9 de outubro de 2018

Vaticinio de Amor

Lavinia é destinada pelo senado de Roma, com a idade de dez anos, a servir no templo da deusa Vesta1 como uma das virgens vestais, durante um período de trinta anos, sem possibilidade de conhecer o amor de um homem.

Um plano ardiloso do imperador Domiciano ou, talvez, simplesmente, a força do destino, fará com que sua sorte mude, e Marcus, um centurião romano que considera todas as mulheres, falsas e traiçoeiras, será o encarregado de protegê-la em sua longa viajem até à Britania, tão perigosa quanto fascinante.
Enquanto Marcus só acredita na honra, no cumprimento do dever e na glória de Roma, Lavinia está disposta a arrebatar seu destino das mãos dos deuses, e fazer vacilar as convicções do atraente centurião. Poderá o coração ganhar a batalha contra a razão, quando precisam escolher entre o amor e a honra? Lavinia aceitará o novo destino que lhe oferecem os deuses e renunciará ao amor somente pela glória de Roma? A meu pai, sonhador de histórias e poemas, que me ensinou a arte de escrever.

Capítulo Um

Roma, ano 68 D.C.
Disseram-lhe que ela nunca se casaria. Não é que Lavinia fosse supersticiosa, bem, talvez um pouco, mas é que à tenra idade de dez anos, quando apenas despertava sua feminilidade, aquelas palavras lhe caíram em cima como uma laje. Foi incapaz de se mover quando lhe pediram que se retirasse da sala, e sua mãe precisou tirá-la quase de arrasto do templo do oráculo. 
A favor de Lavinia pode-se dizer que ela não chorou, nem montou um espetáculo; ergueu-se tão alta quanto era, toda braços e pernas, e caminhou como a mais nobre das matronas romanas, ao mesmo passo de sua mãe, que de tempos em tempos lhe dirigia um olhar preocupado. 
Flavia havia sido e continuava sendo uma mulher formosa. Os deuses lhe concederam ser mãe de quatro moças. As três mais velhas se pareciam com ela, e assim que chegaram à idade casadoira, conseguiram obter poderosas alianças com algumas das famílias patrícias mais notáveis de Roma. A quarta filha, Lavinia, herdara o coração e a doçura de sua mãe, alguma coisa de seu rosto, talvez a inclinação das sobrancelhas, mas nada mais; o resto pertencia, sem dúvida, a seu pai, Quinto Lavinius, membro do senado romano. 
À idade de onze anos, Lavinia já ultrapassava suas irmãs em estatura; seu cabelo ― não da cor do ouro como o que possuíam suas irmãs, mas sim de uma simples cor clara, sem cor definida ― não caía em encantadoras ondas, como o delas, mas permanecia liso inclusive durante os quentes meses do verão, quando o clima se tornava muito úmido na capital do Império e todos fugiam para as vilas situadas nos subúrbios da cidade. 
Seus olhos tampouco eram azuis, nem verdes, nem sequer negros, mas sim de um marrom lodoso que se assemelhava ― dizia a própria Lavinia ― ao lodo das margens do Tíberis. Flavia deixou escapar um suspiro. Sua filha Lavinia não seria considerada formosa quando alcançasse a idade casadoira, mas quem a desposasse levaria um verdadeiro tesouro, não só porque era afetuosa e possuía um coração generoso, além de um caráter leal e uma vontade firme, mas, sim, porque possuía uma estranha beleza que emana de dentro e não se percebe no exterior à primeira vista, mas sim vai se tornando atraente com o passar do tempo. 
O difícil, naquele momento, seria convencer sua filha daquelas coisas, especialmente depois de ter escutado as palavras do oráculo. Tal como fizera com as irmãs dela, Flavia levara sua filha para visitar o oráculo da deusa Fortuna em Preneste, nos subúrbios de Roma. Ao chegar sua vez, Lavinia dissera seu nome e interrogara a deusa sobre seu destino, tal como ditava o ritual. Uma sacerdotisa misturava as sortes, as tabuletas da fortuna, e extraíra uma. O destino foi interpretado pelas sacerdotisas. Por que, em nome de Vênus, lhes ocorrera dizer que ela não se casaria? Não poderiam ter mentido, ou ao menos ter adoçado um pouco a verdade.

2 comentários:

  1. Gostei bastante deste livro! Bons personagens, história interessante!

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  2. Livro muito bom, mas parece ter uma continuação. Fiquei curiosa

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Oiii você não vai sair sem comentar nada vai? Ou que tal indicar o que leu. Ou então uma resenha heheheheh...Todo mundo agradece, super beijo!