6 de fevereiro de 2019

Atentamente Seu

Quando Eleanor Bradford conheceu Nicholas Brame, conde de Wiltshire, no baile de sua amiga Mary Beth Benning, as primeiras palavras que vieram à sua mente foram: presunçoso, atraente, libertino, irresistível.

Sua amiga a tinha prevenido de homens como ele, e a fama do conde lhe precedia aonde fosse. Depois da morte de seu pai e de ter que assumir o comando de sua família, a última coisa que Eleanor queria era arruinar sua temporada de apresentação com os galanteios desse tipo de homem. Mas, seria capaz de fazê-lo? Quando Nicholas Brame viu Eleanor Bradford entrar no baile que a família Benning oferecia, soube que a convidaria para a pista de dança na primeira oportunidade e, enquanto dançava com ela, as primeiras palavras que vieram à sua mente foram: mimada, linda, rebelde, irresistível.
Apesar de seus trinta anos, Nicholas não queria nada com jovenzinhas casadoiras e, em especial, nada com Eleanor. Mas, seria capaz de esquecê-la?
Um fim de semana compartilhado no campo faz os dois se conhecerem melhor e compartilharem seus segredos e sofrimentos mais íntimos, o que os levará a pensar em aprofundar esse vínculo.
No entanto, o marquês de Lavillée, novo marido da mãe de Eleanor, tem outros planos para ela: casá-la com seu sobrinho na França, para assim se apoderar de sua fortuna. Obrigará ela, com uma feroz ameaça, a desprezar o homem que ama e partir para Paris.
Um ano e meio depois, após a morte de sua família e ainda solteira, Eleanor regressará a Londres, onde sofrerá o desprezo de Nicholas. Apesar de tudo, o destino parece guardar um último trunfo e fará com que, para salvaguardar sua honra, eles devam se casar.
"Um matrimônio por conveniência" será o acordo. Mas, algum dos dois acreditará nessa mentira?

Capítulo Um

Londres, setembro de 1833.
― Gail, por favor, apresse-se.
Eleanor Bradford estava sentada em frente ao espelho, enquanto sua criada terminava seu penteado, um coque digno de uma princesa, com uns cachos soltos que se penduravam e emolduravam seu rosto e assim acentuavam, ainda mais, seus lindos e grandes olhos verdes.
― Garota ingrata, se não fosse porque te conheço desde que usava fraldas e porque te amo como uma filha, colocar-te-ia sobre meus joelhos.
Eleanor sorriu ante a reprimenda de Gail. A verdade era que a amava como se fosse sua segunda mãe. Estivera ao seu lado desde bem pequena. Sua mãe com frequência a censurava pela liberdade e total confiança com que deixava que a tratasse; mas ela não podia imaginar sua relação com Gail de outra maneira. A velha criada a queria como sua filha; assim lhe havia dito mais de uma vez, e o havia demostrado quando mais necessitara.
Podia se recordar quando o médico havia comunicado aos seus pais que seu irmão seria uma daquelas crianças especiais que nunca deixavam de ser crianças. Se fechasse os
Atentamente seu - Josephine Lys
olhos, ainda podia ver a cara de tristeza de seu pai, um homem sempre alegre e jovial, e a desolação que entristeceu o semblante de sua mãe, enquanto tentava a duras penas conter as lágrimas. Aquilo, sem dúvida, afetou seus pais como nunca antes nada havia feito.
Dedicaram-se a Henry por completo, numa tentativa desesperada de demonstrar que o médico se equivocara. E, naqueles momentos, Gail sempre estava com um meio sorriso que a fazia sentir-se tão especial, que lhe transmitia a sensação de que tudo ficaria bem. Se sua mãe soubesse o tempo que passara na cozinha ajudando a criada a preparar deliciosos doces, e as vezes que tinham ficado totalmente sujas de farinha, teria gritado até as ensurdecer.
Ao olhar no espelho e ver seu reflexo, não pôde evitar lembrar-se de seu pai. Quando era pequena, todo mundo lhe dizia que se parecia com ele; e não só no físico, com olhos de cor esmeralda e cabelo tão preto como uma noite sem lua, mas também no caráter aprazível e tranquilo.
Sua morte inesperada, em um acidente enquanto montava a cavalo, significava o antes e o depois na vida de toda a família. Sua mãe se encerrara em si mesma, consumida pela dor, afastada da vida real, trancada entre as quatro paredes de seu quarto, sem querer saber mais do que as lembranças que ficaram.
Dessa maneira, Eleanor, com tão somente dezesseis anos e depois de ter perdido seu pai para sempre, decidiu encarregar-se da casa. Teve que mostrar a serenidade e a maturidade que nem sequer sabia que tinha.
Tomou as rédeas da casa, pôs em dia a contabilidade, cumpriu com os pagamentos pendentes, responsabilizou-se por seu irmão e mais uma infinidade de tarefas que a faziam cair rendida de cansaço ao final do dia. Somente na privacidade de seu quarto se permitia voltar a ter dezesseis anos e era capaz de expressar sua dor, quando encontrava ao seu lado, de novo, Gail, com suas doces palavras e seus braços, entre os quais se permitia chorar em busca de conforto e alívio. Já se passaram três anos de tudo isso e, em todo esse tempo, a dinâmica de suas vidas havia mudado.
― Gail, não pode ameaçar-me assim, já não sou nenhuma menininha. – Disse-lhe Ellie com um sorriso nos lábios.
Ellie era o diminutivo pelo qual costumava ser chamada por seu pai, e Gail era uma das pessoas que continuavam usando aquele apelido carinhoso.
― Como continua a mover-se assim, sem me deixar terminar este maldito penteado, verás se cumpro minha ameaça ou não.
― Não faz diferença que capriche, Gail, já sabe que não quero chamar atenção de nenhum cavalheiro. Ainda não.
Eleanor queria aproveitar um pouco de tudo aquilo: bailes, amigas e, o mais importante, uma maior liberdade. Durante três anos, havia sido a mãe de Henry, a senhora da casa, e nesse momento não queria tão cedo passar a ser “a esposa de”.
― Mas o que diz, menina!


4 comentários:

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