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4 de julho de 2018

A Noiva Solteirona

Série Lordes e Ladys
Mr. Charles Norris precisa de ajuda para encontrar uma esposa…
Pois ele tem o hábito lamentável de se apaixonar pela mais bela debutante de cada temporada, apenas para ter seu coração partido quando ela se casa com outro. Certamente que Lady Marjorie Penwhistle o pode ajudar. Ela é sensata, inteligente, conhece a sociedade e deve casar com um lorde, coisa que ele não é. 
Já que se encontra decididamente fora de seu alcance, Charles é livre de desfrutar de sua honestidade refrescante e seus inesperadamente atraentes beijos…
Lady Marjorie Penwhistle não quer um marido…
Pelo menos não quer pretendentes com títulos, mas insuportáveis que sua mãe está determinada que ela case. Preferiria ficar solteira e cuidar de seu irmão excêntrico. Contudo, aconselhar Mr. Norris é uma excitante diversão secreta. Depois de tudo, quão difícil será encontrar um par para alguém tão justo, honorável e completamente lindo? Não é como se estivesse em perigo de ela própria achar Charles demasiado irresistível…

Capítulo Um

Marjorie Penwhistle chegou à alarmante realização, no dia cinco de maio no ano de nosso Senhor de mil oitocentos e setenta e quatro, que estava destinada a ser uma solteirona. Que já era, de fato, uma solteirona.
Tinha sido negligenciada.
Enquanto estava no salão de dança ao lado de sua mãe, reparou em um fenômeno estranho. Todos os jovens cisnes que costumavam estar à sua volta estavam agora em volta de Miss Lavínia Crawford. Marjorie era, pelos padrões da sociedade londrina, bastante velha para não estar casada. Aos vinte e três anos (e muito próxima dos vinte e quatro), ela ainda continuava adorável, claro, mas existiam outras mulheres mais adoráveis (e mais jovens), frescas para o mercado de casamento, cheias de riso e vida, enquanto Marjorie tinha que admitir que estava… cansada.
― Miss Crawford parece estar atraindo uma multidão. ― Disse para sua mãe.
Um olhar disse a Marjorie que sua mãe tinha reparado no mesmo.
Com olhos estreitos, Dorothea Penwhistle, Lady Summerfield disse:
― Pararão de andar atrás dela quando ela abrir a boca para falar. Nunca ouvi um som tão agudo saindo da boca de uma jovem lady.
Marjorie riu baixinho e sua mãe pareceu satisfeita com sua reação. Miss Crawford tinha, de fato, uma voz normalmente encontrada em uma criança de dez anos, mas, apesar do comentário de sua mãe, os jovens cavalheiros a seu lado não pareciam incomodados com isso. Marjorie pressionou seus lábios juntos, recebendo um olhar agudo de sua mãe. Forçou- se a relaxar a boca, tornando em um sorriso agradável destinado a transmitir confiança e charme feminino. Era um sorriso que tinha praticado em frente do espelho um grande número de vezes, com sua mãe ao seu lado oferecendo sugestões.
Marjorie tinha sido um produto bastante milagroso de duas pessoas extremamente simples. Seu pai há muito morto (alguns disseram que sua mãe o tinha matado com um de olhares letais) tinha sido baixo, gordo, e estava perdendo seu cabelo, com um nariz batatudo e grosso e lábios carnudos. Sua única característica agradável, os olhos profundos cinzentos rodeados de azul, tinham sido herdados por Marjorie. Dorothea tinha sido seu par perfeito, uma mulher forte e de queixo quadrado com cabelo cinzento de ferro (mesmo em seus vinte e poucos anos) e pequenos olhos castanhos dominados por sobrancelhas fortes e grossas que precisavam de ser aparadas uma vez por semana.
Marjorie era ligeiramente maior que seu pai e sua mãe e tinha sido abençoada com um rosto adorável, caracóis negros e grossos, uma figura feminina que, até aquela temporada, tinha atraído um grande enxame de pretendentes. Sabia que sua falta de namorados podia ter tanto a ver com sua idade como com o fato de que tinha rejeitado quase todos os que se aproximaram dela.
 A mina de homens adequados estava diminuindo rapidamente não só por sua exigência, mas também devido à exigência de sua mãe de que ela se cassasse apenas com um lorde. Era bem conhecido entre a alta sociedade que, a menos que tivesse um título importante (um mero barão nunca serviria, pelo menos não nesta altura) ninguém se aproximava de Lady Marjorie Penwhistle, nem com um simples convite para dançar. Se Marjorie fosse honesta, ela teria desfrutado de sua reputação perspicaz nos primeiros dois anos de sua estreia, mas estava cansada disso agora. Perguntou- se se sua mãe estava sequer consciente de que Marjorie já mão era mais a bela da temporada.
― Ela se parece com um delicado canário rodeado de gatos famintos. ― Marjorie comentou sobre Lavínia no ouvido de sua mãe, ganhando um sorriso dela.
Era fácil agradar a sua mãe. Marjorie precisava apenas respirar para fazer sua mãe feliz. Sabia que sua mãe acreditava que Marjorie era o produto de seu próprio trabalho árduo, uma peça de arte a exibir orgulhosamente. Marjorie amava muito sua mãe, mas muitas vezes se encontrava não gostando dela. O peso de ser sempre s filha boa, bonita, encantadora e especial se tornava cansativo. Se ela era a criança de ouro, seu pobre irmão George era o pária. George, com todas suas maravilhosas imperfeições, embaraçava amargamente a sua mãe. Doce George, que não possuía um único osso mau em seu corpo magro, era o objeto do desprezo de Lady Summerfield. E, portanto, por muito que Marjorie amasse sua mãe, não gostava dela, também. Não gostava do modo com tratava seu amado irmão, da forma como seus olhos ficam frios sempre que ele entra numa sala.
Algo estava errado com o jovem sentado à sua frente na mesa de cartas, mas Charles não conseguida identificar o quê. Era mais do que seu cabelo horrivelmente vermelho e indisciplinado ou a forma estranhamente intensa com que olhava para suas cartas. 
O jovem rapaz, que não poderia ter mais de vinte anos, continuava perdendo, principalmente para ele. E, contudo, sua expressão nunca se alterava, mesmo quando seu amigo muito mais velho perdeu. Ele não suava nem praguejava. Não se envolvia em nenhuma das provocações que os outros trocavam depois de uma mão desastrosa, o tipo de troca verbal que tinha a intenção de anunciar aos outros que perder quinhentas libras em uma única jogada era apenas uma gota no balde. Parecia como se não se importasse realmente se ganhava ou perdia.
E Charles ainda tinha que conhecer um homem que realmente não se importe.
Jogada após jogada, o jovem olhava para a mesa ou para suas cartas quando lhe eram dadas. Ele jogava mal, principalmente porque nunca olhava à sua volta, não se preocupava em tentar ver se seus companheiros estavam telegrafando o tipo de cartas que possuíam. 
Sir Robert, por exemplo, puxaria de suas sobrancelhas por domar quando tinha uma mão particularmente pobre e se sentaria direito quando tinha uma mão muito boa. Lorde Hefford limparia sua garganta quando estava um pouco excitado sobre sua mão: Lorde Pendergast se iria desleixar. E o amigo do jovem (não se recordava do nome apesar de terem sido apresentados) puxava por seu colarinho quando sua mão era particularmente má. 
Seus tiques nervosos eram fáceis de perceber se alguém estivesse realmente observando.Mas o jovem não tinha tiques, pois sua expressão nunca variava. Charles sabia disso porque olhou para o jovem jogada após jogada, observou seus olhos passarem por suas cartas. Ele sabia como jogar, isso era certo. 
Apostava bem quando tinha uma mão para apostar. Mas, porque não olhava a seu redor, não tinha ideia do que os outros homens tinham. E foi assim que Charles ganhou, jogada após jogada, até que o jovem percebeu, muito para sua surpresa aparentemente, que tinha entrado em uma dívida de quase vinte e cinco mil libras. Era uma soma enorme. 
Uma soma devastadora. E, contudo…