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16 de setembro de 2025

A Falsa Preceptora

Série Família Evans

Na balança moral da nobreza britânica, o orgulho de um canalha pesa mais do que o bom nome de uma dama... e Lady Daphne Webb acaba de descobrir isso. 
A única filha do Conde de Sutcliff desfruta de maiores privilégios do que os comuns, entre eles o prazer de prolongar sua vida de solteirona até que o amor cruze seu caminho. Sua recusa em aceitar a proposta do Barão Cowrnell a torna alvo de sua vingança, mas ela não está disposta a ser manipulada nem a permitir que os planos de um homem rancoroso governem seu destino. Ela prefere tomar as rédeas de sua vida, mesmo que isso signifique, com pequenas e inofensivas artimanhas, assumir o cargo de preceptora. O que poderia dar errado? David Evans soube assim que a viu, aquela preceptora bonita, falante e pouco ortodoxa não era a melhor escolha para seus irmãos. Aquela mulher era um perigo para todos, especialmente para ele! Com ela, não só sua estabilidade mental estava em risco, mas também seu protegido coração.

Capítulo Um

Inglaterra, 1863.
—Ah, o ego masculino é tão frágil! — Lady Daphne Webb ficou furiosa, pretendendo se jogar dramaticamente na poltrona francesa por um capricho exagerado. Em vez disso, seu traseiro se acomodou graciosamente, suas costas permaneceram retas e seu rubor realçou sua beleza inata.
Afinal, ela era uma Webb, e os Webbs eram lendários por sua boa aparência.
—Você ouviu isso, minha querida? — Elliot Spencer, Lorde Bridport, não era tão gracioso quanto Daphne. — Traga meus sais, acho que vou desmaiar... — Ele arrancou o leque da esposa, Miranda, e o brandiu com abandono exagerado. — Ele nos chamou de frágeis! Frágeis!
Lady Bridport tentou conter o riso, era inapropriada dada à verdadeira angústia de Lady Daphne.
Lorde Colin Webb, irmão mais velho da vítima, entrou na brincadeira.
— Pior! Para os nossos egos. Acho que entendo nas entrelinhas que ela está questionando a nossa superioridade. Eu também vou desmaiar...
O único que não se juntou a encenação foi Lorde Thomas, o mais novo dos irmãos Webb.
—Daphne, minha querida — interrompeu Lady Emily, esposa de Colin. A americana era doce e equilibrada, ao contrário de sua compatriota, Lady Miranda — você deve considerar isso um golpe de sorte... Não só fez bem em recusar o casamento com Lorde Cowrnell, como agora não há dúvidas sobre sua sabedoria...
—Nunca duvidei do meu bom senso! — retrucou Daphne, ofendida. Lorde Thomas pigarreou e a irmã se virou para ele, com o olhar flamejante. — Nem pense nisso... —ela o repreendeu antecipadamente. Ele podia ser o herdeiro do condado, mas ela era sua irmã mais velha e o lembraria disso se necessário.
—Eu nem sonharia com isso, irmã. — Mas um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.
—Tia Daphne, você está brava? — Davon, filho de Miranda e Elliot, aproximou-se dela. Daisy, a mais nova do casal, juntou-se a ele. Eles a examinaram atentamente.
—Acho que ela está triste — disse a menina.
—Não, não. Ela está furiosa, entende? — As mãos do garoto Spencer pousaram nas faces de Lady Daphne. — As bochechas dela estão queimando... — e ele as beliscou de leve. Daphne riu, e um pouco da fúria diminuiu. As crianças do casamento Bridport eram a luz dos seus olhos, sem parentes consanguíneos, ela se apropriou dos filhos dos viscondes para mimá-los.
—Você tem razão, Davon. — Sentou Daisy em seu colo. O menino já era “grande”, conforme ele alardeava, para aquele tipo de carinho com a tia. — Estou furiosa, e você... suas mãos estão pegajosas. E você comeu mais doce do que sua mãe permite?
—Não... —Daisy mentiu alisando uma ruga imaginária em seu vestido bufante.
—Ah, graças a Deus. Quase pensei que alguém tivesse descoberto meu estoque secreto de doces. É impossível imaginar que alguém jamais acreditaria que eu fui esperta o suficiente para escondê-lo no vaso azul do escritório do Conde de Sutcliff... Ops... — Ela cobriu a boca. Davon e Daisy correram imediatamente para o escritório para pegar os doces e irritar o conde, Lorde Arthur Webb que, assim como Daphne, compensava a falta de filhos Webb com os filhos Spencer.
—Eles são diabinhos lindos — comentou Emily.
— Diabinhos sim, lindos... — queixou se Miranda. — São uma dor de cabeça — Seu sorriso desmentia suas palavras, e o olhar mal disfarçado de Elliot na direção do espartilho não tão apertado da esposa, deixava claro que a raça dos diabinhos planejava se expandir nos próximos meses.
—Claro que são lindos, minha querida — Lorde Bridport era um pai orgulhoso demais para permitir tal insulto — graças a você, é claro. Caso contrário, o sangue Spencer não seria diluído...
Todos soltaram uma risadinha, não era apropriado participar da zombaria de uma das famílias mais poderosas da Inglaterra. O único capaz de fazê-lo era Lorde Bridport, porque ele pertencia a ela, até mesmo o Conde de Sutcliff, com seu dinheiro e conexões, teve o cuidado de não ofender o Duque de Weymouth, pai de Elliot. Uma tarefa difícil, porque o homem se ofendia com muita facilidade, nada parecia corresponder à sua linhagem, nem seu filho, muito menos sua nora americana, nem seus netos. Elliot estava parcialmente certo, o sangue Spencer era forte, tanto que se dizia que todos os ruivos da Inglaterra pertenciam à família, exceto pelo atual Lorde Bridport, os Spencers eram conhecidos por seus cabelos ruivos e seus casos extraconjugais que deixavam uma ninhada de bastardos por geração. Elliot tinha primos reconhecidos e não reconhecidos, tios com seu sobrenome e tios com sobrenomes da criadagem... até mesmo na sociedade, “certos filhos de certos nobres” ostentavam o inconfundível cabelo e sardas Spencer. O surpreendente era que, até então, os bastardos do Duque de Weymouth eram desconhecidos, e Daphne tinha certeza que existiam, aparentemente, Sua Graça aprendera com os erros do passado e mantinha seus pecados bem escondidos da Casa Hamilton, a principal mansão do ducado.
—De qualquer forma — continuou Emily — Davon está certo. Você está brava, não triste, porque sabe que fez a coisa certa. Lorde Cowrnell provou ser um idiota, um covarde e, acima de tudo, um péssimo perdedor.
—Sim, sim. Eu já conhecia todos os traços do caráter dele, mas... — Lady Daphne se deixou levar pela fúria — apostar dez mil libras em quem se casar comigo nesta temporada? Vão me deixar louca!
—Já estavam te deixando louca — comentou Miranda. — Você recebe cerca de cinco propostas de casamento por temporada, e duas fora dela. São cerca de sessenta e três propostas desde que você foi apresentada à sociedade... não deve haver muitos homens em Londres que você não tenha rejeitado.
—Não invoque a desgraça!









Série Família Evans
1-A Falsa Preceptora

23 de novembro de 2023

Lírios para um Canalha

Série Flores e Canalhas
Se Jana Anderson resumisse sua vida, diria: irmã, amiga e fundadora de uma empresa de cosméticos naturais.
Maravilhoso né? Mas sua história não se reduz a isso, também teria de acrescentar: viúva aos trinta anos, com pouca vida social, eterna companheira de Sir William, seu amado gato e, o mais importante, prestes a perder tudo graças ao maldito herdeiro de seu falecido marido. 
Maximiliano O'Kelly, um canalha, um homem imprudente e implacável, pronto para deixá-la louca de todas as maneiras possíveis. Apenas nomeá-lo fez sua pele arrepiar. Só de pensar nisso... seu coração disparou. Se o odiava? Sim, preferia não o ter conhecido? Claro! Era capaz de não cair aos seus pés? Isso é o que descobriria.

O último livro de “Flores e Canalhas”, uma história que te convida a descobrir que o amor é a prova de que a magia existe.

Capítulo Um

Inglaterra 1871.
A dor nas costas não importava, as mãos com cãibras não importavam e a sujeira não importava. Jana White, viúva Anderson, não pararia por nada no mundo. O inverno era a estação do ano mais esperada para ela, não só porque gostava do frio e adorava a neve, mas também porque era a época ideal para plantar bolbos de lírio, suas flores favoritas.
— Jana, — Agnes interrompeu sua tarefa, — pode olhar para cima por um segundo?
A menção a fez levantar a cabeça, sentiu suas cervicais estalarem. A figura de sua amiga e companheira se recortava contra um manto cinza, o vento brincava com os cachos castanhos da mulher e fazia sua saia sem a armação esvoaçar. Notou outra coisa... era a única alma no campo de flores que cercava as instalações da Four Flowers, empresa fundada pelas quatro amigas: Agnes, Nathalie, Lindsay e Jana.
— Desculpe, perdi a noção do tempo.
— E o clima — comentou Agnes. — Eu e Bastien partiremos imediatamente, venha, levaremos você para casa em nossa condução, não precisaremos nos desviar muito.
— Eu vim na minha carruagem.
—Você sabe a diferença entre uma charrete e uma carruagem? — perguntou Agnes Holland de Tremblay, com acentuado sarcasmo. Era um traço de sua personagem, assim como Nathalie McAdam, agora Lady Becket. Desde seu casamento com o honorável Bastien Tremblay, essa peculiaridade se aprofundou, apenas no humor e não na acidez.
Jana, perdida em seus pensamentos sobre lírios, não entendeu a real intenção da pergunta:
— A charrete tem um único cavalo e as carruagens não estão completamente fechadas, por que pergunta? — pegou um bulbo de lírio e gentilmente o colocou no buraco na terra preta. Cobriu-o, umedeceu a superfície; não queria afogar o bulbo ou deixar a terra voar com o vento.
— Jana! — a repreendeu.
— O que?
— Aquelas nuvens ali não são amigáveis, sabe? Sem mencionar que Lorde Becket veio buscar Nathalie há uma hora, segundo ele, seus ossos lhe dizem que a tempestade será sangrenta.
— Os ossos de Lorde Becket doem por causa do acidente, e além disso… — Ela se sentou, cada vértebra estalando. — Bem... talvez não fossem os ossos de Raphael que fossem o problema, — não tinha caído de um cavalo e sentiu como a pressão atmosférica e a umidade estavam afetando suas articulações. Reconheceu que o marido de sua amiga havia desenvolvido uma habilidade única para detectar mudanças climáticas, mas aquela tempestade no horizonte era infalível e incrédula.
— E?
— Além disso, estava indo embora, vai me dar tempo de chegar em casa. A tempestade se aproxima do outro lado...
— Se me prometer que “já” se refere ao imediatismo real…
— Sim, Agnes. Vou deixar as mudas na estufa e ir embora.
— Eu não sei…— a mulher hesitou, seus olhos nas nuvens. Um halo de luz passou por elas, nenhum trovão foi ouvido, a tempestade ainda estava longe. Os braços de Jana a envolveram, impedindo-a de pensar na ameaça e no bom senso.
— Vá com Bastien. Se te atrasar mais, ficará furioso comigo, e eu o temo mais do que aqueles raios.
— Temê-lo? Bastien? Ele é um cachorrinho dócil.
— Sim, claro. — Jana riu. — Dócil desde que tenha a esposa por perto. — Dizendo isso, avistou o homem à distância. Sua impaciência era palpável, e a viúva Anderson ficou comovida ao saber que sua não aproximação traía seu temperamento de patife redimido, mantendo distância por consideração aos desejos de sua esposa.
— Bem, ele me tem por perto.
— Vão tranquilos. — Pegou a cesta de plantas e colocou-a em cima do carrinho de ferramentas, segurando as alças e se preparando para empurrar em direção à estufa. Agnes, vendo-a em ação, soltou um suspiro.
— Quatro mãos rendem mais que duas...
— Sim, mas duas dessas mãos devem ir para apaziguar um honorável Sr. Tremblay. Vai, vai...





Série Flores e Canalhas
04- Lírios para um Canalha
Série concluída


2 de novembro de 2023

Narcisos para um Canalha

Série Flores e Canalhas

Tinha ouvido centenas de vezes de seus pais... 
—Sua inocência será nossa condenação.  E talvez, não estivessem errados, porque essa inocência a condenou a um casamento com o pior dos canalhas.  Lindsey White tinha muitos anseios, e pretendia ir atrás de todos eles, a começar por uma magnífica magnólia noturna resguardada na estufa secreta de Lady Loretta. Acredita nisso? Uma magnólia noturna? Não encontrou a flor... em vez disso, encontrou Jonas Hudson, o Barão de Cowrnell, um ser desprezível, um canalha puro-sangue, um patife traiçoeiro. Seu passado o condenava, seus inimigos o confirmavam, traiçoeiro.
Um encontro inesperado. Um beijo errado. É assim que esta história começa. A questão importante é... Como isso vai acabar? 
—Nunca imaginou que a perfeição pudesse ser encontrada nos erros. A errada, a inapropriada, a filha do comerciante que horrorizou os esnobes de Londres era a certa para ele.

Capítulo Um

Inglaterra 1870.
O sol queimava em suas costas. A brisa fresca de março lhe trouxe um alívio tão necessário enquanto se inclinava sobre um botão de peônia rosa e aspirava seu perfume.
—Hum...— Srta. Lindsay White fechou os olhos. Conjurou uma paisagem em sua mente, montou uma história e sorriu. Uma mocinha, mais nova que ela, andando pelos pomares, com uma cesta na qual colhe... — Tangerinas, sim. Por um momento pensou em laranjas, mas as tangerinas serão melhores. E carrega em suas mãos um arranjo de rosas-chá, cuja fragrância une os cítricos e os amadeirados. Seu vestido é pêssego, e a cor a faz pensar em frutas. Tudo sobre uma base de almíscar branco, pureza como a menina.
Não estava falando com ninguém em particular. Estava sozinha, o que não a impedia de falar com o vento, as flores e... as abelhas. Parou o ato de cortar peônias. Uma abelhinha laboriosa estava roubando o pólen para fazer seu trabalho.
— Recomendo que você não o deixe cair na área dos lírios de Jana, pequena, ou verá seu trabalho interrompido pela pá vil da minha irmã e movido para a estufa. — Ficou imóvel, os olhos no corpinho aveludado preto e amarelo, olhando para o inseto. Deixou sua mente vagar na história inventada para sua nova fragrância, mas seu cérebro decidiu guiá-la pelos caminhos de outra história. As experiências de outra jovem inexperiente, inocente e sonhadora, que criou fragrâncias para os outros, sem ter encontrado a sua.
O nome daquela garota era Lindsay White, e desde que conseguia se lembrar, tinha ouvido que seu destino era se casar. O primeiro presente que recebeu na vida foi uma boneca, que ainda tinha. Com apenas três anos de idade, começou a praticar como ser uma boa mãe. Até que completou doze anos, e sua mãe arrancou a boneca de seus braços e a substituiu por fitas, espartilhos, vestidos e chapéus.
Percebeu que seus gostos e desejos não importavam mais. Apenas os masculinos eram relevantes. E eles não gostam de garotas com muito artifício, nem gostam de garotas muito joviais, ou que falam, sentam, ficam em pé, respiram ou se movam. Ah, mas também não pareçam um vaso, você deve cativar a atenção deles, sem chamar muito a atenção, eles não gostam disso, você parece desesperada. Não passe despercebida! Fale! Cale a boca! Suspire! Não faça barulho!
Ufa. Era cansativo ser uma dama destinada ao casamento. Foi em sua ânsia de encontrar a paz que descobriu Jane Austen e as irmãs Brontë. Seus romances a faziam desejar mais que apenas um marido. A obrigaram - sim, a forçaram - a procurar o amor. Não é à toa que as matronas diziam que ler era ruim para as senhoras! Que audácia aspirar ao amor sendo filha de comerciantes!
Observou a abelha trocar de botões, sorriu e cortou a peônia abandonada. Cheirou, o pólen solto fazendo-a espirrar. Lindsay podia jurar que a abelha a julgava com seus olhos enormes.

— Desculpe, sei o que pensa sobre flores sendo cortadas. Você é do time de Jana, — aludiu a sua irmã mais velha. Removeu as pétalas e as jogou no óleo neutro. Ao fazê-lo, lembrou-se do jogo absurdo: bem me quer, mal me quer. Não tinha a quem perguntar. Substituiu então por: encontrarei o amor, não encontrarei o amor. —Certamente você pensa como Jana sobre a Emma de Jane Austen. Apela para a praticidade de Knightley, e não para o sonho de Emma. Sim, sim... eu sei... 





Série Flores e Canalhas
03- Narcisos para um Canalha



16 de agosto de 2023

Jasmins para um Canalha

Série Flores e Canalhas

A senhorita Agnes Holland fez o possível para se estabelecer como uma verdadeira solteirona. 

Tal tarefa exigiu perseverança, disciplina e uma inteligência oculta. Para a maioria, a moça é um completo fracasso social sem perspectivas de casamento. Para ela, nada mais é do que um triunfo, o prelúdio da liberdade pela qual anseia. Junto com suas amigas, ela tem planos que lhes permitirão alcançar a independência, que não está atrelada aos homens, nem às regras impostas. Oh querida Agnes! Se você quer fazer o destino rir, apenas conte a ele seus planos. Uma grande pedra no caminho e apenas uma alternativa: o casamento. Lorde Tremblay, Visconde Meldrum, é o candidato perfeito. Viúvo, com um filho, ancorado nos padrões sociais mais arcaicos e dócil como uma gazela. Seria o único, se não fosse por um pequeno detalhe. Seu irmão. O honorável Bastien Tremblay, que tem pouco de honra e muito de patife. Um mal-entendido. Um casamento inesperado. Um acordo nada romântico. Ele era um canalha, e ela... ela era a esposa perfeita para esse tipo de canalha

Capítulo Um

Inglaterra, 1868.
Os pés vestidos com delicadas botas, batiam dentro da carruagem. Estava a caminho da casa de Jana Anderson, uma longa viagem até os arredores de Londres. A senhorita Agnes Holland não se caracterizava pela paciência e quietude, defeitos para alguns, virtudes para Agnes, ela gostava de qualquer coisa que a tornasse uma péssima candidata ao casamento. Sorriu com o pensamento, já tinha vinte e quatro anos! Em apenas alguns meses seria coroada como um completo fracasso social. 
Soprou a pena ridícula de seu arranjo de cabelo, que caia em sua testa e fazia cócegas em seu nariz, nunca foi uma beleza, mas..., mas ela explorou esse atributo de feiura ao máximo. Era preciso o mesmo esforço para parecer deslumbrante como para parecer horrenda. 
Horas de espartilhos e anáguas, horas de cabelos emaranhado, de olhar o mundo por trás de óculos com ampliação maior do que o necessário. Soprou novamente, tirou os óculos horríveis e os substituiu pelos verdadeiros, que só eram necessários para ler. Abriu sua bolsa e tirou a carta de Jana. 
O barulho ainda era aceitável, uma vez que saíssem de Londres e chegassem às estradas rurais, a leitura se tornaria uma odisseia. O selo no envelope era o brasão da família Anderson, oh, Berthan, pensou com tristeza. Há pessoas que tornam o mundo um lugar mais triste com sua partida, independente do curso natural da vida e da morte. 
O marido de sua amiga Jana já foi um deles. Suspirou, enfiando a pena odiosa atrás da orelha. 
Queridas amigas, a carta começou.
Isso foi o suficiente para fazê-la sorrir. As quatro moças eram grandes amigas e não havia segredos entre elas. Agnes sabia que Jana havia escrito a nota apenas uma vez e copiado mais três vezes, todas recebendo a mesma vírgula, o mesmo ponto e a mesma tristeza de seu remetente. 
Nunca terei palavras suficientes de agradecimento pela companhia que vocês me deram, tanto durante a doença do meu querido Berthan, quanto durante as primeiras semanas de minha viuvez. Respeitaram minha necessidade de conforto, bem como meus momentos de introspecção e, graças a isso, hoje posso dar mais um passo no meu processo de cura. 
Para isso, também preciso de vocês, minhas adoradas amigas. É hora de retomar nosso projeto. Manter minha mente ocupada, preencher minhas horas com atividades e ter mais desculpas do que chá para vê-las, me ajudará a focar no bem e aceitar o mal Temos muito o que conversar, Berthan não apenas me deixou viúva, deixou a todos órfãs. Delimitar um novo plano, tão próximo da meta, é um desafio. Um projeto que estou ansiosa para embarcar. Para vocês, que tem sido tão boas para mim, e em memória do meu amado marido, que sempre me incentivou. 
Espero vocês em minha casa, na minha estufa - que ainda me pertence e pelo qual lutarei com unhas e dentes - para retomar o sonho de sermos mulheres livres. 
Com amor e eterna gratidão, 
Jana. 
Ela dobrou o papel e o devolveu à bolsa. Inalou pela boca com a intenção de desfazer o nó em seu peito e não chorar novamente, não podiam dizer que a viuvez de Jana os pegara inteiramente de surpresa, embora a natureza virulenta da doença o fizesse.








Série Flores e Canalhas
01- Jasmins para um  Canalha