10 de março de 2012

Entre O Sonho E A Realidade

Um Volta no Tempo !
Estados Unidos, 1899
Sonho de uma noite de outono... 
Com a chegada do outono, a produtora de televisão Leigh Hunter percebeu que sua carreira de sucesso estava começando a perder o esplendor. 
No entanto, quando certa abóbora que ela comprou para comemorar o feriado de Halloween a transportou para o ano de 1899, o sereno e atraente Matthew Sutton logo lhe mostrou que o amor verdadeiro era um bem muito mais precioso do que uma carreira bem-sucedida. 
Mas será que o mundo simples e pacato de Ben, da virada para o século vinte, poderia se tornar também o mundo de Leigh?... 


 Capítulo Um 


A abóbora é como uma mulher grávida: redonda e cheia de promessas. 
— Ian acariciou a superfície abaulada da abóbora com a mão áspera e enrugada pelo tempo. 
Um par de sobrancelhas grisalhas e uma mecha de cabelos brancos como a neve misturaram-se para sombrear o sorriso largo. 
Leigh Hunter sorriu, apesar do mau humor. — Isso foi muito poético, Ian, mas mesmo assim não pretendo comprar uma abóbora para o Halloween. É uma comemoração boba e muito perigosa. 
— Boba? O que tem de boba? Quem foi que disse isso? 
— Seu sotaque era inconfundível: uma mistura de algo do Velho Mundo, escocês talvez, com um toque nova-iorquino.
 — E isto tudo... Não é bobo? — Ele apontou para a floresta de arranha-céus que impedia a luz do sol de iluminar as ruas de Manhattan e para o mar de pessoas correndo de um lado para o outro. Se havia algo que destoava das ruas de Manhattan era a sua carroça surrada, com as laterais de madeira desgastadas pelo uso e o toldo de lona rasgado. 
Comparada aos carrinhos de aço brilhante dos vendedores ambulantes, parecia que a sua tinha caído nas ruas de Nova York, vinda de outro tempo e lugar. 
— Isso, sim, é inútil. — Ele chacoalhou um maço de aipos em sua direção, as folhinhas verdes debatendo-se como se fossem asinhas de frango. — O que o aipo tem de bom? — Apontou a multidão apressada. 
— E essas pessoas passando, então? Olhe bem para o rosto de cada uma. — Imitou os rostos carrancudos. — Como seriam as coisas sem as bobagens desta vida? 
— De qualquer forma, hoje, só vou levar tomates — ela resolveu, reprimindo um sorriso. Com um suspiro resignado, Ian colocou o aipo de volta, apanhou a abóbora e a colocou com cuidado sobre um engradado forrado. 
— Você não precisa de tomates — resmungou enquanto abria um saco de papel. — Mas, sim, de imaginação, impetuosidade... Deveria se soltar um pouco. 
— Ora, não seja tolo! Tenho imaginação o suficiente, afinal, sou produtora de televisão. Criatividade é a minha melhor qualidade. 
Ao dizer tais palavras, Leigh se perguntou por que estava discutindo sobre algo de que tinha certeza. 
Ninguém conseguira chegar ao comando das redes de canais de televisão tão rápido quanto ela. 
E muito menos alcançar vinte pontos de audiência, batendo todos os programas televisivos, como fizera. 
Mesmo assim, enquanto enumerava mentalmente todas as suas conquistas, a ponta de verdade oculta nas palavras de Ian a assombrou. 
Com uma piscadela, ele lhe entregou o saquinho de papel. 
— De todo modo guardarei a abóbora para você. — Ergueu um dedo longo e fino. — Ainda vai mudar de ideia. Tenha certeza. 
Leigh apanhou o saquinho, observando as manchas senis na pele do homem. Ian era um dos poucos fiéis a seus princípios naquele mundo tão cheio de mudanças. 
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