15 de junho de 2012

Amélia e o Fora da Lei

Amélia disse a si mesma que qualquer um que cometesse um crime merecia um tratamento severo. Ainda assim, aquele jovem a intrigava. Ela se perguntava por que ele havia se unido a famosa quadrilha dos Cavaleiros da Noite. Foi a excitação? O dinheiro? O perigo? Desrespeito para com a lei? Certamente só alguém que não tivesse respeito pela lei ousaria infringi-la. Embora Jesse Lawtonnão parecesse ser desrespeitoso. Ela pensou que talvez, a prisão  incutisse esse respeito.
Mas, o que a incomodava era: e se houvesse um outro motivo para a inesperada cortesia na estação. Talvez alguém tivesse cometido um engano. Talvez Jesse Lawton fosse verdadeiramente inocente. O fora da lei fixou o olhar nela, um estremecimento involuntário a percorreu. Ele não parecia nada inocente. Ele parecia absolutamente perigoso.

Capítulo Um

Forte Worth, Texas
Maio de 1881

A primeira coisa que Jesse Lawton notou quando o trem parou na estação foi a garota de pé na plataforma.
Ela era a coisa mais bonita que ele havia visto nos últimos cinco anos.
Seu cabelo loiro estava arranjado e preso, por baixo de um gorro sofisticado, decorado com fitas e laços. As pontas minúsculas de seus sapatos de couro pretos apareciam por baixo da bainha de seu vestido verde.
Ele achou que os olhos eram azuis, mas  não podia ter certeza, não desta distância,  e pelas janela de um trem sujo.
A garota fez sobressair o lábio inferior em um beicinho que causou contrações dentro dele. Sua boca o fez lembrar dos morangos suculentos que ele saboreava no início verão  há muito tempo atrás. Ele os pegava  num jardim, que ficava ao lado de uma casa com cortinas de algodão tremulando nas janelas e uma cerca de estacas brancas.
Ele tinha se convencido que a dor no seu intimo era o resultado de estar com fome. não da falta que sentia  de todo aquele conforto, que as pessoas daquela casa nem se davam conta. Ele se forçava a engolir as frutas suculentas e não pensar sobre as camas suaves ou as roupas limpas ou um banho morno.
A  garota se movia de um lado para outro sobre os saltos de seus sapatos, girando sua pequena bolsinha verde como se estivesse esperando por alguém.
Ele não podia tirar os olhos dela, o que era uma bênção. Olhar para ela o prevenia de ter que reconhecer os olhares dos passageiros que desciam do trem. Ele mantinha as mãos fechadas entre as coxas, para que as correntes em seus pulsos não ficassem tão visíveis. Mas as pessoas as notavam  de qualquer maneira. Podia sentir quando percebiam, porque ele os ouvia prender a respiração, ou sussurrar asperamente para seu companheiro de viagem que um criminoso tinha viajado entre eles.
- Eh, senhor, você é um bandido? - Um menino de repente perguntou em voz alta.
Hesitando interiormente, Jesse focou sua atenção mais atentamente na garota. Ela agora estava batendo o pé, sua impaciência aparentemente aumentando.
- Continua em frente, filho, - Disse o homem que se sentava ao lado dele. Jesse não sabia seu nome. O guarda não havia se dado o trabalho de se apresentar quando colocou as algemas.
- Ele é um bandido? - A criança perguntou novamente, sua excitação ecoando no compartimento pequeno. - Não é?
- Costumava ser, - o homem disse. - Não, não é mais não. Agora ele é um prisioneiro do estado.
Jesse se sentia como se tivesse sido um prisioneiro do estado a maior parte de sua vida. Sua mãe o deixou na porta de alguém, embrulhado em um cobertor esfarrapado com uma nota que simplesmente se lia: Por favor o ame.
Ninguém se preocupou em atender seu pedido. Ele foi passado de um para o outro, nunca sentindo que alguém verdadeiramente o quisesse.  Pelo menos não até que ele se uniu a quadrilha dos Cavaleiros da Noite. Sob a liderança do  Pete-as-vezes-caolho, por um tempo, pelo menos, ele achava que afinal havia achado seu lugar.

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