Trilogia Cameron
Quando chegou a guerra, Daniel Cameron vestiu sem duvidar o uniforme cinza da Confederação.
No meio do fragor dos canhões, sonhava com a plantação na Virgínia onde foi feliz e afortunado junto com seus irmãos, amigos e serventes.
Sonhou com esse mundo evanescente até que uma bala cruzou em seu caminho e despertou junto ao anjo que salvou a vida.
Callie Michaelson acolheu o ferido e entregou apaixonadamente ao homem, sem renunciar a seus ideais ianques nem à memória do marido que morreu lutando contra os rebeldes. Até que um dia o eco da violência fratricida chegou às portas de sua fazenda e obrigou a trair seu inimigo.
Ele jurou vingar e ela se esforçou por esquecer, por apagar de sua vida a lembrança daqueles dias nos que a morte e o ódio pareciam muito longínquos.
Mas de noite Callie seguia ouvindo as palavras daquele coronel sulino que cuidou e que amou: “Voltarei para buscar”...
Capítulo Um
Sharpsburg, Maryland
Setembro de 1862
Assim que Daniel caiu, a realidade e os sonhos começaram a se fundir.
Eles chegaram a cavalo rodeados de glória, uma unidade de cavalaria com cavaleiros extraordinariamente destros, todos em suas fabulosas montarias, espadas brilhando ao sol do verão, os chapéus com plumas voando como os estandartes de antigos cavalheiros. Ah, mas isso é o que eram, os últimos cavalheiros; lutavam pela honra, pela glória, pelo amor, pela intangível essência que personificava um povo...
Não, isso era o que foram. O amor ainda estava lá, assim como os sonhos de honra. Mas estava há muito tempo lutando para continuar a acreditar na glória da guerra. E vistos de perto, nem ele nem seus cavaleiros eram tão esplêndidos. Tinham os uniformes rasgados e esfarrapados, suas botas estavam gastas, os rostos magros e surrados. Sim, cavalgavam com suas espadas de aço brilhando ao sol da manhã, e quando gritavam suas ordens rebeldes eram tão ferozes como magníficos e impressionante de se ver. Cavaleiros do destino, cavaleiros da morte.
Ele não havia perdido seu cavalo enquanto esteve engajado em uma batalha. Não enquanto batia com a espada com homens vestidos de azul, cujas caras não ousava olhar de muito perto.
Foi uma bala de canhão que explodiu justo nos calcanhares o que derrubou do cavalo. Durante poucos, breves e vibrantes minutos que pareceram vacilar entre a vida e a morte, soube o que era voar. Tudo foi tão indolor...
Mas depois desabou contra o chão e a terra o abraçou com avidez. Foi então quando apareceu a dor abrasadora e aguda, que perfurou suas têmporas, inclusive quando a grama perfumada e fértil campo de Maryland seduziu sua pele. Nesse momento chegou uma escuridão repentina e inóspita.
E então os sonhos.
Durante um instante ouviu o terrível assobio dos canhões, viu as chamas que ardiam contra o precioso azul do céu de verão. Ouviu e sentiu os cascos dos cavalos, o som metálico do aço e os horríveis gritos dos homens. Depois desapareceu, como se uma brisa pura e limpa tivesse varrido tudo.
O rio James. Ele podia sentir a brisa que vinha do James, aquele doce frescor que acariciava seu rosto. Ele podia ouvir o zumbido das abelhas. Ele estava deitado na grama na encosta do gramado em casa, em Cameron Hall, olhando para o céu azul acima, observando as nuvens brancas soprando à deriva. Ouvia os cânticos lá abaixo, no defumador. Algo suave e monótono, espiritual. Soava uma voz masculina profunda e grave e um coro de lindas vozes femininas ao redor. Não precisou abrir os olhos para ver o defumador e a casa, e a interminável ladeira de grama verde onde ele jazia que baixava até o rio, e o cais do rio e os navios que vinham para transportar a colheita ao mercado. Tampouco precisou abrir os olhos para ver o jardim, repleto de brilhantes rosas vermelhas do verão como uma tapeçaria encantadora que desciam pelo atalho, que partia da enorme e ampla varanda alpendre da parte de atrás da casa. Conhecia tudo aquilo como a palma de sua mão. Era sua casa e a amava.
Trilogia Cameron
1 - Amantes e Inimigos
2 - Tempo Rebelde
3 - Novos Horizontes
Trilogia Concluída