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23 de março de 2021

O Canalha

Trilogia Trapaceiros de Ravensmuir

Evangeline está determinada a reclamar o tesouro de sua família do notório ladrão, Gawain, nunca esperando que este homem que se diz não ter coração se apaixone por ela.
Gawain não consegue resistir aos desafios de Evangeline ou ao seu fascínio - ele pode consertar seus caminhos a tempo de salvar sua amada e tudo que ela ama?

 

 

Capítulo Um

29 de dezembro de 1371
Somente um tolo cavalga à noite nesses tempos, especialmente com um fardo tão precioso quanto o meu. O céu estava escurecendo quando as paredes sombreadas de um burgo subiram ao longo da estrada. Era York, não longe o suficiente de Ravensmuir em minha opinião, mas a escuridão me deu uma pausa.
Parecia que Ravensmuir respirava às minhas costas. Embora meu irmão estivesse morto, eu o roubei e esperava que seu espectro exigisse alguma compensação horrenda de mim. Embora eu não seja um homem supersticioso, eu preferiria ter toda a Inglaterra e metade do continente entre o cadáver de Merlyn e eu. As sombras ameaçadoras à espreita de ambos os lados fizeram pouco para aliviar minha apreensão.
A chuva começou enquanto eu tentava me lembrar o quão longe eu estava de outro alojamento, quanto mais um que pudesse achar hospitaleiro para o meu gosto. Certamente, não conseguiria chegar a Londres em menos de alguns dias e meu cavalo precisava de um descanso. A noite caiu, engolindo a pouca luz que havia com a pressa do norte que acho tanto surpreendente quanto assustadora.
A chuva começou a cair em rajadas, um tipo grosseiro de clima e para o qual essa terra hostil parece inclinada. Isso tomou minha decisão por mim. Estar seco e frio era muito melhor do que estar molhado e frio. Eu conjurei alguma história de ser um comerciante na estrada para o porteiro complacente e ele me acenou adiante com indiferença.
York é um burgo enlameado, e a sujeira esconde qualquer charme que possa possuir. Suponho que seja grande o bastante e próspero o suficiente para aqueles que escolherem habitá-lo, mas um vislumbre de seu rio agitado, cheio de lamaçal e de suas ruas sujas, densas com outro tipo de lama, e fiquei repelido.
Eu escolhi a taberna simplesmente porque a vi primeiro. Não era melhor e mais limpa do que qualquer um dos outros vizinhos.
O preço exigido era exorbitante, mas eu e o corcel estaríamos protegidos da chuva que agora batia contra as persianas. Cerrei os dentes e paguei, depois cuidei do meu próprio cavalo pois eles pareciam pouco dispostos a oferecer qualquer serviço em troca da minha moeda.
A carne servida aos convidados era musculosa, o molho fino, o pão duro o suficiente para quebrar um dente. O fato de o guisado ter a mesma tonalidade que a sujeira nas ruas fazia pouco para incentivar um homem a limpar sua tigela. Costuma-se dizer que a fome é o melhor molho. Como eu estava quase morrendo de fome, comi a lavagem e pedi mais cerveja para enxaguar o gosto da boca. Cerveja, digo, pois não conheço outra palavra para usar.


 

Trilogia Trapaceiros de Ravensmuir
1 - O Trapaceiro
2 - O Canalha
3 - O Guerreiro
Série concluída

17 de março de 2021

O Trapaceiro

Trilogia Trapaceiros de Ravensmuir

Sedutor e misterioso, Merlyn era o lorde de Ravensmuir - nunca um homem mexeu tanto com meu corpo e alma. 

Eu me entreguei a ele - de bom grado, com confiança, apaixonadamente - e logo nos casamos. Então surgiu uma revelação horrível, destruindo minha inocência e meu casamento...Cinco anos depois, Merlyn voltou à minha porta, desesperado por minha ajuda. O canalha jurou que estava assombrado por lembranças minhas, que um tesouro trancado em Ravensmuir poderia limpar seu nome. No entanto, eu não poderia me render à sua vontade novamente. Agora, ele foi assassinado e Ravensmuir caiu em minhas mãos. Mas, mesmo quando atravesso o limiar desta fortaleza amaldiçoada, ouço seu sussurro na escuridão, sinto sua carícia durante a noite e sei que Merlyn me contou apenas parte de sua história. Devo fazer o que é certo e expor seu covil? Ou ouso confiar no meu cônjuge sedutor, mas enganoso - no ladino que destruiu meu coração?

Capítulo Um

24 de dezembro de 1371
O corvo veio primeiro.
Ele pousou no peitoril da janela na cozinha da esposa do ourives e coaxou tão alto para mim que quase derrubei minha concha no mosto.
—Pássaro miserável! Shoo! Acenei com a mão, mas ele apenas inclinou a cabeça para me encarar com olhos brilhantes. — Saia! Para longe!
Eu sabia tão bem como as outras pessoas da má reputação desses pássaros, mas tinha menos desejo do que a maioria das almas em estar na companhia de uma criatura tão associada à superstição.
Eu tive problemas suficientes mesmo sem ser encontrada na companhia de bebedores de sangue e precursores da morte. A esposa do ourives se livraria de nós de uma vez por todas, se alguém nesta vila sussurrasse que eu mantinha um corvo como familiar. Tais histórias eram todas sem sentido, é claro, mas não ousei arriscar um boato inoportuno.
— Shoo! — Joguei um pano no pássaro, que parecia imperturbável e nem um pouco impressionado com minhas tentativas de afastá-lo. A criatura balançou a cabeça e pareceu rir de mim, sem dúvida desfrutando do meu desconforto.
— Vá embora! — Peguei uma cebola, enquanto o pássaro me observava com seus olhos conhecedores o tempo todo, depois a joguei pela cozinha com todas as minhas forças.
Errei o corvo por pelo menos três palmos, embora a cebola tivesse respingado contra a parede de maneira impressionante. O pássaro gritou e voou, ileso e aparentemente insultado, o que me convinha. Suspirei e esfreguei minha sobrancelha enquanto olhava para a bagunça. Eu não apenas teria que limpar a cebola danificada, mas precisaria explicar à minha benfeitora por que
achava apropriado destruir seus alimentos - sem admitir a presença do corvo, para que suas superstições não fossem alimentadas. Como seria doce não ter necessidade de Fiona, com o rosto afiado e a língua mais afiada!
Aprendi há muito tempo, porém, que não havia nada a ganhar em lamentar as circunstâncias. Mexi o mosto novamente e lutei contra o desejo de resmungar.
Minha cerveja era boa, ouso dizer, a melhor. Mas sem cozinha, panela e cônjuge, a lei decretava que não posso obter uma licença para fabricar cerveja. Há muito tempo que minha cerveja fornecia o pequeno sustento que minha família tinha, então sou obrigada a preparar. Que escolha eu tenho, senão me aliar a essa esposa ou a outra? Então havia Fiona, que não me teria como parceira, se não fosse por ordem de seu marido. Levaria uma mulher mais tola do que eu para não perceber que, apesar de ter feito a maior parte do trabalho, Fiona mantinha a maior parte do rendimento - e uma das nuances menos consciente do que eu, para não notar que mesmo com a aprovação de seu marido e recebimento das moedas, isso ainda não era suficiente para Fiona me aceitar em sua cozinha.
Nós éramos convenientes para o ourives e sua esposa, e foi por isso, não por uma questão de princípio ou dever cristão, que eles nos toleravam. Aprendi a não me surpreender que a caridade seja tão limitada, nem que os princípios possam ser tão facilmente esquecidos.
Uma vez que essa panela enorme era peneirada e aromatizada com minha combinação particular de ervas, eu esperava vendas vivas durante a temporada de férias. A cerveja estragaria daqui vários dias e, enquanto eu trabalhava, preocupei-me novamente por ter feito muito. Não queria correr o risco de desperdiçar ingredientes.

 

Trilogia Trapaceiros de Ravensmuir
1 - O Trapaceiro
2 - Próxima semana
3 - O Guerreiro


12 de maio de 2020

A Balada de Rosamunde

Série As Joias de Kinfairlie

Presa no reino das fadas, Rosamunde só pode ser liberada pelo amor verdadeiro - mas o homem que amava está morto. 

Padraig anseia por ser mais do que um amigo para Rosamund e... se ele declarar o seu amor e ter uma chance no futuro, ele poderá ganhar seu coração para sempre?


Capítulo Um

Galway, Irlanda - abril 1422
A hora era tarde e a taberna estava lotada. Padraig sentou perto da lareira, observando os jogos de sombras que a fogueira lançava sobre os rostos dos homens ali reunidos. A cerveja lançou um zumbido quente dentro dele, o mais próximo que ele gostaria de estar do calor do sol Mediterrâneo novamente.
Ele deveria ter ido para o sul, como Rosamunde tinha insistido que ele fizesse. Ele deveria ter vendido o navio dela e seu conteúdo, como ela o havia instruído. Galway foi tão longe quanto ele tinha conseguido navegar de Kinfairlie - e ele só tinha chegado tão longe porque sua tripulação o tinha obrigado a deixar o local do desastre.
Onde Rosamunde havia se perdido para sempre.
Em vez disso, ele tinha voltado para cá, para o local em que foi educado, ao túmulo de sua mãe e a taberna dirigida por sua irmã e seu marido. Ele tinha um fascínio pelo lugar, com o porto movimentado e as ruas de paralelepípedos, as portas altas e as memórias, mas ele iria trocá-lo num piscar de olhos para uma viagem ao longo dos mares com Rosamunde.
Talvez Galway teria que fazer *Teria que esperar*.
Padraig gostava de música, sempre gostou, e canção foi o único consolo que encontrou na ausência da companhia de Rosamunde. Ele encontrou o seu pé batendo ao ritmo da música enquanto um homem local cantava sobre uma aventura.
—Uma canção! —, Gritou Declan, o guarda – quando uma música divertida chegou ao fim. —Quem mais tem uma música?
—Padraig! —, Gritou a irmã. Ela era uma mulher bonita, embora uma que não tolerava disparates. Padraig suspeita que havia aqueles com mais medo dela do que seu marido. Muito parecida com a mãe deles nesse sentido. —Cante a música triste que você começou na outra noite—, ela suplicou.
—Há outros de melhor voz—, Padraig protestou.
A companhia rugiu um protesto em uníssono, e assim ele concordou. Padraig tomou um gole de cerveja, então ficou de pé para cantar uma balada de sua própria composição.








Série As Joias de Kinfairlie

1 - A Noiva de Kinfarlie
2 - A Rosa de Gelo
3 - A Mulher que Veio da Neve
3.5 - A Balada de Rosamunde
Série concluída




22 de julho de 2011

A Mulher que Veio da Neve

Série As Joias de Kinfairlie
Lady Eleanor aprendeu a ser desejada só por sua fortuna e, quando aceita o matrimônio com Alexander de Kinfairlie, unicamente espera viver segura. 

Mas seu marido a enche de cuidados e volta a despertar nela a paixão, sem preocupar-se com sua riqueza...
Uma riqueza que os inimigos de Eleanor desejam a qualquer preço...


Capítulo Um

Kinfairlie, Escócia
24 de dezembro de 1421

A neve caía rápida, espessa; o céu sem estrelas era mais escuro que o anil. Já havia passado da meia-noite, Eleanor compreendeu que não podia continuar fugindo. A pequena aldeia que se erguia ante ela parecia enviada pelo céu; não havia ali altas muralhas nem portões trancados. Na verdade, ela não achava que houvesse algo tão aprazível em lugar algum da Cristandade, mas mesmo assim a tranquilidade do povoado era sedutora.
Não sabia como se chamava esse lugar; tampouco lhe importava. Assim que viu a igreja decidiu imediatamente que essa aldeia adormecida, com sua serena certeza sobre a bondade do mundo, era o lugar que escolheria para descansar.
A noite não duraria muito mais, pois a escuridão já ia dando lugar à luz da alvorada. Eleanor ignorava aonde iria depois, mas compreendeu que não poderia tomar nenhuma decisão enquanto estivesse tão esgotada.
A porta da igreja não estava fechada com chave; ela suspirou de alivio ao comprovar que seu último temor era infundado. Entrou em suas sombras, que a abraçaram, e deixou que a porta se fechasse pesadamente atrás de si. Aguardou, quase esperando que a ilusão de tranquilidade se fizesse em pedaços, mas aos seus ouvidos só chegava o silêncio. De pé na soleira, inalou profundamente o aroma das velas de cera, o ar de prece e devoção, a aura de todo lugar.
Asilo.
Acima do altar havia só um vidro pequeno; a luz refletida pela neve o atravessava e iluminava o interior nu da capela. Era uma igreja humilde, sem dúvida; notava-a vazia até na penumbra. O altar estava desprovido de cálice e de custódia, prova de que até essa comunidade achava que era preciso guardar tais tesouros sob chave.
Eleanor viu o banco próximo ao altar, possivelmente o que o sacerdote utilizava, e se sentou nele. Detinha-se pela primeira vez depois de passar uma eternidade correndo.
Depois escutou, temendo o pior.
Não se ouvia ruído algum, exceto o forte palpitar de seu coração. Não havia ruído de galopes que a perseguiam. Não ladravam cães que tivessem achado seu rastro. Ninguém gritava para anunciar que tinham descoberto seus rastros.
Essa neve que caía depressa bem podia ser uma bênção, pois não demoraria em ocultar seu trajeto e dissimular seu aroma. Acomodou-se no assento, decidida a esperar o tempo necessário até ter a certeza de que estava a salvo.
Percebeu, uma a uma, as dores de seu corpo exausto; só então percebeu que o frio a tinha apanhado: não sentia a ponta dos dedos; cruzou os braços, com as mãos colocadas sob as axilas. Seu estômago devia estar vazio, mas estava tão cansada que não o notava. Estava sedenta, sem dúvida.
Haviam passado só três dias e três noites desde que tudo mudara irrevogavelmente? Não se atreveu a perguntar-se o que seria dela agora; estava muito cansada para pensar em algo que não fosse o objetivo, quase impossível, de escapar.

Série As Joias de Kinfairlie
1 - A Noiva de Kinfarlie
2 - A Rosa de Gelo
3 - A Mulher que Veio da Neve
4 - a revisar

12 de fevereiro de 2011

O Guerreiro

Trilogia Trapaceiros de Ravensmuir

Depois de uma longa guerra, o cavalheiro Michael Lammergeier luta para recuperar o último reduto do castelo de Inverfyre, feudo de seus antepassados e que foi, em gerações recentes, usurpado pelo clã MacLaren.

 
Ao conhecer Aileen Urquhart, filha do senhor de Abernye, sente uma súbita e misteriosa atração e a rapta.
Pouco a pouco, ambos vão descobrindo que o mero contato físico proporciona visões nas quais ambos econtram-se em épocas passadas, encarnados em pessoas diferentes; assim compreendem que sua história de amor se repetiu, geração após geração, sempre terminando de forma trágica ... Deverão aprender com seus erros, romper a maldição e com isso talvez consigam recuperar Inverfyre.

Prólogo

Inverfyre, Escócia, novembro de 1390
Seu pai tinha razão.Com cada passo que Michael dava para entrar nos bosques da Escócia tornava-se impossível fugir da assombrosa verdade.
Sempre supôs que as lendas da Escócia que contava seu pai gotejavam fantasia e tinham sido fantasiadas por uma nostalgia que sua mãe achava atraente.
Gawain Lammergeier costumava embelezar a verdade, em especial quando suas fábulas provocavam a risada de Evangeline.
Mas todas essas lendas eram verdadeiras.
O território era tão belo que deixava Michael sem fôlego e podia ser de uma crueldade tão desumana como a de uma bela mulher com um coração de pedra.
O que não tinha esperado era o sentimento crescente de que essas terras não pertenciam a este mundo, de que podia estar pisando em domínios fantasmagóricos. Michael sentia-se intranqüilo com esta sensação, já que nunca tinha prestado muita atenção às lendas do país.
Nesta manhã, quando sua companhia despertou, havia geada e todas as árvores estavam cobertas com uma filigrama de prata tão fina como se fosse trabalhada por um exímio artesão.
O céu ostentava um azul tão brilhante que feria a vista, mas as sombras do bosque não cediam seus segredos a ninguém. Michael vigiava
constantemente os arredores à medida que cavalgavam, incapaz de descartar a convicção de que eram observados.
Não por olhos humanos.
Com certeza, não por olhos amigos.
Insistiu que continuassem a marcha e se esforçou para ignorar a sensação opressiva de que o bosque não aprovava sua incursão.
Michael era o sétimo descendente de Magnus Armstrong, o herdeiro de Inverfyre, o guerreiro destinado a cumprir a velha profecia, e além disso o filho do maior ladrão da Cristandade.
A sorte não podia negar o que lhe correspondia.
Isso dizia a si mesmo.
Pelo menos Michael não estava sozinho.


Trilogia Trapaceiros de Ravensmuir
1 - O Trapaceiro
2 - Próxima semana
3 - O Guerreiro

14 de outubro de 2010

Insensatez

Série Rose

Paixão proibida de um nobre por uma linda plebéia!

Filha de um tecelão, Adela Toisserand levava uma vida dedicada ao trabalho. Havia poucas cores na trama de seus sonhos, até o dia em que um rico cavaleiro, enfeitiçado por sua exuberante beleza, jurou conquistá-la...
Roland d'Aalgen tinha a responsabilidade de salvaguardar a honra e a nobreza da família. Mas era impossível resistir aos encantos da maravilhosa Adela — mulher que fazia pouco caso de suas tentativas de sedução e que lhe incendiava o desejo!

Prólogo

Château Fontaine, junho de 1251
Roland estava inquieto e seu estado de espírito nada tinha a ver com as manifestações de dor vindas do segundo andar. Com os cotovelos firmados nas coxas, apoiou o rosto nas mãos e pensou no que faria da vida daí em diante.
Outro grito cortou o ar do salão dessa vez, Roland percebeu que Armand não disfarçava mais a tensão provocada pelo trabalho de parto da mulher.
Apreensivo, o cavaleiro mais velho levantou-se.
Triste, refletiu Roland notando a expressão de simpatia no olhar de Hugues, sentado do outro lado da lareira. Ergueu-se e serviu uma dose generosa de eau-de-vie para o amigo.
— Sem dúvida não pode levar muito tempo mais — comentou Armand ao aceitar a bebida.
— Cada coisa a seu tempo — disse Hugues provocando um ríctus de irritação em Armand.
Este, alarmado com outro grito vindo do segundo andar, olhou para a bebida forte e a ingeriu de uma vez só.
Roland, que esperava alguma reação à eau-de-vie, desapontou-se. A potência da bebida passou despercebida ao amigo.
Trágico. Como um homem forte e corajoso podia ficar desarvorado por causa de um grito de mulher?, indagou-se Roland.
Precisava se precaver e jamais permitir ao coração a oportunidade de colocá-lo em situação semelhante.
— O pior é o fato de eu não poder fazer nada — queixou-se Armand voltando a se sentar diante da lareira.
— Ah, pode, sim. Simplesmente não a toque mais e esse negócio de ter filhos não se repetirá — Roland sugeriu com um sorriso malicioso.
Armand lançou-lhe um olhar furioso e Hugues abafou o riso.
— Foi apenas uma brincadeira — desculpou-se Roland enquanto Armand, pondo-se de pé, começou a andar de um lado para o outro.
— O nascimento das duas outras crianças devia tê-lo deixado mais resistente para enfrentar a situação — Hugues comentou em voz baixa.
Roland concordou com um gesto de cabeça, mas acrescentou:
— Na verdade, ele piorou. Desta vez, está mais aflito.
Se o casamento fazia isso a um homem, poderia viver muito bem sem ele, disse a si mesmo. Armand, que jamais se perturbava diante dos maiores perigos, encontrava-se dominado por um nervosismo sem limites.
— Mulher tola — resmungou o amigo lançando olhares aflitos para Roland e Hugues. — Ela devia ter se contentado com Michel e Eloise. Por que persistiu nessa loucura de ter mais um filho?
Outro grito chegou-lhes aos ouvidos como se a própria Alex desejasse enfatizar as palavras do marido. Empalidecendo, Armand fechou os olhos.
— Continue a andar. Isso lhe acalmará os nervos — recomendou Hugues em voz suave.
Armand reabriu os olhos e fitou-o com expressão estranha. Roland considerou o conselho, com o leve toque de provocação bem humorada, típico de Baudouin. Hugues podia ter dito qualquer outra bobagem.
Péssima hora para lembrar Armand do pai recentemente falecido. Afinal, o pobre estava preocupado com a vida da mulher.
Antes de poder dizer algo que pudesse desviar a atenção do amigo, Sophie apareceu no topo da escada. Desgostoso, Roland percebeu que, a um simples gesto de dedo da curandeira, Armand já galgava os degraus de dois em dois.
Patético. Acomodou-se melhor na cadeira.
Sabia que a inquietação nada tinha a ver com a dedicação do amigo à família. Tentou descobrir a razão exata pela qual tinha desprezado a oportunidade de ser chefe dos soldados ali em Fontaine.
Não se tratava de uma pequena responsabilidade encarregar-se dos guerreiros a serviço de Armand e, por causa de sua pouca idade, não receberia ofertas semelhantes.
Racionalmente, deveria tê-la agarrado com unhas e dentes. Afinal, era o passo acertado para um cavaleiro que ainda não jurara fidelidade a ninguém, além do fato de não ter ele o encargo de gerenciar propriedade alguma.
Hugues pôs-se de pé e Roland seguiu-lhe o olhar até Sophie que continuava no alto da escada.
Sorrindo, ela chamava os dois com o mesmo gesto de dedo feito a Armand um pouco antes. Só então, Roland deu-se conta de que os gritos de Alex tinham cessado.
— Ela quer ver os dois — explicou a curandeira para Roland que continuava sentado.
Ele achava tratar-se de um momento íntimo, familiar.


Série Rose
1 - O Romance da Rosa
2 - A Feiticeira
3 - Insensatez
Série Concluída

A Feiticeira

Série Rose

Uma paixão regida pelo destino!

Certa manhã, ao se deparar com um belo cavaleiro, Sofie Mauclerc o reconheceu: era o homem que sempre aparecia em seus sonhos.
E pelo misterioso poder de que era dotada, Sofie sabia que Alain de Pontesse era mais que a realização de uma fantasia. Era o seu próprio destino!

Capítulo Um

Bordeaux, outubro de 1226.

As brumas rolavam preguiçosamente sobre as colinas. Sofie estremeceu, incapaz de resistir ao fascínio das suaves ondulações a seu redor.
À medida que se aproximava, podia discernir negras silhuetas, cuja existência pressentira antes mesmo de vislumbrá-las ao cair da noite. Como sempre, a névoa as obscurecia. Sofie percebia seus vultos altos e avançava por entre eles cautelosamente.
Mais uma vez, estremeceu. De frio. De medo do que poderia encontrar pela frente.
Mas a curiosidade a impelia a prosseguir.
Tão longe quanto à vista alcançava, a paisagem era sombreada em sutis tons de azul, verde e cinza.
Cores recobertas por um manto de bruma.
Parecia que Sofie não se achava sozinha em sua expectativa: a própria terra dava impressão de reter o fôlego e aguardar por algo.
Algo que aconteceria naquela clareira. Naquela noite.
Ela apurou a audição e escutou as ondas se quebrando na praia ali perto.
Quase pôde sentir o cheiro de sal. Deteve-se quando chegou ao cume, ciente de que se postava no centro de vultos maciços.
O terror apoderou-se dela Tentou refreá-lo desesperadamente. Virou-se devagar, já sabendo com o que se defrontaria.
Não obstante, ficou chocada ao deparar com a misteriosa figura encapuzada que esperava seu sinal. Não houve acenos ou saudações.
Apenas o peso do silêncio.
O olhar de Sofie recaiu sobre os restos de uma fogueira que ardia e voltou a fitar a figura encapuzada, tentando divisar seus olhos.
Crispou as mãos nervosamente quando a figura velada pareceu ganhar vida e deu um passo em sua direção, a silhueta negra recortada contra as últimas chamas douradas da fogueira, sobressaindo na névoa azulada.
O coração de Sofie falhou uma batida. De súbito, constatou que havia ocorrido uma sutil alteração na cena.
A figura que se aproximava era grande, muito grande. Não poderia ser a mulher que imaginara encontrar. Todavia, forçou-se a permanecer onde estava.
O medo crescia em seu peito. Ela procurava a todo custo se controlar e compreender aquela inesperada mudança.
O manto de lã tremulava enquanto o estranho vencia a distância que os separava.
O coração de Sofie disparou.
Mas ela estava petrificada, tão imóvel quanto às formas sombreadas que se elevavam à sua volta. O homem agora se achava a poucos passos, as feições ainda invisíveis sob o pesado capuz.
O desconhecido parou diante dela.
Era alto e tinha ombros largos. Lançou uma sombra fria sobre Sofie, que teve um calafrio mas sustentou o olhar. O momento chegara.
O homem era como as sombras que a rodeavam envoltas na névoa. Gélido, inatingível, enigmático. Gradualmente, porém, Sofie captou o calor que dele emanava. Um calor que contrastava com seus olhos de pedra.
Pela primeira vez, Sofie não teve medo do que poderia acontecer
.


Série Rose
1 - O Romance da Rosa
2 - A Feiticeira
3 - Insensatez
Série Concluída

7 de outubro de 2010

A Rosa de Gelo

Série As Joias de Kinfarlie
Vivienne, uma jovem sonhadora e amante de contos de fadas, é forçada a se casar por dinheiro com um desconhecido cavalheiro, Erik de Blackleith, que precisa de uma esposa para lhe dar um herdeiro nobre para recuperar os seus direitos à herança familiar.

Vivienne, condenada ao papel de mãe, decide lutar com toda sua força para abrir o coração gelado de Erik e realizar seus sonhos de amor.

Capítulo Um

Kinfairlie, costa oriental da Escócia, agosto de 1421
Alexander se felicitava por um assunto bem resolvido.
Embora o matrimônio de Madeline, sua irmã mais velha, não tivesse começado debaixo de bons auspícios, a solução que ele tinha procurado demonstrava ser boa.
Tal como havia predito, Madeline estava casada e feliz, ainda mais contente pelo bebê que já lhe arredondava o ventre.
Embora Alexander não tivesse localizado Rhys FitzHenry mediante os métodos convencionais para formar casais, o homem que comprou em leilão para a mão de sua irmã tinha resultado ser um marido excelente.
Tudo terminava bem e Alexander se outorgava o mérito por este fato tão feliz. Tinha que tomar fôlego como melhor pudesse.
Em Kinfairlie eram poucos os méritos que ele podia atribuir-se; freqüentemente se sentia afligido pela carga dessa propriedade hereditária.
Diante da janela, cravou a vista nos campos da propriedade, carrancudo ao ver o pouco viço de seu verdor.
A colheita era algo melhor do que seu alcaide tinha previsto, mas não o suficiente. Embora Madeline já estivesse casada e seus dois irmãos em treinamento (Malcolm no Ravensmuir e Ross no Inverfyre), havia ainda quatro irmãs solteiras sob a responsabilidade de Alexander.
O alcaide se mostrava firme ao advertir que deviam reduzir o número de bocas à mesa antes que chegasse o inverno.
Os campos lhe ofereciam um revelador aviso. Ainda teria que casar a Vivienne, a segunda depois de Madeline, antes que chegassem as nevascas.
Por desgraça Vivienne estava sendo tão difícil de casar como sua irmã mais velha. Estava bem disposta a tomar marido, mas desejava sentir afeto por ele antes que celebrassem as núpcias.
De fato, queria estar apaixonada.
Alexander tinha a impressão de que ambos tinham visitado todos os homens da Cristandade sem proveito algum. E se ela voltasse para buscar seu olhar para fazer esse imperceptível gesto negativo com a cabeça, ele poderia perfeitamente explodir em um rugido.
Embora tivesse preferido que Vivienne fosse feliz, agosto já vinha em cima. Logo se veria obrigado a intervir no assunto.
Com um suspiro, Alexander sepultou a cabeça nas contas do imóvel, com a esperança de descobrir que as coisas estavam um pouco melhor do que ele pensava. Antes que chegasse a aborrecer-se de comprovar os ganhos, alguém bateu na porta de madeira. Anthony, o velho alcaide de Kinfairlie, entrou na sala e, como o amo demorasse a responder, pigarreou.
— Um cavalheiro deseja vê-lo, milord. Solicita que o receba em privado assim que seja possível.
Alexander se sentiu intrigado, pois era estranho que chegasse alguém a Kinfairlie sem ser convidado, mais ainda que requeresse privacidade.
— Deu seu nome?


Série As Joias de Kinfarlie
1 - A Noiva de Kinfarlie
2 - A Rosa de Gelo
3 - A Mulher que Veio da Neve
4 - a revisar

6 de outubro de 2010

A Noiva de Kinfairlie

Série As Joias de Kinfairlie
Escócia, 1421.

Lady Madeline foge de casa — depois de ter sua mão leiloada contra a sua vontade por seu irmão para que houvesse uma boca a menos a alimentar em Kinfairlie durante o difícil inverno que se aproxima — a fim de não ser obrigada a casar com um homem que sequer vira antes.
Mas o noivo desconhecido a resgata e casamento se realiza.
Rhys FitzHenry é um misterioso cavalheiro galês, atraente, generoso e com talento para contar histórias encantadoras – mas sua cabeça está a prêmio por traição contra a Coroa. Lentamente, Madeline passa a acreditar na inocência de Rhys e entre eles emerge o amor... Um amor que em breve será posto à prova, já que a jovem senhora terá que salvar a vida de seu amado, frente a um antigo inimigo...

Prólogo

Kinfairlie, costa oriental da Escócia, abril de 1422.
Alexander, magnificente Lorde de Kinfairlie, cravou um olhar ardente em sua irmã.
Não houve efeito imediato.
De fato, Madeline brindou—o com um sorriso cativante.
Era uma mulher formosa, de cabelo escuro e olhos azuis; essa combinação de cores fazia sua beleza tão chamativa que os homens costumavam olhá—la com espantada admiração.
Além disso, era absolutamente encantadora e inteligente.
Isso, somado à vintena de homens desejosos de obter a mão dela, não faziam mais que aumentar a irritação do irmão por ela recusar—se a casar.
— Não há motivos para essa cara de aborrecimento, Alexander – disse Madeline, em tom irônico — Minha objeção é razoável.
— Não há nada razoável no fato de uma mulher, aos vinte e três anos, insistir em permanecer solteira — grunhiu ele — Não posso entender o que papai tinha na cabeça, para não tê—la casado decentemente há dez anos.
Os olhos de Madeline cintilaram.
— Papai levava em consideração que eu amava James e me casaria com ele no momento certo.
— James está morto. — replicou Alexander, com mais aspereza do que desejava. Já tinham discutido isso dezenas de vezes e ele estava farto da teimosia da irmã em aceitar o óbvio — Morreu há quase um ano.
A face de Madeline ficou sombria e ela ergueu o queixo.
— Não há nenhuma certeza disso.
— Morreram todos aqueles que participaram do ataque inglês aos franceses em Rougemont. O fato de não haver nenhum sobrevivente para contar como tudo aconteceu não muda as coisas. – Alexander suavizou o tom de voz ao ver que ela afastava o olhar piscando para conter as lágrimas – Ambos teríamos preferido outro destino para James, mas você deve aceitar que ele não retornará.
Alexander notou com alívio que Madeline erguia as costas e o fogo ressurgia nos olhos dela. Era um bom sinal vê—la com ânimo para discutir com ele.
— Compreendo que as feridas do coração demoram a cicatrizar, Madeline, mas o tempo está passando para ti.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Para todos nós, meu irmão. Por que você não se casa primeiro?


Série As Joias de Kinfarlie
1 - A Noiva de Kinfarlie
2 - A Rosa de Gelo
3 - A Mulher que Veio da Neve
4 - a revisar

11 de junho de 2010

O Romance da Rosa

Série Rose
O cavaleiro Armand D'Avigny iria lembrar-se de Alexandria de Fontaine sempre que aspirasse o perfume de rosas.. e levaria para as cruzadas a lembrança da bela jovem que lhe salvou a vida. 
Agora, ao contemplar novamente o rosto encantado jurou que nunca se afastaria do lado de sua doce amada.
O coração de Alexa bateu mais forte ao reconhecer os olhos verdes de seu salvador. Mas, durante a fuga para a liberdade, soube que jamais poderia se entregar ao amor de Armand D'Avigny, porque o transformaria em vítima do inimigo que a estava perseguindo. Enquanto Pierre de Villiers, seu impiedoso raptor, vivesse, Alexa de Fontaine nunca seria 1 mulher livre para amar!

Capítulo Um

Setembro de 1242
Um raio de sol iluminou as pedras cobertas da limo das cavalariças, atraindo um olhar curioso de Armand. Ele continuava a pensar naquela cons¬trução como sendo de seu pai, esquecendo-se sempre que agora todo o feudo pertencia a seu irmão Guillaume.
Armand jamais compreendera a pressa de seu pai em legar todos os bens e o título de senhor de Avigny a Guillaume. Nos últimos três anos, essa decisão demons¬trara ser ainda mais incompreensível.
A pesada porta de madeira fechou-se com um estalido seco mas Armand continuou a escovar seu cavalo apesar de ouvir os passos leves e a risada sensual, característica da cunhada. Ele cerrou os maxilares, controlando o im¬pulso de raiva.
— O que quer de mim agora, Margrethe? — perguntou ele, sem virar para trás.
Ele fora completamente idiota e imprudente ao dis¬pensar o escudeiro a fim de tratar pessoalmente de seu cavalo. Passara três anos aperfeiçoando as táticas ideais para fugir da sensual Margrethe e, aparentemente, ainda tinha muito a aprender.
— Não sei como você pode ter dúvidas a esse respeito, querido...
Armand a viu se aproximar com passos lentos e um sorriso malicioso nos lábios cheios e, irritado por ter sido interrompido, voltou a se concentrar no trabalho, igno¬rando a presença dela. Era uma esperança muito tênue mas talvez sua grosseria ofendesse Margrethe.
Enquanto se aproximava da baia, Margrethe examinou o cunhado da cabeça aos pés e soltou um suspiro de antecipação. Esperava há muito tempo por esse momento e nada a impediria de realizar seu maior desejo.
Os ombros largos e os quadris estreitos de Armand revelavam uma juventude dedicada aos exercícios físicos. Ele era um dos cavaleiros mais famosos do reino e manejava a espada com uma perícia rara. Sem a menor dú¬vida, os dois irmãos não tinham nada em comum e Mar¬grethe desejava com desespero aquele jovem viril que não se deixava conquistar.
Antecipando os prazeres que descobriria sobre a palha dourada das cavalariças naquela tarde, Margrethe avançou, aproximando-se demais do cavalo que Armand con¬tinuava a escovar.
Tiberias relinchou, recuando subitamente. Forçado a se encostar ainda mais de encontro às pedras da baia, Armand praguejou em voz alta. Quantas vezes ele repetira àquela idiota que seu cavalo reagia mal à proximidade de qualquer mulher?
Com gestos deliberadamente lentos, Armand tentou acalmar o animal. Tiberias virou a cabeça e os olhos negros pareciam pedir desculpas ao seu dono.
— Quantas vezes já lhe pedi para manter uma prudente distância de Tiberias, madame? — Armand não disfarçava a raiva e seus olhos verdes brilhavam como esmeraldas na penumbra da cocheira. — Como pode perceber, ele não gosta de mulheres.
— Ora... que tolice...


Série Rose
1 - O Romance de Rosa
2 - A Feiticeira
3 - Insensatez
Série Concluída

18 de julho de 2009

A Mulher Desejada

Série Sayerne
Nada seria como antes na vida daquele homem!

Gabrielle de Perricault não tinha nada a oferecer além de si mesma, mas sua esperança não foi suficiente para seduzir o corajoso Yves de Sant-Roux a aceitar sua causa. Embora a proposta fosse apenas comercial, Gabrielle percebeu que um perigo maior a aguardava, pois aquele cavaleiro poderia ultrapassar a barreira que rodeava seu coração!

Jurado a fugir da mancha de seu nascimento pela valentia de seus feitos, Yves de Sant-Roux evitava qualquer tipo de ligação. 
Então Gabrielle de Perricault, uma mulher com um extremo bom senso e beleza sutil, lhe prometeu algo que ele jamais havia desejado, mas que descobriu não conseguir resistir: um lar, uma família… e ela

Capítulo Um

Condado de Burgundy — Páscoa, 1114
Yves entrou nas abençoadas sombras de sua tenda, ignorando deliberadamente os aplausos da multidão. Cantavam seu nome, mas ele não tinha a menor intenção de voltar para a arena.
Como detestava aqueles torneios!
Yves tirou o elmo e passou a mão nos cabelos úmidos, permitindo que a exaustão do dia tomasse conta de seu corpo. Se não tivesse sido um pedido especial de seu lorde e protetor, nem teria competido aquela tarde.
Os torneios, para Yves, eram uma grande perda de tempo.
Examinou o rasgo na túnica preta que protegia o corpo por cima da cota de malha e ia até o tornozelo. O único ferimento daquela tarde cicatrizaria bem depressa.
— Por Deus, milorde, você esteve ótimo! — O escudeiro de Yves, Gaston, entrou repentinamente na tenda com seu entusiasmo característico.
O garoto tinha um grande sorriso nos lábios, o que tornava sua aparência mais jovem do que seus dezesseis anos. Costumava andar com os cabelos cacheados desgrenhados, o manto amassado e com algumas manchas de comida na túnica. Não era nada apropriado para o escudeiro do próprio representante do conde, o único sobrinho, andar nesse estado.
Será que Yves conseguiria torná-lo um cavaleiro? Mesmo depois de um ano juntos, tudo que ensinava ao garoto parecia não encontrar eco naquela cabecinha-de-vento.
— Língua — falou Yves, escolhendo um dentre vários assuntos.
O avermelhar das orelhas de Gaston indicava a lembrança do garoto da última aula. Seu sorriso sumiu quando pegou o elmo do mestre sem o cuidado com que Yves gostaria.
— É apenas uma expressão — argumentou ele.
Yves franziu as sobrancelhas.
— É blasfêmia. — Ele voltou à atenção para sua cota de malha. — Como já discutimos antes.
Gaston ficou sério e foi até o lado do cavaleiro. Tinha uma expressão desafiadora, mas foi rápido ao desembainhar a espada do cavaleiro.
— Todos os escudeiros o dizem — insistiu ele.
— E se todos os escudeiros decidissem ser ladrões, você se uniria a eles? — perguntou Yves.
O jovem o olhou com rebeldia, como seja suspeitasse que perderia a discussão.
— Não. De jeito nenhum.
— Mas o sacerdote do Château Montclair não lhe ensinou que não se deve blasfemar? — Não se notava irritação no tom de voz de Yves na referência à propriedade natal de Gaston, pois aprendera havia muito que não existia lugar para emoções na vida de um homem sensato.
O rosto do jovem ficou vermelho, e ele não conseguiu mais sustentar o olhar do cavaleiro.
— Não é a mesma coisa — protestou sem muita convicção.
Yves ficou contente ao perceber que Gaston pelo menos sabia reconhecer quando não tinha razão.
— Um cavaleiro deve ser honrado em tudo que diz e faz — aconselhou Yves em voz baixa.
Gaston concordou balançando a cabeça e colocou de lado a espada do mestre com mais cuidado do que o normal.


Série Sayerne
1 - Sortilégio de Amor
2 - A Esposa Encantada
3 - A Mulher Desejada
Série Concluída

A Esposa Encantada

Série Sayerne
Era o dia de seu casamento, e ela nem conhecia o noivo!

Europa, 1102.
Ao ser tomada nos braços do imponente cavaleiro com quem fora obrigada a se casar, lady Melissa d’Annossy sentiu que não seria capaz de cumprir o juramento de jamais partilhar seu leito com ele…Intrépido e sedutor, Quinn de Sayerne a fez conhecer o excitante e perigoso mundo da paixão!

Capítulo Um

Fevereiro de 1102.
Quinn de Sayerne finalmente chegara a seu lar.
Suspirou com satisfação, enquanto seu olhar vagava pela silhueta ondulante das altas montanhas. A paisagem permanecera gravada em seu espírito, mas o fato de poder rever aquelas montanhas diante de si era uma dádiva. Lar. Doce lar.
Quinn esperara vinte anos para retornar. Agora que o momento do regresso enfim se apresentava, seu coração batia descompassado, na expectativa de pisar o solo de Sayerne.
Aquele era um momento de indescritível alegria. Não permitiria que nada no mundo o maculasse.
Avançou pela neve, abrindo caminho para seus companheiros, ali, onde se lembrava de haver a estrada.
Nenhuma coluna de fumaça erguia-se do castelo quando, ao vencer a última elevação do relevo, ele o avistou. Quinn só tinha olhos para seu lar.
- Lá está! - gritou para os companheiros.
Quando nenhum deles respondeu, Quinn relanceou-os por sobre o ombro para se deparar com semblantes menos jubilosos que o seu.
Bayard pareceu-lhe mais dubitativo que de costume, mas nem seu ar incerto diminuiu o entusiasmo de Quinn.
Ele estava em casa. Sempre temera que o pai, de algum modo, acabasse negando-lhe seu legado. Seria bastante conveniente para o velho homem.
Porém, a Dama da Fortuna sorrira para Quinn. Após todos aqueles anos, a bem-amada Sayerne, afinal, pertencia-lhe.
Incitou o cavalo à frente, recusando-se a observar que o rio na aldeia fora dos muros do castelo havia se congelado.
A roda do moinho estava coberta por uma pesada crosta de gelo.
Quinn ignorou o sinal de evidente negligência, dizendo a si mesmo que a terra devia estar sendo bem administrada e que todo o trigo já teria sido convertido em farinha.
Era uma mentira, e ele sabia disso.
Contudo, não podia abandonar as felizes recordações que guardava daquele lugar.
Até então, Sayerne fora um sonho que lhe reavivava o espírito, a pedra de toque que talvez nunca tornasse a ver.


Série Sayerne
1 - Sortilégio de Amor
2 - A Esposa Encantada
3 - A Mulher Desejada
Série Concluída

Sortilégio de Amor

Série Sayerne
Uma poderosa magia impregnava o ar!

França, 1101.
Vítima de um terrível encantamento, o cavaleiro Rolfe de Viandim só podia ser salvo pelo amor da primeira mulher que entrasse em seu castelo. 
Mas, quando apareceu a bela Annelise de Sayerne, Rolfe se recusou a revelar seu se-gredo, embora tivesse conseguido conquistar-lhe o coração...

Capítulo Um

Rolfe sentiu um frio como jamais havia sentido na vida.
O vento penetrava pela pesada capa, deixando-o com os dedos trêmulos e o corpo tenso. Enquanto cavalgava ele tremia, lembrando-se de que o inverno estava apenas começando.
Muito certamente os seis anos passados sob o sol da Terra Santa o haviam deixado com o sangue muito fino.
Lobos uivavam ali perto, bem mais perto do que ele gostaria.
Havia se esquecido de que, durante o inverno, uma floresta como a que o cercava podia ser fria demais, além de provocar aquela sensação de isolamento.
Os galhos desfolhados das árvores desenhavam estranhas formas contra o céu escuro. Poucas folhas verdes se espalhavam pelo chão, aparentemente resmungando entre si contra os intrusos indesejáveis.
Além dos lobos, nenhuma criatura viva se manifestava.
Nenhuma ave cantava.
Rolfe encolheu-se por baixo da capa. Não era dado a tirar conclusões fantasiosas, mas a sensação que tinha era de que a floresta não estava muito disposta a lhe dar passagem.
Talvez nem fosse boa idéia buscar um atalho na direção da estrada, porque dificilmente haveria uma estalagem decente nas proximidades.
Então ele pensou na casa onde havia nascido e crescido, o Castelo Viandin, sabendo que para chegar lá ainda teria que cavalgar durante uma semana inteira.
O irmão mais velho dele, Adalbert, àquela altura devia se sentir muito à vontade na posição de lorde de Viandin.
Rolfe permitiu-se ter esperanças de que Adalbert se mostraria disposto a fazer um favor a ele.
Evidentemente, como irmão mais novo, Rolfe não tinha direito a nenhum dos bens da família, mas o fato de ter servido as Cruzadas em nome da família tinha que fazê-lo merecedor de alguma coisa. Seis anos tinham sido um preço muito alto a pagar.
Agora ele queria alguma coisa de que pudesse se sentir dono.


Série Sayerne
1 - Sortilégio de Amor
2 - A Esposa Encantada
3 - A Mulher Desejada
Série Concluída