Na balança moral da nobreza britânica, o orgulho de um canalha pesa mais do que o bom nome de uma dama... e Lady Daphne Webb acaba de descobrir isso.
Capítulo Um
Inglaterra, 1863.
—Ah, o ego masculino é tão frágil! — Lady Daphne Webb ficou furiosa, pretendendo se jogar dramaticamente na poltrona francesa por um capricho exagerado. Em vez disso, seu traseiro se acomodou graciosamente, suas costas permaneceram retas e seu rubor realçou sua beleza inata.
Afinal, ela era uma Webb, e os Webbs eram lendários por sua boa aparência.
—Você ouviu isso, minha querida? — Elliot Spencer, Lorde Bridport, não era tão gracioso quanto Daphne. — Traga meus sais, acho que vou desmaiar... — Ele arrancou o leque da esposa, Miranda, e o brandiu com abandono exagerado. — Ele nos chamou de frágeis! Frágeis!
Lady Bridport tentou conter o riso, era inapropriada dada à verdadeira angústia de Lady Daphne.
Lorde Colin Webb, irmão mais velho da vítima, entrou na brincadeira.
— Pior! Para os nossos egos. Acho que entendo nas entrelinhas que ela está questionando a nossa superioridade. Eu também vou desmaiar...
O único que não se juntou a encenação foi Lorde Thomas, o mais novo dos irmãos Webb.
—Daphne, minha querida — interrompeu Lady Emily, esposa de Colin. A americana era doce e equilibrada, ao contrário de sua compatriota, Lady Miranda — você deve considerar isso um golpe de sorte... Não só fez bem em recusar o casamento com Lorde Cowrnell, como agora não há dúvidas sobre sua sabedoria...
—Nunca duvidei do meu bom senso! — retrucou Daphne, ofendida. Lorde Thomas pigarreou e a irmã se virou para ele, com o olhar flamejante. — Nem pense nisso... —ela o repreendeu antecipadamente. Ele podia ser o herdeiro do condado, mas ela era sua irmã mais velha e o lembraria disso se necessário.
—Eu nem sonharia com isso, irmã. — Mas um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.
—Tia Daphne, você está brava? — Davon, filho de Miranda e Elliot, aproximou-se dela. Daisy, a mais nova do casal, juntou-se a ele. Eles a examinaram atentamente.
—Acho que ela está triste — disse a menina.
—Não, não. Ela está furiosa, entende? — As mãos do garoto Spencer pousaram nas faces de Lady Daphne. — As bochechas dela estão queimando... — e ele as beliscou de leve. Daphne riu, e um pouco da fúria diminuiu. As crianças do casamento Bridport eram a luz dos seus olhos, sem parentes consanguíneos, ela se apropriou dos filhos dos viscondes para mimá-los.
—Você tem razão, Davon. — Sentou Daisy em seu colo. O menino já era “grande”, conforme ele alardeava, para aquele tipo de carinho com a tia. — Estou furiosa, e você... suas mãos estão pegajosas. E você comeu mais doce do que sua mãe permite?
—Não... —Daisy mentiu alisando uma ruga imaginária em seu vestido bufante.
—Ah, graças a Deus. Quase pensei que alguém tivesse descoberto meu estoque secreto de doces. É impossível imaginar que alguém jamais acreditaria que eu fui esperta o suficiente para escondê-lo no vaso azul do escritório do Conde de Sutcliff... Ops... — Ela cobriu a boca. Davon e Daisy correram imediatamente para o escritório para pegar os doces e irritar o conde, Lorde Arthur Webb que, assim como Daphne, compensava a falta de filhos Webb com os filhos Spencer.
—Eles são diabinhos lindos — comentou Emily.
— Diabinhos sim, lindos... — queixou se Miranda. — São uma dor de cabeça — Seu sorriso desmentia suas palavras, e o olhar mal disfarçado de Elliot na direção do espartilho não tão apertado da esposa, deixava claro que a raça dos diabinhos planejava se expandir nos próximos meses.
—Claro que são lindos, minha querida — Lorde Bridport era um pai orgulhoso demais para permitir tal insulto — graças a você, é claro. Caso contrário, o sangue Spencer não seria diluído...
Todos soltaram uma risadinha, não era apropriado participar da zombaria de uma das famílias mais poderosas da Inglaterra. O único capaz de fazê-lo era Lorde Bridport, porque ele pertencia a ela, até mesmo o Conde de Sutcliff, com seu dinheiro e conexões, teve o cuidado de não ofender o Duque de Weymouth, pai de Elliot. Uma tarefa difícil, porque o homem se ofendia com muita facilidade, nada parecia corresponder à sua linhagem, nem seu filho, muito menos sua nora americana, nem seus netos. Elliot estava parcialmente certo, o sangue Spencer era forte, tanto que se dizia que todos os ruivos da Inglaterra pertenciam à família, exceto pelo atual Lorde Bridport, os Spencers eram conhecidos por seus cabelos ruivos e seus casos extraconjugais que deixavam uma ninhada de bastardos por geração. Elliot tinha primos reconhecidos e não reconhecidos, tios com seu sobrenome e tios com sobrenomes da criadagem... até mesmo na sociedade, “certos filhos de certos nobres” ostentavam o inconfundível cabelo e sardas Spencer. O surpreendente era que, até então, os bastardos do Duque de Weymouth eram desconhecidos, e Daphne tinha certeza que existiam, aparentemente, Sua Graça aprendera com os erros do passado e mantinha seus pecados bem escondidos da Casa Hamilton, a principal mansão do ducado.
—De qualquer forma — continuou Emily — Davon está certo. Você está brava, não triste, porque sabe que fez a coisa certa. Lorde Cowrnell provou ser um idiota, um covarde e, acima de tudo, um péssimo perdedor.
—Sim, sim. Eu já conhecia todos os traços do caráter dele, mas... — Lady Daphne se deixou levar pela fúria — apostar dez mil libras em quem se casar comigo nesta temporada? Vão me deixar louca!
—Já estavam te deixando louca — comentou Miranda. — Você recebe cerca de cinco propostas de casamento por temporada, e duas fora dela. São cerca de sessenta e três propostas desde que você foi apresentada à sociedade... não deve haver muitos homens em Londres que você não tenha rejeitado.
—Não invoque a desgraça!