sair de Lakeland Park.
A angústia de tentar se lembrar do passado e a dor evidente dos pais por ela não sentir mais o afeto de uma vida passada em comum doíam mais a cada dia.
Lily não queria pensar naquilo agora.
Queria olhar para a frente e para a nova vida.
Mesmo que não conseguisse se livrar da letargia que a dominava, uma pequena parte de seu ser tinha esperanças de ser aceita pela família do marido e de que o seu novo Lorde se preocupasse com ela.


Série Irmãos Ainsworth
1 - Um Amor Esquecido
2 - A Dama da Floresta
3 - Noiva de Verão
4 - Noiva do Outono
Série Concluída

A Dama da Floresta

Série Irmãos Ainsworth

Lady Raine precisava de um marido, mas não podia ser um qualquer.

Tinha de ser um homem honrado, capaz de proteger a herança de seu irmão mais novo.
No instante em que viu Benedict Ainsworth na corte, ela soube que sua busca terminara. Mas o esquema para conquistá-lo havia apenas começado...
Fascinado pela estonteante beleza de Raine, Benedict, o barão de Bracknmoore, moveria céu e terra pela intrigante dama.
Porém, quando ela o envolveu em um casamento por conveniência, Benedict decidiu que daria a Raine muito mais que um sobrenome...

Capítulo Um

Inglaterra, 1461


Raine Blanchett encontrava-se entre os inúmeros cortesãos que aguardavam a audiência do rei Edward mas, ao contrário dos requintados nobres, ela não fora ao castelo para falar com o rei.
Raine estava à procura de um marido.
A necessidade de encontrar um pretendente o mais rápido possível tornara-se uma pressão insustentável nos últimos dias, pois o mês que havia passado na corte não fora nada produtivo.
Ir à corte parecera-lhe a melhor alternativa quando comunicara a decisão ao irmão, William, e à criada, Aida.
No entanto, ao concretizar a idéia, descobrira que colocá-la em prática era mais difícil que concebê-la.O caráter firme e honesto de Raine apresentava-se como um obstáculo à complicada situação.
Não almejava encontrar qualquer marido, um rosto bonito e uma soberba inteligência não seriam suficientes.
Precisava de um homem responsável que cuidasse de seu irmão de onze anos e das propriedades que ele possuía, até que o garoto atingisse a maioridade.
O pretendente também teria de ser honesto o bastante para não sucumbir à tentação de dilapidar a herança de William.
À aparência e a idade pouco importavam.
Ele tinha de ser justo, íntegro e corajoso.
Poderoso a ponto de espantar o primo Denley e sua cobiça.
Semanas antes de decidir recorrer à corte, os insistentes pedidos de casamento haviam se tornado verdadeiras ameaças.
Raine sabia que William não estaria protegido sob a tutela de Deniey.
Não era segredo que o ambicioso primo queria casar-se com ela para obter as vastas terras que William herdara seis meses atrás, após o falecimento do pai.
A lembrança da morte de seu pai trouxe uma dor aguda ao peito de Raine, mas se recusou a abater-se pelo sofrimento.
Sabia que o pai esperava que ela lutasse para proteger o irmão e a herança.
Embora jamais houvesse se queixado ou confessasse o desespero que o dominara depois da morte da esposa, o pai se tornara dependente de Raine desde aquele fatídico dia.
Ele parecia querer que a filha fizesse tudo para salvaguardar William e as terras, e Raine pretendia cumprir taí desejo.
Tão logo chegou à corte, utilizou o método usual de encontrar possíveis noivos. Cuidava da aparência com especial atenção e se apresentava com os lindos vestidos que suas damas de companhia haviam confeccionado.
Sorria, dançava e tentava parecer simpática.
O problema era que despertava interesse em homens pouco adequados a sua posição.
Os três pretendentes que havia escolhido acabaram por
decepcioná-la, inclusive lorde Henry Wickstead, que mostrara, a princípio, certa aversão a fortunas.
Ele, tal qual os demais, provou estar longe do ideal de Raine.
Após investigar a situação dos três homens, Raine descobrira que estavam em dificuldades financeiras e procuravam uma noiva rica.
O fato de ela não possuir herança não os incomodava, porque logo ficara claro que ambicionavam as propriedades do jovem William.
Contudo, aquelas preciosas semanas na corte não haviam sido um desperdício.
Raine acabou criando um método eficiente para descobrir as verdadeiras intenções dos homens sem perder muito tempo.
A ideia de comparecer à audiência com o rei lhe surgira havia poucos dias. Ali, ela poderia conhecer a situação financeira dos cortesãos através dos pedidos solicitados ao rei.Ninguém questionava a presença constante de Raine pois pareciam ocupados demais com os próprios problemas.
O novo método provara ser eficaz, mas também mostrara que a tarefa a qual se propusera seria penosa.
Nenhum homem havia passado nos testes preliminares.
Somente o desespero a impedia de voltar para casa.
Não acreditava que Denley desistisse de suas intenções.
Receava que o primo a submetesse ao casamento.
E pior, ele poderia fazer algum mal a William só para tomar posse do legado do garoto.
Denley era o único parente vivo da família, logo, seria o herdeiro universal se algo acontecesse a William.
Raine não ousou pensar na possibilidade que tanto a afligia.
Nada aconteceria a William, pensou, esperançosa.
Com a morte do pai, ele era tudo que lhe restava e daria o melhor de si para
protegê-lo. Observou os cortesãos que conversavam na sala de espera e suspirou frustrada. Momentos depois, o assistente do rei abriu a porta, e todos interromperam o falatório.
— Podem entrar. Sua Majestade, o rei Edward, atenderá a um de cada vez.
Quando Raine adentrou a sala de audiência, focalizou o poderoso Edward sentado à mesa principal.
Não era a primeira vez que se questionava acerca do rei.
Alguns diziam que, embora possuísse inteligência e fosse íntegro e justo, ele não herdara a força de caráter do pai.
Raine sabia que somente o tempo poderia atestar tal qualidade, afinal, Edward tinha apenas vinte anos.
Sentiria ele falta do pai que morrera lutando para salvar a coroa?
Ou a responsabilidade da posição roubava do rapaz a liberdade, como ocorria a Raine? Observando o jovem monarca, ela concluiu que sim.
Porém, Edward e sua dor pouco importavam ante a necessidade de proteger William.
A manhã passou rapidamente enquanto cada homem submetia seu caso ao rei.
Nenhum deles se adequava ao cargo de marido.
Alguns eram casados, outros não lhe pareciam convenientes.
Raine começava a desistir quando notou uma comoção à porta da sala.
Embora estivesse perto do burburinho, não conseguia enxergar a causa de tamanha perturbação.
Todos esticavam o pescoço a fim de descobrir do que se tratava.
De repente, o rei Edward levantou-se e sorriu com um entusiasmo que até então não havia manifestado.
— Entre, Benedict. — O jovem rei acenou ao recém-chegado.
Todos, inclusive Raine, avistaram os cabelos negros e os ombros largos, cobertos por um manto de veludo.
O desconhecido parecia flutuar, imperturbável, em meio à multidão.
Mesmo na ponta dos pés, Raine não conseguia ver além dos cabelos no alto da cabeça quando o ilustre visitante cumprimentou Edward.
O gesto afetuoso do rei aguçou a curiosidade dos presentes.
Por um instante, Edward e o homem, chamado Benedict, conversaram em voz baixa.
De súbito, o rosto do rei ficou sério, acompanhou o estranho até a ponta da mesa e continuaram a conversar.
Um murmúrio sutil, que Raine descreveu como inveja, começou a ecoar pela sala.
O interesse acerca do recém-chegado era geral.
Que tipo de homem poderia se considerar amigo do rei Edward?
A relação estreita entre ambos mostrava-se evidente.
Raine tentou se aproximar, mas foi barrada pela densa multidão.
— Bastardo arrogante. — Ela escutou um homem alto e loiro resmungar.
— Quem é ele? — Raine perguntou ao suposto invejoso.
O homem loiro olhou para ela e disse, com explícito desdém:
— Benedict Ainsworth, o barão de Brackenmoore. Era um grande amigo do pai de Edward e agiu como um instrumento precioso para este obter o trono.


Série Irmãos Ainsworth
1 - Um Amor Esquecido
2 - A Dama da Floresta
3 - Noiva de Verão
4 - Noiva de Outono
Série Concluída

Noiva do Outono

Série Irmãos Ainsworth

Annaliese não passava de uma simples donzela...

A curiosidade inocente de Annaliese em conhecer o corpo masculino despertou no guerreiro Kendran Ainsworth um desejo desconhecido de carinho e proteção.
Mas, caso ele revelasse sua verdadeira identidade Annaliese não o aceitaria,
uma vez que ela demonstrava grande cautela para com os nobres.
Como Kendran conseguiria, sendo um membro da nobreza, convencer a jovem donzela da sinceridade de seu amor?
Ao socorrer um estranho e salvá-lo da morte, em um gesto de mera caridade, Annaliese não podia supor que esse gesto uniria para sempre seu condenando-a a amar um homem que, por sua estirpe, não podia ser confiável!


Capítulo Um

Inglaterra, 1472

Annaliese Stanhope relanceou um olhar ao Credor, desconfiada.
Apressou Hinge, a égua não muito animada de seu pai.
Para não desagradar a solitária viúva Swift, acabara por estender a leitura até aquela hora tardia.
A floresta, sempre bonita à luz do sol, mostrava-se escura e agourenta.
A aflição de Annaliese não era causada pelos aspectos da natureza, mas por quem poderia encontrar à espreita.
Max, seu grande cão de caça, pressentiu a inquietação da dona e grunhiu, como se a lembrasse de sua presença protetora.
Annaliese sabia muito bem que o cachorro de nada valeria contra a gentalha armada que vagueava pelas matas.
Mesmo assim, o perigo em potencial não era o que mais a perturbava.
Pensava na preocupação do pai que a aguardava de volta.
Depois de perder a esposa pela ação brutal e ainda impune de um homem, ou homens, ele ficava ansioso demais com o paradeiro e a segurança da filha.
Tentou não pensar na dor pela morte da mãe.
Precisava concentrar-se em voltar para casa o mais rápido possível.
Por compartilhar da idéia geral de que os crimes na região eram cometidos pelas mesmas pessoas, o pai deveria estar desesperado com seu atraso.
Para Annaliese era difícil aceitar a restrição da liberdade.
Mas os habitantes da aldeia e arredores, inclusive seu pai, estavam apavorados com os homens que faziam um lar das florestas e estradas solitárias.
Lembrou-se do velho John, que vivia no outro lado do povoado.
Há poucos dias e um pouco antes do amanhecer, ele rumava para o mercado com a carroça lotada de frutas de sua colheita.
Fora cercado por um grupo de homens mascarados a cavalo e que levaram a carreta, as mercadorias e o burro.
Max tornou a grunhir um aviso.
Annaliese, com o coração batendo forte, incitou o cavalo a um galope ainda mais veloz.
Embora ela não percebesse nenhum som ou movimento estranhos, o cachorro, sentado na parte de trás da carroça, olhava à frente e à direita.
Annaliese acariciou a cabeça grande do animal com a mão trêmula e estreitou os olhos para ver melhor na escuridão.
Os galhos das árvores, àquela hora verde-escuros, podiam esconder uma ameaça.
― O que foi, garoto? ― ela murmurou, com voz ansiosa e rouca.
O cão rosnou, pulou para fora da carroça e Annaliese puxou as rédeas.
― Max, volte!
O animal, em geral obediente, não lhe deu atenção.
Farejou a moita cerrada que margeava a estrada, olhou para trás e uivou alto.
― Volte! ― ela insistiu.
Max emitiu mais um uivo lamentoso.
Parecia estar dividido entre a obediência e o motivo que o fizera correr até ali.
Annaliese perscrutou a noite com mais apuro e viu o que atraíra a atenção do cachorro.
Era o corpo inerte de um ser humano.
Por um momento, não conseguiu mexer-se, apavorada.
Em seguida, desceu do assento, aproximou-se devagar do animal que parecia mais uma sombra na noite.
O cão veio a seu encontro, arfando.
Lambeu-lhe o rosto, quando ela se curvou para acariciá-lo.
― O que foi, meu rapaz? Encontrou alguém?
Max latiu, virou o focinho para corpo imóvel meio escondido e olhou para Annaliese, talvez para apressá-la.
― Quer que eu vá até lá? ― ela perguntou ao amigo fiel e inseparável.
A jovem seguiu o cão até a margem da estrada.
O animal tornou a farejar quem havia encontrado.
Annaliese ajoelhou-se e passou a mão na nuca da pessoa desfalecida.
"Oh, não! Sangue!", reconheceu de imediato.
Engasgou e tirou as mãos.
Aquela pobre alma devia ser mais uma vítima dos homens que já haviam trazido tanta dor a Lundy. Era como agiam.
Golpeavam e fugiam.
Annaliese tornou a passar as mãos sobre a cabeça e os ombros largos do homem deitado de bruços. O frio da noite só iria piorar o estado dele, se é que ainda estivesse vivo.
Rapidamente, ela o empurrou para deitá-lo de costas.
Um gemido quase imperceptível deu-lhe a certeza de que a vida ainda não se esvaíra totalmente e que o homem precisava de socorro urgente.
Voltar para casa e pedir auxílio ao pai seria uma tarefa muito demorada.
Com esse pensamento, foi buscar a carroça e aproximou-a do homem desacordado.
Desceu da boleia e arrastou o corpo até a parte traseira e aberta.
Depois subiu no estrado, abaixou-se e tentou puxar o homem para dentro.
Max percebeu a dificuldade da operação, abocanhou as ceroulas do desfalecido e, com todo o poder dos maxilares, ajudou a movê-lo para cima.
O pavor de que o estranho morresse na estrada deram a Annaliese uma força que ela não imaginava possuir.
Puxava e erguia o corpo, centímetro por centímetro.
Tinha de ajudar aquele homem que talvez
fosse mais uma vítima dos que haviam destruído a paz de sua família.
Assim que a missão que parecia impossível foi concluída, Annaliese voltou depressa para o assento.
― Vamos, vamos, Hinge! ― ela gritou e agitou as rédeas.
Talvez pela gravidade da situação, o animal arrancou com uma velocidade anormal para os seus padrões.
Assim mesmo, pareceu transcorreu uma eternidade até Annaliese deter a égua em frente da pequena casa de pedra de dois andares.
A jovem pulou da carroça e antes de chegar à porta estreita, a mesma foi aberta.
A silhueta vigorosa de seu pai destacou-se sob a luz das velas do interior.
― Annaliese! ― A ansiedade da voz era inegável. ― Estava quase louco com...
O remorso e as desculpas mais do que necessárias foram abafados pela urgência do que teria de ser feito.
― Papai, por favor, ajude-me! Max e eu encontramos um homem ferido na floresta.
― Homem ferido? ― o pai repetiu, chocado e confuso.
Annaliese levou-o pela mão até a parte traseira do veículo tosco.
― Sim, e precisamos fazer alguma coisa!
― Mas como é que ele...
― Acho que o senhor sabe a resposta, tanto quanto eu. O silêncio pesado que se seguiu deu à filha a noção de que o pai pensava no sofrimento dos aldeãos e na morte da esposa.
― Mas o que está acontecendo? ― Tia Jane viera atrás deles.
Annaliese explicou, com a maior calma possível, o que acontecera.
― No escuro, não deu para avaliar a extensão do ferimento ― a jovem continuou. ― Só pensei em trazê-lo para que a senhora o visse.
― Precisamos levá-lo para dentro ― tia Jane afirmou, resoluta
― Está bem.
― Por favor, filha ― o pai pediu, com o cenho franzido ―, traga uma lamparina para cá.




Série Irmãos Ainsworth
1 - Um Amor Esquecido
2 - A Dama da Floresta
3 - Noiva de Verão
4 - Noiva de Outono
Série Concluído

22 de fevereiro de 2009

Série Cavaleiros Do Dragão

1 - O AMOR COMO HERANÇA

Vingança era sua promessa…

Simon Warleigh jurava vingar o assassinato de seu pai adotivo. 
Porém, ao retornar da Terra Santa, o valoroso cavaleiro teve de enfrentar acusações falsas de traição e ainda a ameaça de ser despojado de seus domínios.
Sua única chance de manter as terras adoradas de Avington era casar-se com a filha do homem que fora o alvo de seus protestos de justiça!
Mas amor era o seu destino!
Então teve de se casar às pressas com a formosa lady Isabelle, gelada e impassível como uma estátua, mas dona de excepcionais olhos cor de violeta.
No entanto, Simon não demorou em comprovar as fagulhas que queimavam sob o aspecto exterior de indiferença de Isabelle.
E quando as idéias de desforra transformaram-se em amor, Simon decidiu quebrar o escudo de gelo da donzela e transformá-la em uma mulher de verdade… sua mulher!

Prólogo

Inglaterra, 1188

Os três rapazinhos estavam sentados, de frente uns para os outros. As chamas do fogo aceso no centro do círculo brilhavam com a mesma intensidade que a raiva em seus olhares.
Simon, três meses mais velho que Jarrod, levantou a faca por cima das labaredas.
— Eu, Simon Warleigh, juro manter meu compromisso de camaradagem, estima e fidelidade com meus irmãos de armas para o resto de minha vida.
Passou a lâmina de leve na palma da mão e provocou uma pequena sangradura. Em seguida, deu a pequena arma para Jarrod, à sua direita.
O rapaz moreno também segurou a faca sobre as chamas.
— Eu, Jarrod Maxwell, juro manter meu compromisso de camaradagem, estima e fidelidade com meus irmãos de armas.
Jarrod nem sequer estremeceu quando cortou a própria pele e entregou o instrumento cortante para o mais jovem, que se encontrava à sua direita.
Christian tinha quase um ano a menos que Simon.
Seus cabelos castanhos mostravam mechas douradas sob a luminosidade da fogueira.
— Eu, Christian Greatham… — E repetiu a frase dita pelos amigos, com a mesma convicção e firmeza dos outros dois, e executou os mesmos gestos.
Os três permaneceram em silêncio, com a palma das mãos sangrentas viradas para o fogo.
— Agora somos irmãos, ligados pelo sangue derramado, pelo amor que nos mantém unidos e por aquele que nos ensinou o verdadeiro sentido da honra. Nunca esqueceremos o Dragão e o mal feito a ele — Simon falava com uma maturidade bem maior que a esperada para seus treze anos.
— O Dragão… — os outros dois entoaram. Jarrod apertou o pulso de Christian, que fez o mesmo com Simon, que agarrou o de Jarrod.
Simon olhou o céu estrelado e invocou as forças celestiais.
— Nem que leve uma existência inteira, milorde, haveremos de ver punido o homem que o fez tão infeliz.
O sofrimento e a tristeza de Simon foram compartilhados pelos outros rapazolas.
Ficaram imóveis por mais algum tempo, presos pelos laços da própria amizade e pelo fortíssimo sentimento que dedicavam ao homem que desempenhara o papel de pai afetivo, conselheiro e mestre. Aquele contra quem tinham sido obrigados a testemunhar.
— Deveríamos ter mentido — Jarrod afirmou, muito sério.
— O Dragão não aprovaria se fizéssemos uma coisa dessas, mesmo sendo para salvá-lo. — Christian sacudiu a cabeça, com a melancolia estampada nos olhos azuis.
— É verdade. —Simon suspirou.
O Dragão decerto não imaginara as conseqüências de ter lhes ensinado a importância de sempre ser sincero.
Ainda assim, Simon entendia que não eram culpados de ter confirmado o que acontecera, tendo como resultado incriminar o ídolo deles.
Simon amava muito o pai biológico, mas nem ele, nem os que haviam conhecido Wallace Kelsey, apelidado de Dragão pelos amigos e inimigos, poderiam negar a influência positiva de seu caráter inatacável e o desvelo genuíno com que brindava seus semelhantes.
E fora o irmão, Gerard Kelsey, quem o atraiçoara para ostentar o título de conde de Kelsey. Era quem agora se sentava no lugar de honra do grande hall em Dragonwick.



2 - CAVALEIRO DO AMOR

O amor estava em um local desconhecido.

Jarrod Maxwell, um cavaleiro valoroso e respeitado,
sempre conservara o coração fechado ao amor.
Mas então por que depois que o destino colocou lady Luana no seu caminho sua alma solitária começou a desejar uma paixão impossível e um amor eterno?
Luana estava era um grande dilema...

Não sabia se deveria terminar o noivado planejado havia anos para sair à procura do irmão desaparecido. 
As regras convencionais acenaram-lhe com um "não!".
Mas ao fitar o glorioso cavaleiro sir Jaírod, admitiu para seu próprio coração que o seguiria para onde quer que ele fosse.

Capítulo Um


Inglaterra, século XII. 
Aislynn Greatham percorria os aposentos amplos, de forros de vigas muito altos, e ventosos do castelo de Bransbury.
Distraída, não prestava atenção aos que passavam por ela. Preocupava-se com o paradeiro de seu irmão Christian.
E se o veria novamente.
Seu pai, barão das terras e do castelo de Bransbury, tornara-se mais rabugento com o passar dos dias. 

Sempre que se encontravam, o diálogo era o mesmo.
Onde estaria o filho e por que se ausentara? O que acontecera para ele ter partido sem avisá-lo?
Durante treze anos Christian estivera na Terra Santa.
Já não fora tempo suficiente para um pai ficar sem o filho e herdeiro?
Aislynn não tinha resposta para nenhuma daquelas questões.
Arrependia-se de não ter contado imediatamente ao pai sobre a partida secreta de Christian.
Na verdade, ele prometera voltar em uma quinzena e assegurara que, ao retornar, contaria a irmã todos os detalhes da misteriosa missão.
Aislynn suspirou e sentiu o aroma dos frangos assados que temperara naquela tarde. Não sentia a menor fome, apesar de haver comido pouco naquele dia.
Admitia que lhe desagradava a ideia de sentar-se à mesa com o barão e ter de refrear os próprios receios.
Ainda mais perturbador da que a preocupação do pai era o pensamento que a afligia. Christian não voltava, pois algo de muito grave o impedia.
Dia e noite, assolavam-na visões do irmão doente... ou de fatos ainda piores.
Por esse motivo, tomara uma atitude que tornava ainda mais difícil encarar o pai. Escrevera aos amigos nos quais Christian sempre falava muito.
Nem chegara a pedir a permissão do pai, temendo que, por orgulho, o velho barão não lhe permitisse fazê-lo.
Embora houvesse apenas pedido informações a respeito do paradeiro do irmão, tinha esperanças de que eles viessem a Bransbury.
Christian falara-lhe muito sobre Jarrod Maxwell e Simon Warleigh desde que, como era costume, fora enviado, junto com eles, para ser educado como cavaleiro por um pai de criação, antes de acompanhar o rei Ricardo à Terra Santa.
Christian sempre exaltara seu amor e admiração pelo caráter, pela energia e pelas habilidades dos amigos.
Se eles não estivessem com Christian naquele episódio, com certeza poderiam encontrá-lo. O barão, ainda com a perna não inteiramente cicatrizada em consequência de uma queda de cavalo, não teria condições de ir além das redondezas do castelo.
Além do mais, ele nem teria noção de por onde iniciar a busca.
— Bom Deus — ela rezou, enquanto diminuía os passos no final do corredor que levava ao salão —, mesmo que Simon Warleigh ou Jarrod Maxwell não queiram nos ajudar, pelo menos que mandem logo alguma notícia.
Inspirou fundo e tratou de recompor-se para esconder a ansiedade.



3 - UM NOBRE AMOR


Rowena aprendera aquilo na tenra infância quando seu pai a abandonara.

E, agora, sir Christian Greatham, movido por promessas de vingança,
insistia que ela era, na verdade, herdeira de um poderoso legado.
Mas ela não queria títulos de nobreza nem terras. 
O que seu coração desejava... mas que lhe era eternamente negado... era Christian!

Christian Greatham estava determinado a restituir a filha do Dragão à sua posição de direito. 
Mas a teimosa beldade desconfiava de tudo que estivesse relacionado à nobreza. 
Afinal, por qual outro motivo ele arriscaria tudo para tirar Rowena de regiões bravias da Escócia? Não podia ser por amor... especialmente dele... ou será que podia?!

Capítulo Um

Com uma expressão de compaixão, Rowena olhou para o homem deitado na praia varrida pelo vento. 

O rosto dele, que ela imaginou ser bonito o bastante normalmente, estava lívido, abatido. 
Mato e areia impregnavam-lhe os cabelos escuros. 
As roupas estavam em farrapos, embora o caro veludo azul de que eram feitas evidenciasse que já haviam sido refinadas.
O homem, de fato, estava respirando, como o pequeno Padriac afirmara quando adentrara pela cabana dela com a surpreendente história de ter encontrado um estranho na praia.
Rapidamente, Rowena virou-se para o menino, que a fitou com os olhos castanhos arregalados, o rosto redondo corado num misto de preocupação e euforia. 

Ela falou-lhe com deliberada calma.
- Temos de levá-lo para minha casa.
Mas como?, perguntou-se. A única razão para Padriac ter ido pedir sua ajuda fora porque todos os homens, incluindo o próprio pai dele, já haviam saído em seus barcos de pesca. Só retornariam dali a muitas horas.
A trilha que subia da praia até o vilarejo era íngreme e escorregadia. Não seria possível para ambos levarem o homem sem ajuda.
- Não podemos carregá-lo. - O garoto de rosto arredondado ecoou seus pensamentos.
Ela tornou a olhar para o estranho. Não havia como estimar quanto tempo ele ficara deitado ali, mas certamente só podia ter sido desde aquela mesma manhã, pois alguém o teria visto no dia anterior. 

Era um trecho deserto da costa, sem dúvida, com penhascos rochosos seguindo ao longo da praia estreita, mas as crianças do vilarejo andavam por ali em busca de ovos de gaivota, como Padriac certamente estivera fazendo quando encontrara o homem.
Rowena virou-se para o menino.
- Vá até Hagar e diga-lhe que traga algumas das mulheres até aqui para nos ajudar. É um homem grande, mas acho que, juntas, nós conseguiremos levá-lo.
Era como as coisas eram feitas em Ashcroft. 

O vilarejo sendo tão remoto e pequeno, seus moradores eram mais como uma família do que vizinhos, na maioria. Aquele fato ajudara Rowena a enfrentar a dor e a solidão por ter perdido sua mãe cerca de três anos antes.
Enquanto Padriac corria até o vilarejo, ela foi tomada por uma ponta de melancolia. S

ua mãe, apesar de triste e amargurada, tinha sido o centro do mundo de Rowena.
Mal tinha uma lembrança clara de qualquer coisa antes de ambas terem ido ali para Ashcroft, quando ela ainda nem sequer havia copletado quatro anos.
Uma das duas lembranças que realmente tinha era a de olhar para um muro bastante alto de pedra.
Tão vívida era a lembrança que quase podia sentir a textura áspera e fria da pedra de encontro a seus dedos.
A outra era uma visão menos clara, mas mais contundente.
Acreditava ser de seu pai, pois tinha a sensação de estar sendo abraçada de encontro a um peito largo e forte e de ouvir o pulsar estável e confortador de um coração, enquanto inalara as fragrâncias combinadas de couro e ar fresco.


Série Cavaleiros do Dragão 
1 - O Amor como Herança 
2 - Cavaleiro do Amor
3 - Um Nobre Amor 
Série Concluída