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14 de outubro de 2010

A Guerreira

Trilogia Noivas
Prólogo

Rothbury House, Yorkshire,
Inglaterra, 1617

― Milord!
William Decatur, conde do Rothbury, estava escrevendo um documento; ao ouvir o anúncio levantou a vista e apoiou com cuidado a pluma sobre o tinteiro de prata. Seus olhos, de um azul tão intenso como um amanhecer de verão, davam a impressão de atravessar o mensageiro.
― Estão perto?
― A um quilômetro e meio, Milord, e se aproximam a todo galope.
O mensageiro secou a testa com um imundo lenço de tecido. Rodeava-lhe uma espécie de nuvem que fedia a suor e a cavalo.
O conde pulverizou areia fina sobre o pergaminho, deixou cair cera derretida de uma vela acesa sobre sua assinatura e imprimiu nela seu anel de selo. Sem pressa, apartou para trás a cadeira de carvalho esculpido e ficou de pé. Nada deixava entrever seu semblante.
― Quantos são?
― Um batalhão completo, pelo menos, senhor. Cavalaria e infantaria.
― Ao mando de quem?
O mensageiro titubeou.
«Ao mando de quem?» A pergunta estalou como um disparo de mosquete.
― Levam o estandarte de Granville, senhor.
William Decatur deixou escapar um suspiro.
A porta se abriu às costas do mensageiro.
O movimento era suave e inseguro; a mulher que entrou não mostrava suavidade nem insegurança.
― Já estão vindo? — perguntou a mulher, com os olhos cravados no conde com dolorosa intensidade. ― Querem nos jogar de nossa casa, não é, Milord?
― Sim, Clarissa, assim é.
O olhar dos olhos azuis do homem pairava sobre a mulher de cabelos castanhos e sobre o menino de olhos enormes que estava junto dela, era inescrutável.
O menino que Clarissa levava no ventre, sob o cinturão que pendia o grande anel com as chaves da casa, só se notava por um leve engrossamento de sua cintura e pelo gesto que apoiava uma mão no ventre e outra sobre o ombro já robusto de seu filho, gesto que pretendia proteger tanto o filho por nascer como ao nascido.
-Levar-lhe-ão — disse ela, refletindo em seu rosto o esforço que fazia para controlar o tremor de sua voz.
—E então, o que será de nós, Milord?
A dureza e a amargura que davam conta do ressentimento de sua esposa, que se negava a compreender a potência do impulso de consciência que induzia William a realizar semelhante sacrifício de jogar sua família ao exílio, à pobreza, a sujar o sobrenome de uma família orgulhosa com o cruel qualificativo de traição, fez-lhe encolher-se.
Antes que ele pudesse responder, o barulho de cascos chegou pela janela aberta. Clarissa afogou uma exclamação e o menino, Rufus, visconde do Rothbury, filho e herdeiro do agora em desgraça conde do Rothbury, deu dois passos e se aproximou de seu pai, para diferenciar-se da debilidade da mulher.
O conde baixou a vista até o menino de cabelos vermelhos e se encontrou com o limpo olhar azul de seu filho, tão intenso e direto como o seu.
William lhe dirigiu um meio sorriso que levava consigo a profunda compaixão que sentia por esse menino a quem lhe arrebataria o direito que lhe correspondia por nascimento e se condenaria a viver como um proscrito.


Trilogia Noivas
1 - A Guerreira
2 - A Noiva Acidental
3 - A Noiva Inesperada
Trilogia Concluída