Alice Hastings, bela e rebelde, está convencida de que ninguém pode obrigar uma mulher a fazer aquilo que não deseja.
Claro que não lhe é fácil, sendo a sobrinha mimada de um visconde, dono de um jornal onde ela escreve artigos incendiários com o pseudônimo de J. Steward.
Casar-se, ter filhos e assentir com um sorriso falso nos hipócritas jantares da alta sociedade? Antes morta. Não há nada que Alice odeie mais que isso!
Sim, possivelmente sim, haja algo…
Reine Clifford, o dono do jornal conservador da concorrência. Aristocrata, insuportável, déspota… e com irresistíveis olhos azuis que parecem conhecê-la bem demais.
Reine Clifford só tem uma ideia em mente — descobrir quem é J. Steward, cujos artigos fazem a concorrência ganhar uma fortuna. Essa é sua única obsessão, até que, durante o jantar anual de seus pais, os condes de Deerwood, conhece a pequena e indômita Alice Hastings. Ela deixará claro que uma mulher pode expressar claramente suas opiniões e o atingirá no que mais lhe dói, seu orgulho. Não é decente que Alice, beligerante, instruída e comprometida com a causa sufragista, aproveite cada ocasião para vociferar sobre seus princípios e convicções.
Ela é o contrário da esposa ideal. Não obstante, a partir desse momento, a obsessão de Raine se dividirá entre J. Steward e a atração irresistível que sente pela mulher de belos olhos amendoados e língua afiada.
Capítulo Um
Os homens são ambiciosos por natureza, mas pobre daquele que coloca sua ambição em um só objetivo, pois se dará conta de que, ou é inalcançável ou que, chegando a conquistá-lo, já não terá nisto interesse algum. J.Stewart
Sem nenhum impedimento, naquela tarde as máquinas de impressão estavam cumprindo a função para a qual foram criadas. Reine Clifford, visconde de Deerwood, permanecia em pé olhando do seu escritório, no piso superior daquele prédio industrial, como se estampavam formosas letras negras no papel que pela manhã sairia em forma de jornal.
Embora sua postura pudesse levar a equívocos, fazendo-o parecer um homem desprovido de qualquer preocupação, aqueles que o conheciam bem saberiam que a expressão sombria de seus olhos azuis se devia a algo que lhe escapava das mãos.
Ardia por dentro de raiva e impotência. Reine não era um homem paciente, mas sim muito perseverante e tinha o firme propósito de sair-se bem naquele assunto.
Apertou mais os dentes e sua mandíbula se esticou, tornando-se visivelmente mais dura.
Seus olhos azuis se tornaram muito mais escuros quando inclinou a cabeça para a frente e olhou através das espessas pestanas. Parecia um predador e não distava muito de sê-lo. Tinha uma presa em mente e, certamente, iria capturá-la.
Reine era um homem de paixões, mas não havia outra paixão que lhe demandasse mais tempo e esforço que esse maldito jornal. O New London era a sua vida. Era verdade que não era o maior jornal de Londres, um fato natural quando se levava em conta que o The London Times já funcionava há mais de um século. Mas ele queria ser diferente, queria que o dele fosse um jornal diário, não uma simples gazeta ou um jornal dominical.
Os tempos estavam mudando, a sociedade estava se transformando, e ele estava disposto a somar-se a essa mudança e a estar presente para deixar um testemunho com suas próprias palavras. E isso era o que fazia — escrevia artigos politicamente comprometedores, sem assinar, sempre que seu sócio conservador o permitia. Bom… “permitir” não era a palavra adequada. Reine Clifford não necessitava do consentimento de ninguém, mas não era tolo.
Não queria indispor-se com a cúpula rançosa e aristocrática, no meio da qual crescera e vivera. E seu sócio era a representação dessa classe social. Se Dave Northon não gostava de algo, podia pressupor-se que o resto da aristocracia londrina também não haveria de gostar. Por isso, Reine era comedido em muitos artigos, mais do que desejava.
Atualmente estava planejando escrever assinando seu próprio nome, mas, como homem zeloso de sua intimidade, duvidava de que fosse o mais conveniente, embora, a partir de agora, a tendência fosse de que alguém estampasse seu nome em cada letra que publicasse.
Assim haviam nascido os jornalistas.
Já não era a opinião do jornal o que contava, nos tempos atuais era importante a opinião dos homens, do indivíduo como tal. E, precisamente, era a esses homens que ele queria chegar — às pessoas, às massas que começaram a ler e a escrever graças à educação pública. Com uma alta porcentagem de gente alfabetizada, falando dos problemas que afligiam a sociedade e, sobretudo, criticando inteligentemente os governantes, o êxito de um jornal, naqueles tempos, estava garantido.
Mas Reine Clifford não se conformava que seu jornal fosse apenas mais um.
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