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22 de julho de 2011

A Mulher que Veio da Neve

Série As Joias de Kinfairlie
Lady Eleanor aprendeu a ser desejada só por sua fortuna e, quando aceita o matrimônio com Alexander de Kinfairlie, unicamente espera viver segura. 

Mas seu marido a enche de cuidados e volta a despertar nela a paixão, sem preocupar-se com sua riqueza...
Uma riqueza que os inimigos de Eleanor desejam a qualquer preço...


Capítulo Um

Kinfairlie, Escócia
24 de dezembro de 1421

A neve caía rápida, espessa; o céu sem estrelas era mais escuro que o anil. Já havia passado da meia-noite, Eleanor compreendeu que não podia continuar fugindo. A pequena aldeia que se erguia ante ela parecia enviada pelo céu; não havia ali altas muralhas nem portões trancados. Na verdade, ela não achava que houvesse algo tão aprazível em lugar algum da Cristandade, mas mesmo assim a tranquilidade do povoado era sedutora.
Não sabia como se chamava esse lugar; tampouco lhe importava. Assim que viu a igreja decidiu imediatamente que essa aldeia adormecida, com sua serena certeza sobre a bondade do mundo, era o lugar que escolheria para descansar.
A noite não duraria muito mais, pois a escuridão já ia dando lugar à luz da alvorada. Eleanor ignorava aonde iria depois, mas compreendeu que não poderia tomar nenhuma decisão enquanto estivesse tão esgotada.
A porta da igreja não estava fechada com chave; ela suspirou de alivio ao comprovar que seu último temor era infundado. Entrou em suas sombras, que a abraçaram, e deixou que a porta se fechasse pesadamente atrás de si. Aguardou, quase esperando que a ilusão de tranquilidade se fizesse em pedaços, mas aos seus ouvidos só chegava o silêncio. De pé na soleira, inalou profundamente o aroma das velas de cera, o ar de prece e devoção, a aura de todo lugar.
Asilo.
Acima do altar havia só um vidro pequeno; a luz refletida pela neve o atravessava e iluminava o interior nu da capela. Era uma igreja humilde, sem dúvida; notava-a vazia até na penumbra. O altar estava desprovido de cálice e de custódia, prova de que até essa comunidade achava que era preciso guardar tais tesouros sob chave.
Eleanor viu o banco próximo ao altar, possivelmente o que o sacerdote utilizava, e se sentou nele. Detinha-se pela primeira vez depois de passar uma eternidade correndo.
Depois escutou, temendo o pior.
Não se ouvia ruído algum, exceto o forte palpitar de seu coração. Não havia ruído de galopes que a perseguiam. Não ladravam cães que tivessem achado seu rastro. Ninguém gritava para anunciar que tinham descoberto seus rastros.
Essa neve que caía depressa bem podia ser uma bênção, pois não demoraria em ocultar seu trajeto e dissimular seu aroma. Acomodou-se no assento, decidida a esperar o tempo necessário até ter a certeza de que estava a salvo.
Percebeu, uma a uma, as dores de seu corpo exausto; só então percebeu que o frio a tinha apanhado: não sentia a ponta dos dedos; cruzou os braços, com as mãos colocadas sob as axilas. Seu estômago devia estar vazio, mas estava tão cansada que não o notava. Estava sedenta, sem dúvida.
Haviam passado só três dias e três noites desde que tudo mudara irrevogavelmente? Não se atreveu a perguntar-se o que seria dela agora; estava muito cansada para pensar em algo que não fosse o objetivo, quase impossível, de escapar.

Série As Joias de Kinfairlie
1 - A Noiva de Kinfarlie
2 - A Rosa de Gelo
3 - A Mulher que Veio da Neve
4 - a revisar